MSF apela à África do Sul para revogar patentes a farmacêuticas norte-americanas

9 de Fevereiro 2022

A organização Médicos Sem Fronteiras apelou esta quarta-feira à África do Sul para revogar patentes concedidas às farmacêuticas Eli Lilly e Moderna para produção de vacinas e medicamentos contra a Covid-19, que acusa de restringir o “acesso” aos seus produtos.

“Também se apela ao Governo sul-africano para que tome medidas urgentes para reformar as leis de patentes ultrapassadas, que conduzem à proliferação de monopólios imerecidos”, declarou a Médicos Sem Fronteiras (MSF), citada pela agência Efe, numa declaração conjunta com o Movimento de Saúde da População, uma rede de organizações ativistas na área da saúde.

A África do Sul concedeu uma patente à farmacêutica norte-americana Eli Lilly para produção do medicamento baricitinib, remédio para a artrite reumatoide, recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para tratamento de pacientes com Covid-19 aguda, segundo as organizações na declaração.

O medicamento é de fácil administração em favelas e bairros vulneráveis, onde a MSF leva a cabo grande parte da sua atividade.

A patente concedida à Eli Lilly, no entanto, impede o acesso na África do Sul a versões genéricas do medicamento, tais como as fabricadas na Índia e Bangladesh, que nesses países são comercializadas por 7 dólares (6,12 euros) para um tratamento de 14 dias, valor que compara com 1.109 dólares (970,2 euros) nos Estados Unidos da América e 270 dólares (236,2 euros) na África do Sul.

“É escandaloso que as pessoas na África do Sul estejam a ser privadas do acesso a tratamentos anti-covid-19 que salvam vidas, como o baricitinib, por causa das patentes”, afirmou Tom Ellman, diretor da unidade médica da MSF para a África Austral, citado na declaração.

A MSF sublinha igualmente que a produção de vacinas de ARN mensageiro na África do Sul “pode ser afetada” pelo facto de “a África do Sul ter concedido à [norte-americana] Moderna pelo menos três patentes” relacionadas com este tipo de produto.

“Estas patentes podem criar riscos legais e potenciais disputas de patentes com as entidades que adquirem tecnologias do Centro de Transferência de Tecnologia de Vacinas ARNm contra a covid-19 (um projeto desenvolvido pela África do Sul na Cidade do Cabo, em colaboração com a OMS)”, lamentam as organizações não-governamentais.

“Ao mesmo tempo que a África do Sul lidera (juntamente com a Índia) uma proposta histórica de isenção de direitos de propriedade intelectual entregue à Organização Mundial do Comércio, o Governo deveria tomar medidas imediatas para abordar o acesso aos medicamentos a nível interno e dar prioridade a uma lei de reforma de patentes”, defendeu Candice Sehoma, consultora da MSF para a África do Sul.

A África do Sul, com 3,6 milhões de casos de infeção registados até agora e cerca de 96.000 mortes associadas à Covid-19, é o principal foco da pandemia no continente africano, mas apenas cerca de 28% da sua população se encontra totalmente vacinada.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Mónica Nave: “É muito importante conhecer as histórias familiares de doença oncológica”

No âmbito do Dia Mundial do Cancro do Ovário, a especialista em Oncologia, Mónica Nave, falou ao HealthNews sobre a gravidade da doença e a importância de conhecer histórias familiares de doença oncológica. Em entrevista, a médica abordou ainda alguns dos principais sintomas. De acordo com os dados da GLOBOCAN 2022, em Portugal foram diagnosticados 682 novos casos de cancro do ovário em 2022. No mesmo ano foi responsável por 472 mortes, colocando-o como o oitavo cancro mais mortal no sexo feminino.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights