“Cerca de dois terços dos inquiridos declararam não ter tido trabalhado nos sete dias anteriores ao inquérito” e destes “entre 12% e 17% – cerca de um sétimo – declararam ter trabalhado antes da [declaração de pandemia de] covid-19”, lê-se no relatório do Inquérito Sobre o Impacto da Covid-19 nos Agregados Familiares Urbanos em Moçambique.
Os dados estão alinhados com os resultados “de um inquérito às empresas realizado durante o mesmo período [pelo Banco Mundial], que relata impactos negativos significativos”, especialmente nas pequenas empresas – uma redução de 40% nas vendas em comparação com o ano anterior, calculando-se que 30% das empresas tenham encerrado permanentemente.
Neste contexto, ao nível das consequências, o inquérito aponta a “insegurança alimentar” como “uma grande preocupação para a maioria dos agregados familiares urbanos”.
Logo na primeira ronda do inquérito, em junho, “76% dos agregados familiares disseram estar preocupados por não terem comida suficiente, 60% declararam ter-lhes faltado uma refeição”.
Questionados sobre formas mais graves de insegurança alimentar, as respostas revelaram que “54% tiveram fome, mas não comeram e 37% dos agregados familiares ficaram sem comer durante um dia inteiro”.
Ao longo das rondas do inquérito, até novembro, a percentagem de inquiridos que relataram as formas mais graves de insegurança alimentar baixou ligeiramente, de acordo com os gráficos do relatório – mas aqueles que “não comeram durante um dia inteiro” ficaram sempre acima dos 20% e os restante acima de 40%.
“Isto demonstra que muitos agregados familiares são vulneráveis à redução de rendimento, o que tem um impacto direto na segurança alimentar e no bem-estar. Não sabemos, contudo, o impacto específico do confinamento [para prevenir a Covid-19], uma vez que não dispomos de um valor de referência pré-covid”, nota o relatório.
As fontes de rendimento das famílias mudaram: a preponderância da produção agrícola, pecuária e de pesca cresceu, mesmo tratando-se de agregados familiares urbanos, destaca-se no relatório.
“Enquanto no mês de junho 40% dos agregados familiares declararam a agricultura como fonte de rendimento, no final de novembro a percentagem foi de 50%”, detalham o INE e BM.
No entanto, “para a grande maioria, o nível de rendimento da agricultura diminuiu” – ou seja, apesar de o sector agrícola poder ter absorvido alguma mão-de-obra, “os rendimentos não têm sido equivalentes e muitos agregados familiares nas áreas urbanas continuam a sofrer de níveis de rendimento inferiores aos pré-pandémicos”.
O inquérito foi baseado em entrevistas telefónicas a representantes de 1.185 agregados familiares (5.938 indivíduos) entre junho e novembro de 2020, representativos das áreas urbanas das 11 províncias de Moçambique.
Nas questões relacionadas com trabalho, a amostra foi restringida a 741 agregados familiares (aproximadamente 3.300 indivíduos).
Nas fases seguintes de recolha de dados, a decorrer desde abril, o INE está a expandir a amostra de modo a incluir as áreas rurais.
“É importante notar que as seis rondas iniciais do inquérito foram realizadas antes da segunda vaga de covid-19 em Moçambique, que teve um impacto muito maior em termos de número de casos e mortes”, conclui o documento.
Moçambique tem um total acumulado de 841 óbitos e 71.568 casos de Covid-19, dos quais 97% recuperados e 25 internados.
LUSA/HN
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