Brasil regista recorde de homicídios de indígenas em 2020 após aumento de 61%

29 de Outubro 2021

Pelo menos 182 indígenas foram assassinados em 2020 no Brasil, 61% a mais face a 2019 e um recorde para o país, após um aumento da violência nos últimos dois anos, atribuída ao Governo de Jair Bolsonaro.

As conclusões são do relatório anual do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) divulgado nesta quinta-feira.

Trata-se do maior número de mortes violentas de nativos brasileiros dos últimos 25 anos, além das mais de 1.200 causadas pela pandemia de Covid-19, o que converteu 2020 num ano “trágico” para os povos originários do Brasil.

Além dos homicídios, 263 invasões de reservas indígenas foram registadas no ano passado, principalmente por garimpeiros [extratores ilegais de metais e pedras preciosas] e madeireiros ilegais, e os conflitos territoriais aumentaram 174% em relação a 2019.

“Os invasores, em geral, são madeireiros, garimpeiros, caçadores e pescadores ilegais, fazendeiros (…) que invadem as terras indígenas para se apropriar ilegalmente da madeira, devastar rios inteiros em busca de ouro e outros minérios, além de desflorestar e queimar largas áreas para a abertura de pastagens”, denuncia o relatório.

Nesse grupo também são destacados os “grileiros”, que invadem as reservas indígenas e depois as dividem em lotes, que posteriormente são comercializados ilegalmente, o que acontece até mesmo em terras onde vivem povos indígenas isolados.

De acordo com o relatório, autoridades oficiais, proprietários de terras, empresários do agronegócio e até polícias e militares têm sido “cúmplices” dos responsáveis pela exploração mineira ilícita e pela desflorestação para comércio ilegal de madeira.

São acusados de abuso de poder, ameaças de morte, racismo, discriminação étnica e até homicídios “brutais”, que foram consequência direta de ações das forças de segurança, como aconteceu em dois casos no Amazonas e no Mato Groso.

“É inegável que a partir de 2019, com a eleição do Governo de Bolsonaro, houve um recrudescimento e, pior ainda, um incentivo a práticas ilegais e violentas contra os povos indígenas”, afirma o documento.

Segundo a Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB), a Covid-19 causou a morte a 1.224 indígenas, contaminou 60.323 e afetou 162 etnias indígenas, mais da metade das 305 existentes no país.

Grande parte dessas vítimas foi causada pela “omissão” do Governo federal, que não estabeleceu um plano coordenado de proteção às comunidades indígenas do Brasil.

“Em muitas ocasiões, o vírus, que chegou às aldeias e causou mortes, foi introduzido nos territórios indígenas por invasores que continuaram a atuar ilegalmente nessas áreas durante a pandemia, graças à ausência de ações de fiscalização e proteção por parte do Governo”, frisa o texto.

Os relatos recolhidos pelo CIMI, que em alguns casos puderam mesmo constatar, apontam que a maioria das comunidades indígenas do país não tinha atendimento médico suficiente, nem foram instaladas barreiras sanitárias para evitar a propagação do vírus dentro das reservas, nem foram distribuídos materiais de higiene necessários para garantir condições básicas de proteção e prevenção contra a doença.

“O ano de 2020 foi marcado pelo elevado número de mortes ocorridas em função da má gestão no combate à pandemia no Brasil, guiada pela desinformação e pelo descaso do Governo federal. Essa realidade, lamentável para a sociedade brasileira no seu conjunto, representou uma verdadeira tragédia para os povos indígenas”, aponta o relatório.

LUSA/HN

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