Os dois candidatos disputam as eleições para a Ordem criada em 30 de setembro de 2019.
Ambos pretendem representar um universo estimado entre 12 a 13 mil fisioterapeutas em exercício em Portugal, embora existam 15 mil com cédula profissional, e querem também manter os cidadãos informados e protegê-los das más práticas, sem base científica.
Emanuel Vital, da lista B, salientou à Lusa a necessidade de “criar valor para a profissão e para a sociedade”, através de serviços que confirmem “a utilidade e o valor económico e social da profissão”, pelo que tem prevista a elaboração de estudos que demonstrem o impacto económico dos fisioterapeutas na saúde, na qualidade de vida da população e na redução de custos para o sistema de saúde em Portugal.
“Queremos trazer para o decisor político da utilidade da decisão inteligente de mobilizar mais recursos e fisioterapeutas para melhorar a saúde dos portugueses e, ao mesmo tempo, tornar mais eficiente o sistema de saúde”, realçou, em declarações à agência Lusa, o madeirense de 57 anos e 38 de profissão, que exerce no Centro de Saúde da Marinha Grande.
Para António Lopes, o candidato da lista D, a principal prioridade é “dar visibilidade ao contributo específico da fisioterapia”, através da criação de “unidades funcionais autónomas”, tanto nas estruturas públicas como nas privadas, que permitam aos profissionais da área gerir os próprios recursos.
“Atualmente há uma dependência da fisioterapia da especialidade médica de Medicina Física e Reabilitação e nós teremos de sair fora dessa alçada”, embora continuando a trabalhar com essa especialidade, mas não como se fossem vistos “como auxiliares”, vincou.
António Lopes acrescentou que os fisioterapeutas aceitam a referenciação por qualquer médico, “o problema é que, no sistema, o fisioterapeuta só está acessível por referenciação exclusiva de um médico de Medicina Física e Reabilitação e isso é que tem de acabar”, preconizou, em declarações à Lusa, o candidato a bastonário, que comparou a situação “como se os psicólogos dependessem apenas dos psiquiatras”.
Os dois nomes que encabeçam as listas à Ordem dos Fisioterapeutas mostraram-se empenhados em fazer cumprir padrões de qualidade e criar ferramentas que permitam ao cidadão saber distinguir práticas aplicadas com base científica de técnicas de intervenção sem a formação necessária.
António Lopes, formado na Escola Superior de Saúde de Alcoitão, onde é coordenador, tem prevista a criação do Provedor do Utente, que ajude a “defender os utilizadores dos serviços de fisioterapia” e tenham a quem recorrer, quer “combater a prática ilegal” e acentuou que a Ordem vai poder “retirar o título profissional a alguém que se afaste das normas”.
Emanuel Vital defendeu a criação de um Espaço do Cidadão, que sirva para “orientar o cidadão”, prestar-lhe informação e dar-lhe garantias de quem são os profissionais qualificados, com formação.
“Queremos garantir que os serviços prestados ao cidadão são de qualidade, baseados na evidência científica, nas boas práticas profissionais e são serviços de segurança. Queremos proteger o cidadão contra a má prática e o exercício ilegal”, enfatizou o candidato da lista B.
António Lopes informou que existem em Portugal 13 mil fisioterapeutas para cem mil habitantes, enquanto em países como a Suécia, ou outros onde a profissão é “vista de forma diferente na sociedade”, esse número é “três vezes superior”. Também no Serviço Nacional de Saúde (SNS) o candidato a bastonário da lista D considerou existirem “poucos fisioterapeutas”, embora tenha ressalvado que os encargos do SNS com a reabilitação, contratualizados a serviços externos, “são elevados”. “O SNS precisa de mais fisioterapeutas”, referiu.
Emanuel Vital manifestou-se preocupado por apenas 8% dos fisioterapeutas em Portugal estarem enquadrados no SNS, cerca de mil, e só haver 169 nos cuidados de saúde primários em todo o país, estando os restantes no setor liberal.
“A sociedade perde imenso por não ter fisioterapeutas a desenvolver as práticas recomendadas para a gestão das principais condições que oneram o sistema de saúde”, salientou, fazendo referência a dores nas costas e outras condições.
O candidato a bastonário que lidera a lista B afirmou existir “dificuldade no acesso à fisioterapia” e censurou ser necessário o utente ter de passar por vários médicos “até aceder ao profissional que ia fazer a diferença no primeiro momento”.
Emanuel Vital tem previsto um Espaço Jovem, tendo em conta que 80% dos fisioterapeutas se formaram na última década, a uma média de 600 a 700 por ano, e defende um SNS “mais ágil, mais capaz, mais evoluído”.
Para António Lopes, é imperativo ter um novo Código de Ética, com normativos mais específicos, a Ordem “ser a voz da profissão”, ter uma rede de apoio aos fisioterapeutas e criar um observatório que tenha um gabinete de estudos e planeamento, “para dar contributos na construção legislativa”.
LUSA/HN
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