A mudança de comportamentos “é a verdadeira forma de mudar o curso da hipertensão”. A “vacina” para a HTA já existe mas é cultural e, portanto, “deve suportar-se em informação”, defende o presidente da Sociedade Portuguesa de Hipertensão (SPH).
HealthNews (HN) – Por ocasião da sua tomada de posse como presidente da SPH assinalou a importância de fomentar a proximidade aos médicos de família para que o doente esteja, efetivamente, em primeiro lugar. Que passos já foram, ou vão ser dados, nessa aproximação à Medicina Geral e Familiar?
Luís Bronze (LB) – Já iniciamos os contactos com a Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar, para a materialização de projetos conjuntos, que em breve serão anunciados.
HN – Defende, por outro lado, a criação de um Registo Nacional de Hipertensão Arterial (HTA). Quais seriam as vantagens, para médicos e doentes?
LB – Na verdade, há um grande desencontro de opiniões e dados relativamente a marcos epidemiológicos fundamentais, sendo que o principal é a prevalência da hipertensão arterial entre nós e, do mesmo modo, relativamente a outros números importantes. Este facto também se verifica para outras entidades clínicas relevantes, outras doenças, quer entre nós, quer no estrangeiro. Trata-se, mais do que diferenças de opinião, apenas de diferentes metodologias de registo. Interessaria que houvesse uma metodologia aceite por todos e o mais possível próxima da realidade. É com base neste pressuposto que estamos a trabalhar.
HN – Manifestou, em várias ocasiões, que a “vacina” contra a hipertensão “é cultural”. Mas… como se modifica uma cultura de vida sedentária e com tal abundância e diversidade de alimentos?
LB – A mudança de comportamento, tal como bem sugere, é necessária e desejável. Essa é a verdadeira forma de mudar o curso desta doença crónica. A vacina deve, portanto, suportar-se em informação. É aqui que entra a SPH, que deve pautar a sua ação junto da população com modos e formas de “modificar”, sem sacrifício excessivo, a nossa forma de vida em ordem à alteração de comportamentos. Vide o que já se conseguiu em relação ao sal: reconhecido por todos como deletério… estou certo de que, em relação a outros comportamentos, também lá chegaremos…
HN – Na “Semana da Hipertensão”, a SPH trouxe para junto do público pessoas como, por exemplo, a “Tia Cátia” para nos ensinar receitas apetitosas, mas saudáveis. A SPH vai continuar a tentar chegar ao público através de mensagens e mensageiros simpáticos e positivos, longe daquela lógica de “crime e castigo”?
LB – Sem dúvida, a SPH tem que fugir da informação do “pecado” diário e deve mudar comportamentos através de alternativas saudáveis. A abordagem tem que ser holística e positiva – já agora, as mudanças são de aceitação mais difícil neste tempo pandémico, com restrições impostas e mudanças forçadas, nem sempre no melhor sentido do ponto de vista cardiovascular, como a maior inatividade…a maior reclusão…ou esta sensação de medo iminente que tarda em desaparecer…Deste modo, num tempo assim, seria errado avançar com mais conselhos, como bem afirma baseados no “crime e castigo” …
HN – Que outros planos tem a SPH para mudar o panorama da hipertensão e do risco cardiovascular em Portugal?
LB – A SPH deve e está a tentar mudar o padrão de risco cardiovascular português, também junto dos médicos, valorizando a importância da adesão terapêutica, como arma fundamental para alterar o risco cardiovascular. Dito de outro modo, o eficaz controlo da HTA pode mudar o panorama português na morbimortalidade cardiovascular. Este também é um dos vetores em que temos, naturalmente, investido.
HN – Por último, qual vai ser a estratégia da SPH enquanto sociedade científica com projeção internacional?
LB – A SPH tem uma ligação umbilical à Sociedade Europeia de Hipertensão (ESH) – onde naturalmente nos inserimos e à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa. Acontece mesmo, desde há vários anos, um simpósio em língua portuguesa, durante a reunião anual da ESH, que tem sido muito participada. Temos especial ligação com o Brasil com um simpósio quer em Portugal, no nosso congresso anual, quer com um simpósio no Congresso do Departamento de Hipertensão da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Na Europa temos mantido relações privilegiadas com a Sociedade Húngara de Hipertensão. Vamos continuar com estas ligações que são centrais para a SPH, uma sociedade já muito respeitada no contexto internacional da hipertensão.
Entrevista de Adelaide Oliveira
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