O projeto-piloto tem vindo a ser elaborado pela Associação Portuguesa de Luta Contra o Cancro do Pulmão (Pulmonale) e por um grupo de especialistas nesta área, para que possa ser aplicado em Portugal, onde diariamente morrem, em média, 11 pessoas com este tipo e de cancro e são diagnosticadas, em média, 14 novos casos, adiantou Isabel Magalhães.
O rastreio proposto é feito através de uma TAC (Tomografia Computorizada) de baixa dosagem. “É o exame fundamental”, sendo que a partir daí haverá um conjunto de procedimentos no sentido de interpretar bem os resultados e dar o devido encaminhamento aos exames que são suspeitos.
Segundo a responsável, o que se pretende é um rastreio de base populacional, como existe no cancro da mama, no cancro colorretal e no colo do útero, dirigido a uma população-alvo e com uma determinada periodicidade.
O cancro do pulmão é a doença oncológica que “mais mata em todo o mundo e também em Portugal”, apesar de todos os avanços feitos no tratamento desta patologia, porque normalmente o diagnóstico é feito tardiamente.
“Os sintomas iniciais são muitas vezes leves ou então transversais a outras doenças, nomeadamente doenças próprias de fumadores”, e são desvalorizados pelas pessoas, que quando recorrem a ajuda médica já vão numa fase muito avançada.
Os países têm empenhado esforços para combater este “grande flagelo”, desde logo com “fortes investimentos” para reduzir os hábitos do tabaco, uma das principais causas desta doença, “mas viu-se que não era o suficiente”.
“Era necessário ter um método de rastreio do cancro numa fase inicial e isso tem sido objeto de vários estudos” ao longo de décadas, mas foi a partir de 2020 que as análises foram ganhando “cada vez mais consistência” e se começaram a fazer projetos e rastreios.
“É consensual na comunidade médica que o rastreio apresenta efetividade porque permite reduzir o número de mortes, o que já se verifica nos países onde está a ser praticado, e permite também menos sofrimento”, porque a doença é diagnosticada numa fase muito inicial”, disse Isabel Magalhães.
Os países mais desenvolvidos têm já um projeto implementado ou lançaram projetos-piloto, mas, lamentou, “em Portugal ainda não aconteceu nada e não se vê ninguém a falar no assunto: Isto é uma coisa dramática que não pode continuar assim”.
Foi nesse sentido que a Pulmonale e especialistas desenvolveram um projeto-piloto que, tendo os resultados esperados, será para replicar a todo o país.
“Não podemos esquecer que é uma doença que, além das mortes, quando detetada numa fase muito tardia, tem elevados custos pessoais, sociais e económicos, porque os tratamentos não são baratos” e muitas vezes não conseguem ter os resultados desejáveis.
A situação agravou-se durante a pandemia. Médicos de vários hospitais relataram à associação que os doentes não chegavam pela via normal da referenciação, mas pelas urgências “em situação crítica”.
“Muitos deles já nem fizeram qualquer tipo de terapia porque a doença estava numa forma muito avançada”, passando logo para os cuidados paliativos.
“Isto é uma situação dramática que nós queremos evitar”, rematou.
Em 2020, cerca de 320 mil pessoas foram diagnosticadas com cancro do pulmão na União Europeia e mais de 257 morreram da doença.
LUSA/HN
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