“No fim do mês, deveremos ter entre 180 e 250 mil pessoas que podem ir votar, mas que estão isoladas”, adiantou à agência Lusa o professor do departamento de matemática do Instituto Superior Técnico, que não inclui neste universo os menores de 18 anos e os potenciais abstencionistas, com base no histórico de participação em anteriores eleições.
Segundo Henrique Oliveira, a previsão do total de isolamentos devido à Covid-19 em 30 de janeiro, dia das eleições para a Assembleia da República, é de 450 a 500 mil pessoas, com um mínimo estimado de cerca de 300 mil.
“Nas últimas eleições houve cerca de 50% de abstenção. Nem toda a gente que está isolada quer ir votar”, salientou o matemático, para quem “entre 180 e 250 mil são aqueles para quem é necessário arranjar um sistema que os leve a votar” nas próximas legislativas.
O especialista em sistemas dinâmicos estimou ainda que o pico da atual vaga pandémica possa acontecer em Portugal entre 20 e 24 deste mês, quando o país poderá ter entre 100 e 130 mil infeções diárias pelo coronavírus SARS-CoV-2, das quais poderão ser reportadas pelas autoridades de saúde cerca de 45 mil.
“Em 30 de janeiro já devemos ter passado o pico e estar a descer bastante na incidência, mas, nessa altura, ainda podemos ter internamentos elevados e um número de mortes na ordem das 30 por dia”, tendo em conta a diferença de tempo que existe entre a infeção e o óbito, prevê.
A estimativa é que, nesta vaga, o número de mortes, na média a sete dias, possa atingir o máximo de 30 a 35 e que os doentes em cuidados intensivos cheguem aos 240 e os internamentos gerais aos 2.500.
“O número de mortes, em média a sete dias, vai continuar a subir gradualmente. A nossa previsão é que a mortalidade se vai manter acima dos 20. Ontem (quarta-feira) atingimos 21,7 mortes em média a sete dias, o que não acontecia há dez meses”, alertou.
De acordo com o matemático, até há dois dias, a positividade dos testes, também na média a sete dias, estava em 12,7%, um valor “elevadíssimo” e que representa o triplo da taxa de setembro, o que significa que o país pode estar com três vezes mais casos do que os registados pelas autoridades de saúde.
“A testagem só revela a ponta do iceberg. Os casos ainda estão elevados”, alertou.
Em declarações à Lusa, o professor recorreu também ao indicador desenvolvido por especialistas do Instituto Superior Técnico e pela Ordem dos Médicos, assente nos dados dos internamentos, dos cuidados intensivos, da letalidade, da incidência e do índice de transmissibilidade (Rt), para perspetivar a pressão sobre os serviços de saúde.
De acordo com Henrique Oliveira, na quarta-feira Portugal estava no índice 97,6, apenas a 2,4 pontos do limiar de 100, a partir do qual a resposta do sistema de saúde a outras patologias fica comprometida.
“Vamos passar os 100 pontos, o que significa que estamos a hipotecar a capacidade do sistema para tratar pessoas que não têm covid-19, mas provavelmente não vamos atingir os 120”, que é o valor previsto neste sistema para o nível de catástrofe na resposta de saúde, estimou.
Perante os dados atuais, Henrique Oliveira constatou que a Covid-19 “é a doença contagiosa que continua a matar mais em Portugal”, ainda responsável por uma média superior a 20 óbitos diários.
“Não há nenhuma doença infecciosa que ponha cerca de 160 pessoas nos cuidados intensivos. É uma percentagem brutal das camas disponíveis para doença infecciosa”, disse o matemático, ao salientar, porém, que os números atuais são muito inferiores aos registados na vaga do início de 2021.
Em 30 de janeiro de 2021, apenas um mês depois de ter arrancado a vacinação, Portugal registou 12.435 infeções pelo coronavírus, menos 28.510 do que os 40.945 casos notificados na quarta-feira, mas a pressão sobre os serviços de saúde era muito superior, assim como o número de óbitos.
Nesse dia de 2021 foram registadas 293 mortes associadas à Covid-19, 6.544 doentes estavam internados em enfermaria e 843 necessitavam de cuidados intensivos, enquanto na última quarta-feira registaram-se 20 óbitos e 1.635 internados e 167 pessoas em unidades de medicina intensiva.
Ou seja, o número de pessoas que morreram na quarta-feira, em comparação com 30 de janeiro de 2021, é 93% mais baixo, estando internados menos 75% dos doentes em enfermaria e 80% em cuidados intensivos, numa altura em que 8,7 milhões de pessoas têm a vacinação completa e quase 3,5 milhões receberam a dose de reforço.
LUSA/HN
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