“Podemos dizer que gastamos dois terços em medicamentos e, se calhar, os medicamentos não têm dois terços da importância no tratamento do cancro, nomeadamente nos tumores não hematológicos, que é essencialmente cirúrgico”, observou.
O médico oncologista salientou que a cirurgia é o tratamento e até a cura da maior parte dos cancros, mas admitiu que esta despesa com medicamentos “é inevitável” e que “não é um problema específico do IPO de Lisboa, não é um problema específico de Portugal, mas é um problema”.
Analisando a evolução da despesa com medicamentos nos últimos três anos, precisou que, em 2019, foi de 46 milhões de euros, em 2020 aumentou para 53 milhões e no ano passado a estimativa aponta para um valor acima de 66 milhões.
Sobre as razões deste aumento, afirmou: “O número de doentes tratados não aumentou, o que aumentou foi o número de medicamentos que é aplicado a cada doente e aumentou sobretudo o preço unitário dos medicamentos”.
“Não há nenhum medicamento que venha mais barato do que o anterior e, muitas vezes, medicamentos que se tornam mais baratos, porque já são mais antigos, são substituídos sempre por medicamentos mais novos e mais caros, às vezes, sem um acréscimo correspondente de benefício”, sustentou.
Mas, disse, “é assim que o mercado funciona. O que é certo é que quer em Portugal quer nos outros países não parece ter diminuído a disponibilidade para pagar”.
João Oliveira sublinhou que as empresas farmacêuticas vão colocando os medicamentos no mercado ao preço que percebem que quem compra está disposto a pagar e, vincou, “tem sido impossível até agora romper esta cascata”.
“Há ‘démarches’ a nível europeu e a nível internacional, mas não vi grandes resultados. É quase um fatalismo”, criticou.
Questionado se a despesa também aumentou por serem medicamentos inovadores, comentou que geralmente quando nascem já vêm com “cara inovadora” e já vão ser pagos como inovadores.
“Também é um vício de prática que precisava ser corrigido e que eu espero que a literacia sobre a saúde, o conhecimento e a compreensão do que se passa exatamente na prestação de cuidados venha a corrigir isto no futuro, mas é um caminho prolongado”, lamentou.
O presidente do IPO de Lisboa, que está prestes a terminar o seu mandato, notou que enquanto cada nova contratação “é escrutinada finamente” pelos ministérios da Saúde e das Finanças, mesmo que seja para empregar uma pessoa com o ordenado mínimo, já no que respeita a “esta enorme despesa com medicamentos há muito pouco escrutínio”.
“Percebemos que isso é um sinal de confiança por parte do Governo e das outras entidades escrutinadoras sobre a utilização que fazemos dos medicamentos, mas também por isso é que um instituto como o IPO se sente na obrigação de avaliar o mais rigorosamente possível de que forma é que está a fazer essa despesa”, defendeu.
No seu entender, isso é uma obrigação do Instituto até pelos ensinamentos que pode dar para o resto do Serviço Nacional de Saúde sobre a utilização de medicamentos.
“Queremos fazer jus à confiança que em nós depositam perante as entidades de que dependemos, uma confiança que nos permite lidar com estas despesas enormes, mas achamos que devemos corresponder a essa confiança com maior investigação sobre a efetividade destes tratamentos”, reconheceu João Oliveira.
LUSA/HN
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