Estudantes de Medicina entregam propostas aos partidos

11 de Janeiro 2022

A Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM) entregou na segunda-feira aos partidos candidatos às eleições legislativas um ‘dossier’ com várias propostas para a melhoria da formação médica e da saúde em Portugal, como o reforço dos recursos nas escolas médicas.

As tomadas de posição incluídas no “Dossier eleições legislativas 2022” resultam do contributo dos cerca de 10.500 estudantes de Medicina em Portugal.

O novo presidente da ANEM, Francisco Franco Pêgo, disse à Lusa que o objetivo é mostrar aos partidos políticos as “principais bandeiras” dos estudantes e transmitir-lhes o que consideram ser “a melhor forma de chegar a determinados objetivos”, alguns que os próprios partidos propõem.

Disse ainda esperar que os partidos conversem com os estudantes sobre “a melhor forma de implementar boas políticas de saúde e do Ensino Superior, mas também na área da saúde sexual e reprodutiva, direitos humanos e ética médica”.

Entre o conjunto de propostas, Francisco Franco Pêgo destacou “a importância da relação dos serviços de saúde com os refugiados em Portugal” e a “educação para a saúde na escolaridade obrigatória”, nomeadamente a carga horária atribuída à Educação Sexual, para que cumpra os mínimos recomendados (12 sessões de 50 minutos cada).

Sobre os refugiados, a ANEM defende a necessidade de desenvolver formações e campanhas de sensibilização junto dos profissionais do Serviço Nacional de Saúde, alertando-os para as suas necessidades específicas.

O presidente da ANEM realçou também a preocupação com “a formação médica, através das implicações éticas do rácio entre estudantes de Medicina e doentes” e o “assunto mais basilar” de “reforço dos recursos nas escolas médicas portuguesas”.

Os estudantes defendem a adequação das políticas de financiamento público das escolas médicas, compensando qualquer sobrecarga de estudantes imposta a nível central, e garantir que são atrativas para os docentes, através do investimento em modelos de carreira competitivos e que permitam a fixação dos profissionais.

Para Francisco Franco Pêgo, “apenas com a presença de, por exemplo, médicos especialistas no Serviço Nacional de Saúde é possível garantir a sustentabilidade dos sistemas de saúde em capacidade formativa”.

“Apenas se tivermos médicos que estão contratados para prestar serviço à população é que vamos conseguir ter esses médicos também a tutorar a formação de futuros médicos e então a nossa preocupação surge muito nesse sentido”, defendeu.

Apesar de haver a perceção na população em geral de “uma aparente falta de capacidade de aceder à prestação de cuidados de saúde”, disse, “a verdade é que acabamos por encontrar um desinvestimento naquilo que é a prestação final de cuidados”.

“Se formos comparar o número de médicos graduados e o número de médicos formados ‘per capita’ e também o conjunto de escolas médicas ‘per capita’ em Portugal e em outros países da OCDE aquilo que verificamos é que Portugal está acima da média nestas métricas”, enfatizou o presidente da ANEM.

No entanto, ao fazer-se comparações indiretas com outras métricas, como a remuneração dos médicos em Portugal, constata-se que houve uma regressão de 2% no seu vencimento médio, o que “contrasta completamente” com o valor pago no recrutamento de médicos por outros países.

“Às tantas aquilo que existe é que estamos a colocar estudantes a montante a ingressarem em novas escolas médicas (…) quando em boa verdade aquilo que está em falta é um investimento mais a jusante, naquilo que é o investimento na fixação de profissionais de saúde que façam a tutoria de novos médicos internos que se tornem especialistas”, defendeu.

Não havendo esse investimento, vincou, vai afunilar-se a capacidade formativa pós-graduada e impedir que, mesmo que se abram escolas médicas, aumentem o número de estudantes e exista uma capacidade de formação pós-graduada que dê resposta a um aumento da prestação de cuidados de saúde à população.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Álvaro Santos Almeida: “Desafios globais da saúde na próxima década”

Álvaro Santos Almeida, Diretor Executivo do Serviço Nacional de Saúde, destacou hoje, no Cascais International Health Forum 2025 os principais desafios globais da saúde para a próxima década, com ênfase no envelhecimento populacional, escassez de profissionais e a necessidade de maior eficiência no setor.

Boletim Polínico: um guia essencial para os doentes alérgicos

Elaborado pela Rede Portuguesa de Aerobiologia (RPA) – um serviço da Sociedade Portuguesa de Alergologia e Imunologia Clínica (SPAIC) para a comunidade – “o Boletim Polínico pode ajudar os doentes alérgicos a estarem mais atentos e alerta sobre as épocas de polinização das plantas a que são alérgicos e, como tal, tomarem as devidas precauções e seguirem os conselhos dos imunoalergologistas que os acompanham na gestão da doença”, refere Cláudia Penedos, da SPAIC.

Giovanni Viganò: “Itália como laboratório para inovar e implementar reformas no envelhecimento populacional”

Giovanni Viganó, consultor sénior e perito em políticas públicas no Programma Mattone Internazionale Salute (ProMIS), destacou no Cascais International Health Forum 2025 os desafios do envelhecimento populacional e a gestão de doenças crónicas, sublinhando a necessidade de políticas inovadoras e sustentáveis para garantir a viabilidade dos sistemas de saúde em países como Itália e Portugal.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights