Os dados do Barómetro Covid-19 sobre as perceções sociais da doença foram divulgados pela investigadora e diretora da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa na reunião no Infarmed, em Lisboa, para analisar a situação epidemiológica do país, que junta especialistas, o Governo, o Presidente da República.
“Em relação ao comportamento e como também já foi identificado noutras análises no último mês observa-se uma alteração de comportamentos nos quatro indicadores que nós temos mensurado”, disse a investigadora salientando que, entre 19 de março a 02 de abril, o número de pessoas que respondeu ter estado num grupo de 10 ou mais pessoas subiu de 4,9% para 7,5%.
Para 33,3% dos inquiridos, foi também difícil ou muito difícil ficar em casa, mais 5,6% que na última quinzena.
As pessoas também reportaram maior dificuldade de adoção de medidas de proteção contra a Covid-19, com 41,5% dos inquiridos a dizer ser “difícil” ou “muito difícil” evitar visitar amigos e familiares, mais 7,1% relativamente à quinzena anterior.
Os valores reportados acerca da utilização da máscara sofreram também um aumento no mesmo período, com 14,5% a apontar “dificuldade” ou “muita dificuldade” na adoção desta medida, mais 7% face ao período homólogo.
Carla Nunes destacou também o aumento de 7,7% das pessoas que afirma ter sido “difícil” ou “muito difícil” manter o teletrabalho, situando-se nos 42,4%.
“Embora estes dados não revelem alterações drásticas no padrão de resposta, sugerem, ainda assim, uma maior dificuldade dos respondentes em manter a adoção de medidas de proteção num período em que estas são particularmente importantes, já que estarão a aumentar os contactos e as circunstâncias em que estão em risco”, referem os investigadores.
No que se refere à perceção de segurança e eficácia das vacinas, os resultados não revelam alterações substanciais no padrão de resposta.
Segundo Carla Nunes, a 05 de março, 91% das pessoas afirmavam-se “confiante ou muito confiantes” em relação à segurança e à eficácia da vacina.
Apesar de os resultados não demonstrarem evidência de impacto para o plano de vacinação, os investigadores alertam para o aumento da percentagem de pessoas, de 1,7% para 7,8%, que diz que não tomará a vacina, aproximando-se de valores apenas encontrados em outubro de 2020, quando a informação acerca das vacinas era muito inferior.
Trata-se de pessoas mais jovens, que perderam parte ou a totalidade do seu rendimento, não tomavam vacina da gripe, mostram baixa confiança nos serviços de saúde e nas medidas e consideram a informação das autoridades de saúde pouco clara e inconsistente.
Para os investigadores, é importante desenhar intervenções de comunicação que vão ao encontro deste perfil.
Carla Nunes salientou também que cerca de 10% dos inquiridos está ainda hesitante quanto à toma da vacina, para os quais também é importante disponibilizar intervenções que respondam às suas necessidades e preocupações.
“Em relação à saúde, e nos dois indicadores que temos medido, a perceção do estado de saúde e a frequência com que se tem sentido agitada, ansiosa, em baixo ou triste devido às medidas de distanciamento físico, mantêm-se os padrões recentes, com pequenas oscilações, mas sem tendências relevantes”, afirmou.
Assim, adiantou, “continuamos com um em cada quatro portugueses a dizer que se tem sentido agitado, ansioso, triste devido ao distanciamento social e com quase um em cada dois a identificar o seu estado de saúde como mau, muito mau, razoável”.
A confiança dos serviços de saúde também não teve alterações, continuando com valores de “pouco ou nada confiante” na ordem dos 22,2% em relação à Covid-19 e de 51,7% em relação às outras doenças.
Em relação à perceção das medidas do Governo também não houve alterações com 31,7% a considerar “pouco ou nada adequadas”.
LUSA/HN
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