Especialistas alertam para “epidemia escondida” da anemia, que afeta 20% dos portugueses

25 de Novembro 2021

O Anemia Working Group Portugal alertou esta quinta-feira para a importância de um correto diagnóstico da anemia, que afeta um em cada cinco portugueses, uma “epidemia escondida” que aumenta os tempos de internamento, a taxa de doença e a mortalidade.

Em declarações à agência Lusa, o presidente do Anemia Working Group Portugal – Associação Portuguesa para o estudo da Anemia, João Mairos, refere que são 84% os que não sabem que têm anemia, lembrando que é provocada sobretudo por deficiência de ferro e perdas de sangue.

“É uma epidemia escondida e as pessoas não têm noção dela. Quase ninguém sabe que tem anemia e apenas 2,8% estão a ser tratados”, alerta o responsável, apontando que o principal grupo de risco são as mulheres em idade fértil.

Explica que a anemia causa um baixo nível de energia, levando as pessoas a sentirem-se mais cansadas, “com as baterias em baixo”, e chama atenção para a importância de não desvalorizar sintomas.

“As mulheres sofrem mais de anemia e muitas vezes desvalorizam sintomas, que atribuem ao stress e ao trabalho”, afirma João Mairos, observando que “a maior parte da anemia tem como causa a carência de ferro”, que está muito relacionada com a alimentação.

“Temos uma alimentação mediterrânica, que promovemos muito, mas não a fazemos. Comemos cada vez mais ‘fast food’, comemos mal”, acrescenta o responsável, acrescentando que a incidência nas mulheres jovens entre os 18 e os 24 anos é de 30%.

O responsável, ginecologista de profissão, afirma igualmente que a mulher, sobretudo na idade fértil, é uma “perdedora crónica de sangue”, que qualquer desequilíbrio pode causar sintomas como dores de cabeça, cansaço, unhas e cabelo quebradiços e que “é preciso procurar um médico para diagnosticar e tratar a causa”.

Quando a estas circunstâncias se acrescenta alguma doença, como, por exemplo, a existência de pólipos ou miomas, as condições em que a pessoa entra no hospital aumentam o risco de transfusão e de infeções hospitalares.

“A anemia é só a pontinha do novelo”, afirma, sublinhando a importância de as pessoas procurarem o médico assistente quando têm sintomas e de os especialistas estarem sensibilizados para se lembrarem de pesquisar a doença.

Cansaço, fadiga, falta de concentração, baixo rendimento e baixa produtividade no trabalho (fisco ou mental) são os sinais de alerta para um problema que aumenta a mortalidade e a morbilidade (taxa de doença) e que leva a tempos de internamento mais longos.

“Quando estas pessoas vão ao hospital com alguma outra doença, o facto de serem anémicos traz maior mortalidade, maior morbilidade (taxa de doença) e o tempo internamento é mais longo. Há mais pessoas a serem admitidas nas unidades de cuidados intensivos anémicas do que não anémicas, independentemente da razão da anemia”, alerta João Mairos, afirmando que “a anemia é quase sempre tratável”.

O especialista sublinha igualmente a importância da existência de programas de gestão de sangue (Patient Blood Management – PBM): “Consiste em considerar o sangue de cada um de nós como um tesouro único e tomar uma série de ações clínicas e organizacionais para o preservar como primeira prioridade, evitando o recurso à transfusão”, explica.

Diz que estes programas de gestão de sangue têm ganhos comprovados, clínicos e económicos: “Um programa de PBM implementado na Austrália, entre 2008 e 2014, gerou uma poupança ao sistema de saúde na ordem dos 18,5 milhões de dólares, só no que respeita a produtos do sangue, e globalmente na ordem dos 80 a 100 milhões de dólares”.

“Em Portugal, as estimativas apontam para uma poupança de 67,7 milhões de euros num ano”, afirma o presidente do Anemia Working Group Portugal (AWGP), que lembra os programas piloto a este nível já aplicados no Norte e no Alentejo.

Segundo o AWGP, a identificação e tratamento da anemia em contexto de cirurgia permite uma redução em 51,2% das transfusões, em mais de 10% nos internamentos e em 37,2% nos reinternamentos.

Para aumentar a informação e conhecimento sobre a anemia e ferropénia (deficiência de ferro), o AWGP, em colaboração com a Federação Portuguesa de Futebol, realiza na sexta-feira – Dia Mundial da Anemia – rastreios junto da Seleção Nacional A de futebol feminino.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Ronaldo Sousa: “a metáfora da invasão biológica é uma arma contra os migrantes”

Em entrevista exclusiva ao Health News, o Professor Ronaldo Sousa, especialista em invasões biológicas da Universidade do Minho, alerta para os riscos de comparar migrações humanas com invasões biológicas. Ele destaca como essa retórica pode reforçar narrativas xenófobas e distorcer a perceção pública sobre migrantes, enfatizando a necessidade de uma abordagem interdisciplinar para políticas migratórias mais éticas

OMS alcança acordo de princípio sobre tratado pandémico

Os delegados dos Estados membros da Organização Mundial da Saúde (OMS) chegaram este sábado, em Genebra, a um acordo de princípio sobre um texto destinado a reforçar a preparação e a resposta global a futuras pandemias.

Prémio Inovação em Saúde: IA na Sustentabilidade

Já estão abertas as candidaturas à 2.ª edição do Prémio “Inovação em Saúde: Todos pela Sustentabilidade”. Com foco na Inteligência Artificial aplicada à saúde, o concurso decorre até 30 de junho e inclui uma novidade: a participação de estudantes do ensino superior.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights