Estirpe detetada na Índia preocupa vários países pelo seu nível de contágio

22 de Abril 2021

A estirpe de Covid-19 detetada na Índia está a degradar rapidamente a situação sanitária naquele país e a provocar preocupação em vários países, que temem que possa ser mais contagiosa e resistente às vacinas.

Esta variante, designada como B.1.617, foi detetada em outubro, no oeste da Índia, e é qualificada como um “mutante duplo” porque é constituída por duas mutações do vírus Sars-CoV-2.

A primeira, a E484Q, é parecida com a que já tinha sido observada nas variantes detetadas na África do Sul e no Brasil (E484K) e suspeita de causar menor eficácia da vacinação e maior risco de reinfecção.

A segunda, a L452R, também está presente numa variante encontrada na Califórnia, Estados Unidos, e pode causar aumento da transmissão da infeção.

Esta é a primeira vez que estas características foram encontradas juntas numa variante com difusão significativa.

Estas características levantam preocupações de que a nova estirpe seja mais “resistente” às vacinas atuais contra a Covid-19, desenvolvidas para reconhecer a proteína ‘spike’ presente nas outras variantes do coronavírus.

Outra preocupação levantada pela nova estirpe é que se trate de uma variante mais contagiosa, o que explicaria o aumento do número de infetados numa altura em que muitos países tentam conter uma segunda ou terceira vagas da pandemia.

A situação na Índia, que enfrenta uma explosão de contaminações e mortes depois de ter conseguido, até há pouco tempo, manter o impacto da pandemia num nível mínimo, constitui uma preocupação crescente para muitos países.

O Reino Unido restringiu na segunda-feira os voos com origem naquele país apenas aos seus residentes, após a confirmação de 103 casos da variante “indiana” no seu território, e a França acrescentou ontem a Índia à lista de países cujos viajantes estão sujeitos a quarentena obrigatória.

Os responsáveis do setor de Saúde lembram, no entanto, que não se provou ainda que esta variante seja mais contagiosa do que as já conhecidas.

“A mutação 484 pode ser parcialmente responsável pela falha imunológica, mas não a explica por si só. Tem que ser eventualmente associada a outras mutações que não detetámos nesta variante” encontrada na Índia, afirmou ontem o virologista Bruno Lina à rádio France Inter.

“Acho que daqui a uma ou duas semanas teremos uma estimativa mais quantitativa da reação da variante (vírus) à vacina”, adiantou Rakesh Mishra, do Centro de Biologia Celular e Molecular da cidade de Hyderabad.

“Nesta fase, (…) não foi estabelecida nenhuma ligação entre o aparecimento desta variante e a recente deterioração da situação epidemiológica” na Índia, sublinhou também a agência de saúde pública francesa Santé France, na sua última análise de risco relacionada com variantes emergentes, publicadas em 08 de abril.

“É provável que esta deterioração da situação sanitária se deva, pelo menos em grande parte, aos inúmeros grandes aglomerados que têm ocorrido recentemente em todo o país e à diminuta adoção de medidas preventivas por parte da população em geral”, acrescentou.

De acordo com o Miistério da Saúde da Índia, vários meses após a sua descoberta, esta variante está longe de se impor face às outras, em particular a variante detetada inicialmente no Reino Unido, mesmo no estado onde surgiu (Maharastra), onde representava, em março, apenas 15% a 20% das amostras sequenciadas.

A Índia anunciou ontem mais de dois mil mortos com Covid-19 e quase 300 mil casos em 24 horas, um recorde nacional e um dos mais altos números diários do mundo desde o início da pandemia.

O Ministério da Saúde assinalou 2.023 óbitos e 295 mil novos casos, elevando o total de mortes para 182.553 e de infetados para 15,6 milhões.

LUSA/HN

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