“Em Tigray, artigos de uso único como luvas, material cirúrgico e drenos torácicos estão a ser lavados e reutilizados, aumentando o risco de infeção”, disse Apollo Barasa, coordenador de saúde da organização na Etiópia, numa declaração, sem responsabilizar qualquer das partes em conflito pelo bloqueio.
Os médicos do Hospital Ayder em Mekele, a capital do Tigray (norte do país), lançaram o alerta no início de janeiro, relatando que os pacientes estavam a morrer de doenças tratáveis devido à falta de provisões.
“Fomos forçados a trabalhar num hospital sem líquidos intravenosos, luvas, mesmo os antibióticos mais utilizados, analgésicos, medicamentos vitais para mulheres em trabalho de parto, medicamentos para vários tipos de doenças mentais, testes laboratoriais básicos e muitos outros medicamentos essenciais”, disseram os médicos numa declaração divulgada via Facebook.
Além disso, o fornecimento de oxigénio ao hospital “tornou-se muito pouco fiável” e a avaria de equipamentos para os quais não podem obter peças sobressalentes causou a morte de pacientes, enquanto que os cortes de energia se tornaram cada vez mais frequentes.
“Utilizámos (…) medicamentos vencidos quando é a única opção que nos resta”, disseram os profissionais do centro médico, onde os doentes que precisam de diálise “estão a morrer” e os doentes com cancros tratáveis não podem receber os cuidados necessários.
Ao mesmo tempo, “alguns hospitais em Amhara fecharam devido à falta de medicamentos”, segundo Micha Wedekind, chefe do CICV das regiões vizinhas de Amhara e Afar, também atingidas pelo conflito.
Na semana passada, a Organização Mundial de Saúde (OMS) disse que não conseguia fazer chegar os suprimentos médicos essenciais para o Tigray desde julho, algo duramente criticado pelo responsável desta agência das Nações Unidas.
“Comunicámos com o primeiro-ministro e o ministro dos Negócios Estrangeiros, mas não conseguimos obter autorização. Desde julho não temos conseguido fazer chegar nada, nenhum medicamento”, disse o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, numa posição entretanto criticada pelo Governo de Abiy Ahmed.
A guerra no Tigray eclodiu em 04 de novembro de 2020, quando o primeiro-ministro, Abiy Ahmed, enviou o Exército federal para a província no norte do país, com a missão de retirar pela força as autoridades locais, que vinham a desafiar a autoridade de Adis Abeba há meses.
O conflito provocou a morte de vários milhares de pessoas e fez mais de dois milhões de deslocados, deixando ainda centenas de milhares de etíopes em condições de quase fome, de acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU).
Os intensos esforços diplomáticos, incluindo os da União Africana, para alcançar um cessar-fogo, não produziram até agora qualquer progresso decisivo.
LUSA/HN
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