Em Jabalia, o maior campo de refugiados na Faixa de Gaza (norte), muitos homens, com os respetivos documentos de identidade em mãos, faziam fila para tentar obter uma autorização de trabalho no território israelita, segundo testemunharam no local jornalistas da agência France-Presse (AFP).
“Não há trabalho na Faixa de Gaza. Ontem [terça-feira] fiquei a saber que as pessoas estavam a registar-se para obter autorizações”, afirmou Fathi Abu Nour, um desempregado de 40 anos, citado pela AFP.
“Espero que as coisas melhorem porque a situação é realmente difícil”, acrescentou este pai de cinco filhos.
A taxa de desemprego está próxima dos 50% na Faixa de Gaza, enclave palestiniano controlado pelo movimento radical islâmico Hamas desde 2007, que está sob bloqueio israelita há mais de uma década e onde vivem cerca de dois milhões de pessoas.
Uma trégua firmada em 2019 entre o Estado hebreu e o Hamas, negociada sob os auspícios do Egito, do Qatar e da ONU, previa a atribuição de milhares de autorizações de trabalho em Israel para os habitantes de Gaza, mas a pandemia de Covid-19 levou ao encerramento de fronteiras durante vários meses e os planos foram adiados.
Após os confrontos registados em maio passado entre as forças israelitas e o Hamas, que se prolongaram durante 11 dias, o Estado hebreu decidiu diminuir gradualmente algumas das restrições impostas ao enclave palestiniano.
Por exemplo, Telavive reabriu pontos de passagem, expandiu a zona de pesca e permitiu que alguns bens voltassem a entrar neste território exíguo.
Um responsável israelita da área da segurança avançou hoje à AFP que estão previstas sete mil autorizações de trabalho para os habitantes de Gaza.
Em agosto passado, cerca de cinco mil trabalhadores e comerciantes já tinham sido autorizados a entrar em Israel.
Para o analista económico palestiniano Omar Shaaban, a concessão destas autorizações de trabalho – que poderão abranger até cerca de 20 mil pessoas – irá aliviar, em parte, “a crise de desemprego e de pobreza” na Faixa de Gaza e poderá traduzir-se em benefícios locais na ordem dos 2,7 milhões de euros por dia.
Mas, segundo frisou Omar Shaaban, este plano “irá depender em muito do sucesso das negociações no Cairo”, onde nas últimas semanas têm decorrido negociações, sob mediação das autoridades egípcias, para tentar alcançar uma trégua duradoura entre o Hamas e Israel.
Na terça-feira, o Hamas admitiu “progressos” nas negociações no Cairo, sem, no entanto, mencionar a existência de qualquer acordo.
Em maio passado, o Programa Alimentar Mundial (PAM) anunciava uma ajuda de emergência para mais de 51 mil pessoas na Faixa de Gaza, em reação às crescentes necessidades humanitárias da população daquele enclave palestiniano, envolvido na altura numa escalada de violência com Israel.
Em Gaza, o PAM fornece apoio regular a cerca de 260 mil pessoas através de transferências monetárias ou de outras formas que permitem a aquisição de bens alimentares.
Mais de metade da população de Gaza (53%) vive na pobreza, segundo dados também divulgados em maio.
LUSA/HN
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