“O que temos estado a observar é que o nosso Governo investe no sistema de saúde terciário, que é o sistema de saúde curativo, quando devia investir no sistema de saúde preventivo, esta é a nossa preocupação”, afirmou Adriano Manuel, em conferência de imprensa, em Luanda.
Para o médico pediatra, se Angola quiser investir no sistema de saúde preventivo tem que investir obrigatoriamente no sistema de saúde primário e nos recursos humanos, mas a pirâmide de prioridades do Governo de Angola está invertida.
Adriano Manuel, que foi bastante crítico dos “avultados investimentos” do Governo angolano para a construção de hospitais de nível terciário, referiu também que “nenhum país do mundo melhorou a sua condição de saúde sem investir no sistema primário”.
“Porque é a nível do sistema primário onde vamos diagnosticar que podem evoluir para a cronicidade, como a hipertensão, diabetes, que bem diagnosticados no sistema primário não evoluem para insuficiência renal”, apontou.
“Se tivermos um sistema de saúde organizado, o Estado não gasta muito dinheiro em criar centros de hemodiálise porque tratar um doente com insuficiência renal crónica é muito mais oneroso do que preveni-lo”, sustentou.
Adriano Manuel, médico pediatra suspenso há 18 meses por denunciar a morte de cerca de 20 crianças no Hospital Pediátrico de Luanda, onde trabalhava, falava na conferência de imprensa em que foi anunciada greve dos profissionais a partir de 06 de dezembro.
O médico angolano criticou também a verba do Orçamento Geral do Estado (OGE) 2022 cabimentada à campanha “Nascer Livre para Brilhar”, que segundo o sindicalista “está orçada em mais de 5 bilhões de kwanzas (7,4 mil milhões de euros) contra o orçamento de menos de 1 bilhão de kwanzas (1,4 mil milhões de kwanzas) dedicado ao programa de luta contra a malária”.
A campanha “Nascer Livre para Brilhar”, tutelada pela primeira-dama da República de Angola, Ana Dias Lourenço, foi lançada em dezembro de 2018, na província do Moxico, leste de Angola, e visa reduzir o índice de crianças angolanas que nascem com o VIH/sida.
“Inquieta-nos, por exemplo, no OGE do próximo ano, observar que só para o programa ‘Nascer Livre para Brilhar’ tem mais do que 5 bilhões de kwanzas, quando a primeira causa de mortalidade no país, que é a malária, tem menos do que 1 bilhão de kwanzas”, observou.
“Não é segredo para vocês que, com o advento do desemprego no nosso país, aumentou a fome e por esta via aumentou o número de doentes mal nutridos e doentes com tuberculose”, acrescentou, questionando “como é que um programa que até poderia ser acoplado ao Programa de Nacional de Luta contra a Sida tem mais de cinco bilhões de kwanzas e a tuberculose menos que um bilhão e meio de kwanzas”.
Na sua intervenção, o presidente do Sinmea alertou ainda para a “fuga de melhores quadros (médicos) da função pública para o setor privado, em busca de melhores condições salariais e de trabalho”.
LUSA/HN
0 Comments