Em declarações à Lusa, o presidente da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC), Manuel Branco Ferreira, explicou que esta doença resulta de um defeito, desde o nascimento, de uma proteína do sangue que, entre várias ações, faz com que as pessoas não inchem muito quando fazem traumatismos ou quando têm infeções.
“Se essa proteína, as pessoas incham sem razão aparente, muitas vezes na sequência de traumatismos, infeções ou stress”, acrescentou.
O responsável explicou igualmente que estes inchaços podem afetar qualquer zona do corpo (mãos, pés, face) e, inclusivamente, o intestino, “dando dores abdominais muito intensas”, mas sublinha que a mais temida localização é na laringe, “onde pode dar edema da glote, asfixia e morte”.
“Estes quadros, quando são nas extremidades ou na laringe, são muitas vezes confundidos com as alergias, que podem dar situações parecidas, e as pessoas quando se dirigem aos serviços de urgência são tratadas com medicação para as alergias”, disse o responsável.
O presidente da SPAIC alertou ainda para o facto de esta situação se perpetuar, fazendo com que estes doentes “demorem muitas vezes 15 a 20 anos desde o início das queixas até ao diagnóstico correto”.
“O diagnóstico torna-se mais fácil quando há elementos da família que já têm um diagnóstico correto”, reconheceu.
Manuel Branco Ferreira lembra ainda que, para esta doença rara hereditária, que afeta entre 300 a 400 pessoas em Portugal, “há cada vez mais tratamentos que podem fazer a diferença na vida destes doentes”.
Além dos tratamentos para a fase aguda (em situações de crise) e da prevenção a curto prazo (quando o doente vai ser operado, tirar um dente ou fazer um exame como uma endoscopia), hoje existe medicação que pode reduzir em muito o aparecimento destas crises.
“Agora também há a prevenção a longo prazo, em que os doentes podem fazer uma medicação em casa [uma injeção na barriga] para evitar que tenham crises. Praticamente diminui a zero, ou pouco mais do que zero, o número de ataque por mês ou ano”, explicou o especialista, sublinhando que “há pessoas com ataques duas a três vezes por semana”.
Para alertar para a necessidade de um tratamento correto do angioedema hereditário, bem como para a importância de uma melhor compreensão da doença, a SPAIC vai lançar uma campanha, sob o mote “E se fosse consigo?”.
O presidente da Sociedade chama ainda a atenção para a importância do enfoque na qualidade de vida destes doentes, sublinhando: “numa doença que pode levar a pessoa ao hospital com dores insuportáveis, ou em que a laringe incha e pode fazer um edema da glote, em que a pessoa julga que vai morrer, os aspetos mais ligeiros são menos valorizados”.
“Aspetos como ter uma mão inchada e não conseguir escrever, ou um pé inchado e não se conseguir calçar, acabam por ser menos valorizados, quer pelo médico, quer pelo doente, que (…) aceita mais depressa as outras limitações”, explicou.
O médico sublinha que estes doentes “têm direito a uma qualidade de vida tão próxima do normal como qualquer outra pessoa” e diz ser importante o alerta para que mesmo os médicos que já fizeram o correto diagnóstico possam valorizar estes aspetos e pesquisar com o doente o impacto que têm na sua qualidade de vida, propondo outras terapêuticas.
“Mesmo os medicamentos com efeitos complicados, muitas vezes os doentes aceitam porque é um mal menor. Mas atualmente podemos ter um bem maior”, sublinha.
LUSA/HN
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