Depressão não é necessariamente maior em pessoas mais velhas que vivem sós

6 de Outubro 2021

Investigadores do Instituto de Saúde Pública da Universidade do Porto (ISPUP) concluíram, num estudo que envolveu 643 pessoas com 60 ou mais anos, que as que vivem sozinhas não são necessariamente as que correm maior risco de desenvolver depressão.

Em comunicado, o instituto revela hoje que a investigação, publicada na revista Health and Social Care in the Community, visava analisar a relação entre o isolamento social e a existência de depressão.

Para tal, os investigadores avaliaram 643 adultos, com 60 ou mais anos, residentes no Porto e participantes da coorte EPIPorto [estudo longitudinal do ISPUP que, desde 1999, segue uma amostra de residentes do concelho], que responderam a questões sobre o seu estado civil, situação habitacional, atividades de lazer, bem como a perceção de suporte social por parte da família e amigos.

O estudo, desenvolvido no âmbito do projeto HARMED, concluiu que aqueles que vivem sozinhos “não são necessariamente os que correm maior risco de desenvolver depressão”.

“Na realidade, a ocorrência de depressão é mais frequente nos adultos mais velhos que têm falta de suporte social e que não estão envolvidos em atividades de lazer, independentemente de viver sozinhos ou acompanhados”, salienta o instituto.

Dos participantes, 27,4% sofria de depressão, prevalência que foi mais acentuada nas mulheres que, quando analisadas isoladamente, apresentaram 30% de prevalência da doença.

A investigação concluiu que “a maior propensão para a depressão ocorre entre os adultos mais velhos que vivem sozinhos, mas que simultaneamente acumulam as desvantagens de possuir um baixo suporte social e pouco envolvimento em atividades de lazer”.

“O viver sozinho não deve ser encarado como o principal fator de isolamento associado à depressão”, salienta o ISPUP.

Citada no comunicado, a investigadora Ana Henriques, primeira autora do estudo, salienta que o isolamento social deve ser “abordado de uma forma multidimensional”.

“Há outras componentes que nos ajudam a ter uma visão mais completa do que é o isolamento social, nomeadamente o envolvimento em atividades de lazer e o suporte social recebido”, afirma.

Defendendo que o isolamento social poderá “dar-nos uma visão incompleta”, Ana Henriques afirma que é preciso ter em conta “todas as variáveis de suporte social” – como a prática de atividades – e como estas podem ser “cruciais” e “ajudar a prevenir o isolamento e a depressão”.

Paralelamente, os investigadores salientam que o estudo poderá ajudar os profissionais de saúde a identificarem precocemente as pessoas mais velhas em risco de depressão.

“Em vez de adotarem uma abordagem remediativa, os profissionais de saúde poderão atuar mais cedo, identificando os adultos com mais idade que não têm atividades de lazer ou boas redes sociais, contribuindo assim para prevenir o isolamento social e a depressão nesta população”, afirma a investigadora.

Além do ISPUP, o estudo contou com a colaboração de investigadores do Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, da Universidade Miguel Hernandéz de Elche (Espanha) e da Universidade de São Paulo (Brasil).

Financiado pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) e Portugal 2020, o projeto HARMED, desenvolvido pelo ISPUP e pelo Instituto de Sociologia da Universidade do Porto, procurou medir o impacto da crise socioeconómica, da violência e das questões sociais nos idosos.

LUSA/HN

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