Fernando Medina admite que recuo de Lisboa no desconfinamento é “cenário mais provável”

24 de Junho 2021

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Fernando Medina, disse esta quarta-feira que “o cenário mais provável” é o concelho recuar nas medidas de desconfinamento, no âmbito da avaliação do Governo ao mapa de risco de transmissibilidade da Covid-19.

“O Governo vai avaliar a situação [esta quinta-feira], se aplicar o critério que tem seguido e verificando-se aquilo que tem sido a evolução dos indicadores, vai ser esse o cenário mais provável”, com Lisboa a fazer marcha-atrás no plano de desconfinamento, afirmou Fernando Medina (PS).

No âmbito de uma visita ao novo centro de vacinação no pavilhão 3 do Estádio Universitário de Lisboa, acompanhada pelo Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, o autarca de Lisboa afirmou que o aumento do número de casos de Covid-19 “é uma situação na qual outros municípios no país estarão também a evoluir no mesmo caminho”, uma vez que “a pandemia está a crescer neste momento, não está contida, nem está a decair”.

Sobre o possível recuo de Lisboa nas medidas de desconfinamento, aplicadas aos 278 concelhos de Portugal Continental, Fernando Medina adiantou que, se for aplicado o atual quadro da matriz de risco, a decisão na capital “vai ter algumas implicações relativamente a horários de funcionamento, a mais relevante é a restrição do horário da restauração às 15:30 de sábado e o não funcionamento durante o resto do fim de semana”.

Lisboa é um dos concelhos com mais casos de Covid-19 e que, no âmbito da última reunião do Conselho de Ministros, em 17 de junho, ficou sujeito a medidas mais restritivas, inclusive a proibição de circulação de e para a Área Metropolitana de Lisboa (AML) durante o passado fim de semana, desde as 15:00 de sexta-feira e até às 06:00 de segunda-feira.

Questionado sobre a proibição da circulação de e para a AML ao fim de semana, o presidente da Câmara de Lisboa referiu que não tem informação se a medida se volta a repetir, aguardando pela decisão do Conselho de Ministros.

“Não tenho nenhum elemento de avaliação da eficácia dessa medida, confio que a decisão que está tomada é uma decisão no sentido não da redução da incidência dentro da área metropolitana, mas de tentar reduzir o ritmo ao qual a nova variante se espalha no país”, indicou o autarca da capital, considerando impossível evitar a transmissibilidade da variante Delta, até porque se prevê que venha a ser dominante.

Fernando Medina reforçou que a incidência da variante Delta do SARS-CoV-2 “na AML é muito mais alta do que no resto do país”.

Segundo o cenário traçado pelo autarca, no âmbito do risco de transmissibilidade da Covid-19, Lisboa vai passar do nível elevado para muito elevado, por registar uma taxa de incidência superior a 240 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias.

“Tudo leva a crer que se vai manter a aplicação que é conhecida da matriz de risco”, referiu o presidente da Câmara de Lisboa, perspetivando que sejam aplicadas as medidas já previstas consoante o nível de risco, sem dispor de informação sobre a aplicação de outras medidas adicionais.

Sobre o uso do certificado digital de vacinação para servir de ‘passe para circular na AML sem restrições, Fernando Medina defendeu que o país está “num quadro em que se podem tomar novas medidas que sejam mais compatíveis com asfixiar menos a situação da economia”, destacando a aceleração da vacinação, em que o município de Lisboa já disponibilizou todos os recursos para que o processo de inoculação da população seja assegurado, “havendo vacinas para isso acontecer”.

“Já defendi que devia ser adaptada a matriz de risco. Considero que uma matriz que é adaptada a baixos níveis de vacinação deve ponderar o nível de vacinação em cada momento e, neste momento, estamos com uma vacinação muito mais avançada, por isso aplicar exatamente a mesma grelha pode trazer os mesmos prejuízos e não trazer os mesmos benefícios que trouxe no passado”, declarou o autarca socialista.

Ainda que o crescimento do número de casos de Covid-19 seja hoje uma evidência, “a intensidade da pandemia é muitíssimo menor do que aquela que foi em janeiro ou fevereiro”, frisou o presidente da Câmara de Lisboa.

Além da aceleração da vacinação na capital, com sete centros de vacinação, inclusive cinco com horários alargados até às 22:00 e com o Centro do Pavilhão da Ajuda, na freguesia de Alcântara, que a partir de 01 de julho vai funcionar com um regime de vacinação sem marcação, entre as 19:00 e as 21:00, para as faixas etárias já abrangidas pelo processo, a Câmara de Lisboa aposta no aumento da testagem, com testes rápidos gratuitos e ilimitados, para residentes e não residentes.

Neste momento, conforme a última avaliação do Conselho de Ministros, realizada na passada quinta-feira, Sesimbra é o único concelho no nível de risco muito elevando, mas Lisboa é um dos nove concelhos no nível de risco elevado, por ter registado, pela segunda avaliação consecutiva, uma taxa de incidência superior a 120 casos por 100 mil habitantes nos últimos 14 dias (ou superior a 240 se forem concelhos de baixa densidade populacional), situação a que se juntam Albufeira, Arruda dos Vinhos, Braga, Cascais, Loulé, Odemira, Sertã e Sintra.

Entre as regras para os concelhos de risco muito elevado estão: teletrabalho obrigatório quando as atividades o permitam; restaurantes, cafés e pastelarias podem funcionar até às 22:30 durante a semana e até às 15:30 ao fim de semana e feriados (no interior com um máximo de quatro pessoas por grupo e em esplanadas com um máximo de seis pessoas por grupo); espetáculos culturais até às 22:30; casamentos e batizados com 25% da lotação; comércio a retalho alimentar até às 21:00 durante a semana e até às 19:00 ao fim de semana e feriados e comércio a retalho não alimentar até às 21:00 durante a semana e até às 15:30 ao fim de semana e feriados.

A pandemia de Covid-19 provocou, pelo menos, 3.884.538 vítimas mortais em todo o mundo, resultantes de mais de 179 milhões de casos de infeção diagnosticados oficialmente, segundo o balanço feito pela agência francesa AFP.

Em Portugal, morreram 17.077 pessoas e foram confirmados 868.323 casos de infeção, de acordo com o boletim mais recente da Direção-Geral da Saúde.

A doença respiratória é provocada pelo novo coronavírus SARS-CoV-2, detetado no final de 2019, em Wuhan, uma cidade do centro da China.

LUSA/HN

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