Instituições de saúde dos EUA lutam por mais confiança das minorias

11 de Abril 2021

A confiança das comunidades latinas ou negras na ciência e medicina nos Estados Unidos da América tem de ser alimentada com iniciativas e programas de envolvimento da população, defende o diretor do Instituto de Saúde das Minorias.

Eliseo Pérez-Stable, diretor da instituição que se dedica ao estudo das disparidades na saúde dos grupos populacionais minoritários da agência de saúde National Institutes of Health (NIH), acredita que existiu sempre um “conflito” na relação das minorias com a ciência e o governo.

Uma participação maior e melhorada das comunidades minoritárias – sejam latinas, hispânicas, indígenas ou negras – na ciência e vacinação contra a covid-19 depende de “mensageiros de confiança” e só será conseguida com a apresentação e envolvimento de “modelos e exemplos reais”, defende Eliseo Pérez-Stable.

O cientista e investigador disse, numa conferência a que a Lusa assistiu, que estes modelos ou mensageiros têm de ser membros de cada comunidade, líderes, empresários, profissionais de saúde, padres ou de outras ocupações, para mobilizar o interesse e a participação dos cidadãos na vacinação e ajudar a ultrapassar o medo e desconfiança generalizada.

Segundo o especialista, cerca de 50% de todos os casos de infeção e 45% da mortalidade por covid-19 nos EUA ocorreu em comunidades latinas, indígenas, nativas do Alasca ou afro-americanas, apesar de representarem, no total, apenas um terço da população norte-americana.

“Há cerca de um ano observou-se que havia uma carga desproporcional em comunidades afro-americanas, indígenas, hispânicas e latinas nos Estados Unidos. Ao longo dos últimos 13 meses, o padrão não mudou”, disse Eliseo Pérez-Stable.

O antigo professor de medicina na Universidade de São Francisco, Califórnia, acrescentou que a pandemia “foi mais uma oportunidade de gerar o caos” nas comunidades e disse que a esperança média de vida para grupos populacionais latinos e negros ter-se-á reduzido em cerca de dois anos devido à doença covid-19.

Segundo o especialista, a hesitação e desconfiança das minorias nos tratamentos médicos tem “custos” que se medem pelos casos excessivos de doença, excedentes de hospitalizações e pela elevada taxa de mortalidade, que têm grande impacto económico e emocional em toda a sociedade.

Para o médico, a desproporção com que a covid-19 atingiu as minorias explica-se com “desigualdades sistémicas” que existem há décadas e que não foram significativamente levadas em consideração.

Existiu sempre um “conflito” entre as minorias, a ciência e o governo, acredita o investigador, pela forma como as preocupações das comunidades não são realmente ouvidas, não são encaradas com seriedade e são, muitas vezes, ignoradas.

As condições de vida e a forma como os agregados familiares se mantêm juntos em casa com muitas pessoas, ou em trabalhos com menos distanciamento social e impossíveis de praticar o teletrabalho também aumentam a possibilidade de contaminação pelo novo coronavírus nas minorias.

Em muitos casos acresce também a impossibilidade de acesso a tratamentos médicos por falta de seguros, o que nos Estados Unidos torna os preços para a saúde exorbitantes.

O responsável disse que o NIH “focou-se muito na pesquisa, comportamentos sociais e consequências económicas da pandemia” e, com ajuda financeira adicional do Congresso norte-americano, promoveu quase 70 projetos para despistagem e prevenção da covid-19 em “comunidades carentes e vulneráveis”, com o programa RADx-UP.

Uma outra iniciativa, chamada Aliança de Engajamento da Comunidade (CEAL, na sigla em inglês) contra disparidades da covid-19, foi criada com vista a aumentar a participação das minorias em ensaios clínicos patrocinados pelo governo e companhias farmacêuticas.

“Montámos uma estrutura para impulsionar os nossos pesquisadores em comunidades, que financiamos há muitos anos, a desenvolver redes nos seus Estados, para divulgar informação adequada, combater a desinformação e promover a confiança na ciência”, explicou o diretor do Instituto Nacional de Saúde das Minorias.

A desinformação, aliás, é outro dos “males”: “temos de promover a confiança na ciência, porque esta campanha de desinformação tem sido inacreditável”, na opinião do especialista.

“Nos últimos quatro meses, os EUA imunizaram bem mais de 100 milhões de pessoas, o que é um esforço sem precedentes em saúde pública, mas vemos desigualdade na distribuição”, considerou Eliseo Pérez-Stable, acredita que os grupos minoritários vão poder cimentar a confiança nas vacinas consoante a distribuição for facilitada e acelerada.

A pandemia de covid-19 provocou, mais de 2,9 milhões de mortes no mundo, resultantes de mais de 133,9 milhões de casos de infeção, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

Os Estados Unidos são o país mais afetado, tendo registado mais de 560 mil mortes, em mais de 31 milhões de casos de infeção.

LUSA/HN

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