Seca torna as ondas de calor mais quentes mas menos mortais

9 de Janeiro 2022

Durante as vagas de calor, a terra seca. Não há chuva nem solo para secar. Essa seca aumenta ainda mais as temperaturas das ondas de calor. No entanto, os solos desidratados ainda fazem com que as ondas de calor sejam menos mortais para os seres humanos, devido a uma redução da humidade do ar.

Um estudo cujos resultados foram publicados hoje na revista ‘Science Advances’ mostra que ondas de calor e secas estão a causar um forte aumento da mortalidade e danos à sociedade em todo o mundo. Por exemplo, o número de mortes relacionadas com a onda de calor europeia de 2003 ascende a mais de 70 000, mas também as ondas de calor mais recentes resultaram num excesso de mortalidade substancial, para além da pandemia da COVID-19.

Até agora, acreditava-se que os solos secos tornam as ondas de calor ainda mais mortíferas à medida que aumentam ainda mais as temperaturas das ondas de calor. Afinal, terras mais secas resultam em menor evaporação. Consequentemente, é deixada mais energia na superfície da Terra para aquecer o ar exterior. Mas o efeito da seca na temperatura é enganador: a alta humidade do ar também dificulta o arrefecimento do corpo humano através da transpiração, daí uma maior probabilidade de sobreaquecimento. A menor evaporação conduz simultaneamente a uma menor humidade do ar. Esse efeito benéfico assume o seu lugar, e torna as ondas de calor menos mortais.

Melhores medidas contra a seca e o calor
Os resultados deixam mais claro quais as medidas contra períodos de seca e calor mortal mais eficazes. Esses períodos estão a tornar-se mais longos, mais frequentes e mais intensos com o aquecimento global. Muitas medidas já estão a ser tomadas, tais como (re)florestação e irrigação de terras agrícolas, e são necessárias para a conservação da natureza, biodiversidade, agricultura e produção alimentar. Contudo, o estudo atual mostra que estas medidas resistentes à seca são ineficazes contra o calor mortal e podem mesmo ser prejudiciais, apesar do facto de suavizarem as temperaturas extremamente elevadas. O efeito favorável devido a uma temperatura mais baixa é anulado pela humidade mais elevada, o que faz com que o calor se torne mais quente. As medidas eliminam assim o efeito benéfico da seca durante as ondas de calor mortíferas.

Um estudo realizado por uma equipa de cientistas (Universidade de Ghent, Universidade e Investigação de Wageningen, VITO, Universidade Loyola Marymount, e Centro Euro-Mediterrânico sobre Alterações Climáticas) sublinha mais uma vez o grande desafio de contrariar o calor e a seca cada vez mais mortais, e que medidas aparentemente eficazes contra o calor ainda podem ser contraproducentes. É portanto necessário, em primeira instância, combater o aquecimento global nas suas bases, através de reduções drásticas nas emissões de gases com efeito de estufa. Além disso, dever-se-ia reconsiderar as medidas existentes contra a seca e o calor e explorar medidas alternativas contra a seca e medidas resistentes ao calor nos sectores agrícola, alimentar e hidrológico. Dever-se-ia fazer mais em espécies vegetais mais bem adaptadas a um clima mais seco e quente. As escolhas de culturas (por exemplo, trigo ou milho) e as medidas agrícolas (por exemplo, agricultura sem plantação ou modificação genética das culturas) devem ser consideradas para uma menor utilização de água e um maior reflexo da energia solar. É necessária uma investigação mais aprofundada para saber até que ponto tais medidas são eficazes e desejáveis.

Sobre a investigação
Uma equipa de cientistas (Universidade de Ghent, Universidade e Investigação de Wageningen, VITO, Universidade Loyola Marymount, e Centro Euro-Mediterrânico sobre Alterações Climáticas) analisou ondas de calor de milhões de balões meteorológicos que foram libertados de aeroportos e institutos meteorológicos de todo o mundo durante um período de 35 anos (1981-2015). Estas medições foram combinadas com imagens de satélite e, por sua vez, utilizadas para simulações meteorológicas para avaliar o efeito da dessecação do solo durante ondas de calor mortíferas. Os resultados foram publicados hoje na revista ‘Science Advances’.

AlphaGlileo/HN/NR

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