“A Igreja vai ser diferente, não voltamos a ser nem a mesma sociedade, nem tão-pouco a mesma Igreja”, admite o padre Jorge da Silva Santos, pároco em São José e São João Baptista, na cidade de Coimbra, e também vigário episcopal para a pastoral da diocese.
O sacerdote não tem dúvidas de que a pandemia vai transformar a vida da Igreja e considera que a alternativa ‘online’ trouxe alguns benefícios.
“Há resultados que superaram o presencial”, reconhece Jorge da Silva Santos, exemplificando com o último retiro quaresmal virtual que reuniu cerca de 150 participantes em vez das habituais duas dezenas.
A tecnologia também tomou conta das suas paróquias. Instalou câmaras, reuniu uma equipa de técnicos e garantiu a transmissão ‘online’ das celebrações.
O padre reconhece que foi necessário adaptar-se, destacando a importância do trabalho de equipa.
“Conseguimos um bom resultado graças à entrega daqueles que sabiam lidar com a tecnologia. Sozinhos não teria sido possível”, observa.
Assim que as celebrações com a presença de fiéis foram retomadas, “muita gente quis voltar”, adianta, lamentando, contudo, que, no caso da Igreja de São José, esta apenas possa receber menos de um terço dos fiéis.
“Há muita gente que não vem porque sabe que pode não ter lugar”, refere, explicando que o espaço do templo foi alargado para o exterior para permitir mais fiéis.
Jorge da Silva Santos admite que “aqueles que têm uma fé menos arraigada, menos profunda, porventura não voltaram”.
Para o padre Manuel Martins, de 80 anos, não foi preciso uma pandemia para ver na internet uma oportunidade.
“Estive sempre na frente com a minha preparação em informática”, afirma à agência Lusa, orgulhoso de, logo na década de 1990, ter investido na internet.
Quase a completar 55 anos de sacerdócio, Manuel Martins, colaborador nas unidades pastorais de Góis e Poiares, no distrito de Coimbra, explica que, face à impossibilidade de participação presencial dos fiéis devido à pandemia, uma grande parte dos padres encontrou na internet uma forma de celebrar a fé.
“A resposta da Igreja foi marcada, essencialmente, por franco-atiradores, por experiências aqui e acolá. Foram criativos ao ponto de chegar às pessoas”, declara, para assinalar a satisfação de ver que chegavam aos fiéis.
“Não foi um processo fácil”, assume quem estava habituado a partilhar vídeos gravados e se viu obrigado a aprender a lidar com as transmissões em direto.
Aventurou-se e estreou-se no direto com a ajuda de uma equipa muito reduzida. “A transmissão chegou a ser assegurada apenas por mim e pela minha empregada”, salienta.
Assumindo que “a internet já era utilizada pela Igreja”, o sacerdote sustenta que “a pandemia veio dar força e fez descobrir este rasgo para mais facilmente levar a fé às pessoas”.
Por outro lado, a ausência de fiéis motivou perda de receitas.
Segundo o padre Manuel Martins, “as igrejas estão decapitadas economicamente” e cita o seu exemplo, para notar que abdicou parcialmente do seu vencimento.
“No primeiro confinamento não recebi a totalidade do meu ordenado, só uma pequena parte”, diz.
A pandemia de Covid-19 obrigou a Conferência Episcopal Portuguesa (CEP) a suspender a participação dos fiéis nas missas, catequeses e outras atividades pastorais.
Segundo o secretário da CEP, padre Manuel Barbosa, esta decisão “refletiu o contributo moral que era necessário da parte da Igreja para que esta fosse parte da solução para o problema”.
Manuel Barbosa reconhece também a importância que teve a internet durante o período mais difícil da pandemia, mas descarta a substituição das missas virtuais pelas presenciais.
“A Igreja só faz sentido se for presencial”, concluiu.
LUSA/HN
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