Habitualmente, as terapêuticas convencionais controlam cerca de 70% a 80% dos casos de artrite reumatoide mas em 20% a 30% é necessária a utilização de terapêuticas biotecnológicas. Helena Canhão, presidente da Sociedade Portuguesa de Reumatologia, lembra que o diagnóstico e o tratamento precoce evitam a destruição articular, permitem controlar a inflamação e a progressão da doença.
HealthNews – Qual é a prevalência da artrite reumatoide em Portugal?
Helena Canhão – A artrite reumatoide (AR) tem uma prevalência de 0,7%, ou seja, há cerca de 65.000 mil doentes com AR no nosso país. Estes números foram calculados no EpiReumaPt, o estudo epidemiológico das doenças reumáticas em Portugal, através de uma amostra representativa da população adulta portuguesa, onde foram entrevistadas 10.661 pessoas.
HN – Quais são as implicações da AR na vida dos doentes?
HC – As principais manifestações da doença são o inchaço nas articulações, a dor e a diminuição da mobilidade. Esta inflamação ocorre sobretudo nas articulações das mãos, dos punhos, dos cotovelos, dos joelhos e dos pés.
HN – Com a identificação, diagnóstico e tratamento precoce, é possível reverter o curso da doença?
HC – Existem vários tipos de doenças reumáticas: inflamatórias crónicas, como a artrite reumatoide, e outras mais degenerativas, como a artrose.
As doenças inflamatórias crónicas, como a artrite reumatoide, causam uma alteração do sistema imune e uma inflamação crónica. Portanto, se a AR não for diagnosticada e tratada a tempo, conduz à destruição articular. Em contrapartida, se for diagnosticada e tratada atempadamente, a doença é controlada, a inflamação deixa de estar presente, e obtêm-se bons resultados.
O mais importante é diagnosticar precocemente e instituir um tratamento adequado e precoce. Dessa forma, evita-se a destruição articular, controla-se a inflamação e, portanto, a doença não progride.
HN – Quais são as principais metas a alcançar no tratamento?
HC – Essencialmente, o controlo da inflamação e a remissão total da doença sob a terapêutica. Ou seja, deixa de haver atividade da doença, progressão, destruição articular e incapacidade funcional, o que torna possível uma boa qualidade de vida dos doentes.
HN – As terapêuticas biológicas vieram revolucionar o tratamento da artrite reumatoide. Quais foram os últimos desenvolvimentos neste domínio?
HC – Desde o início dos anos 90, e sobretudo desde o início da década de 2000, otimizaram-se as terapêuticas imunossupressoras convencionais como, por exemplo, o metotrexato, surgiram novas terapêuticas sintéticas, tais como a leflunomida, desenvolveram-se e surgiram no mercado as terapêuticas biotecnológicas.
Estas terapêuticas dirigem-se a alvos específicos na fisiopatologia e nas vias que são patológicas na artrite reumatoide. Esses alvos são desencadeadores ou perpetuam a inflamação. Ao diminuir esses medidores celulares e moleculares, consegue-se controlar a artrite reumatoide e a sua atividade.
As terapêuticas biotecnológicas têm revolucionado o tratamento da doença, permitindo controlar a sua atividade e impedindo a destruição estrutural. Progressivamente, surgiram novas classes terapêuticas, sobretudo anticorpos monoclonais e anticorpos contrarrecetores, que são mediadores inflamatórios, ou mesmo sinalizadores intracelulares de células inflamatórias que conseguem controlar o sistema imune e a inflamação.
HN – Que opções existem para os doentes que não respondem às terapêuticas convencionais?
Após o diagnóstico, inicia-se o tratamento com imunossupressores, tais como o metotrexato, e outros fármacos imunossupressores sintéticos ditos convencionais. Quando não há uma boa resposta, adicionam-se as terapêuticas biotecnológicas ou inibidores de mediadores que intervêm nas células.
Habitualmente, as terapêuticas convencionais controlam cerca de 70% a 80% dos doentes. Os remanescentes 20% a 30% são tratados com terapêuticas biotecnológicas. Por vezes, podem não responder a uma primeira linha, sendo depois tratados com outras classes terapêuticas.
Recordo também que, além das terapêuticas farmacológicas, há muitas opções não farmacológicas que é necessário adicionar, desde a reabilitação, como tratamentos de fisioterapia, a adoção de uma alimentação saudável e a realização de atividade física, com o objetivo de manter uma boa massa óssea e muscular.
Além disso, é importante verificar se não existem efeitos adversos dos medicamentos e se não existem repercussões noutros órgão-alvo, tais como os pulmões, os olhos ou o coração. É necessário verificar não só as articulações mas também estar atento a manifestações extra articulares da AR, que podem requerer terapêuticas dirigidas.
Com todas estas medidas, conseguimos controlar a atividade da artrite reumatoide e impedir a sua progressão.
Entrevista de Adelaide Oliveira
#artrite reumatoide
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