Orador no almoço/debate “O processo de vacinação contra o Covid-19 em Portugal”, organizado pelo International Club of Portugal, o militar, adjunto para o Planeamento e Coordenação do Estado-Maior General das Forças Armadas, explicou, com detalhe, as operações da equipa responsável pela vacinação contra a Covid-19 que liderou entre 03 de fevereiro e 28 de setembro.
“A comunicação foi a parte mais importante”, realçou, perante uma centena de pessoas, recordando os reparos acerca de aparecer vestido de camuflado. “Queriam que aparecesse de lacinho cor-de-rosa ou com uma gravatinha? Eu sou militar”, ironizou, assumindo “a retórica de guerra”.
Liderança consentida e organização – acrescentou – são os outros dois elementos que compõem o trio de “sucesso” do processo de vacinação em Portugal.
A primeira – explanou – foi a que permitiu que instituições como a saúde e o poder local, com “valores e hábitos”, tenham consentido a liderança aos militares, percebendo a sua utilidade.
“Planos simples para execução rápida” é o que os militares “sabem fazer bem”, assinala.
Gouveia e Melo recordou que encontrou um Serviço Nacional de Saúde (SNS) com “muitas fragilidades”.
O SNS “é muito partido e desestruturado”, bem como “regionalizado”, o que obrigou a criar “um sistema nervoso central”, explicou, acreditando que o sistema aprendeu com a experiência.
Havia que definir objetivos: “Defender as pessoas, que estavam em risco de vida” e dar resiliência ao Estado, nomeadamente ao SNS.
“Estávamos a vacinar em ‘slow motion’ [câmara lenta] e passámos a ‘fast forward’ [avanço rápido]”, descreveu, pedindo desculpas pelos anglicismos.
“Conseguimos fazer uma coisa bastante bem feita”, regozijou-se, rejeitando a perfeição, porque essa “só Deus”.
Contando que “a imprensa estrangeira” tem andado a perguntar-lhe sobre “o truque” português, o vice-almirante respondeu: “Nunca gostei, enquanto português, que nos ajoelhássemos perante os outros povos. (…) Não temos de ter vergonha, nem orgulho excessivo.”
Portugal tem capacidades e “um dos truques foi a população portuguesa” e a “cultura pró-vacinas”, realça.
Segundo Gouveia e Melo, foco, capacidade de trabalhar na incerteza, disciplina, responsabilização e mobilização foram algumas das mais-valias que os militares trouxeram à coordenação da equipa que liderou o processo de vacinação.
O vice-almirante recordou o episódio em que um grupo de negacionistas o esperava com insultos, a porta de um centro de vacinação, e lhe sugeriram que entrasse pela porta dos fundos ou esperasse pela polícia. “Eu vou passar como um navio, com a sua proa, a empurrar toda a gente”, retorquiu, arrancando palmas à centena de pessoas na sala.
“Todos os malucos que acham que o vírus não faz mal” são também “inimigos”, apontou, sublinhando que é preciso “retirar margem de manobra aos negacionistas”.
“Serão todos forçadamente vacinados – ou pelo vírus ou pela vacina. Se quiserem esperar, façam favor”, disse.
LUSA/HN
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