Inspirados no “Freedom Convoy” (“Comboio da Liberdade”), movimento lançado no Canadá para protestar contra as restrições sanitárias impostas no âmbito da pandemia, os organizadores franceses contestam o certificado de vacinação, que entrou em vigor no país no dia 24 de janeiro, e afirmam ser “coletes amarelos”, movimento de protesto popular iniciado em França em 2018-2019 que foi desencadeado pelo aumento do preço dos combustíveis e que se transformou numa onda de contestação contra o Presidente francês, Emmanuel Macron.
Os primeiros “Comboios da Liberdade” franceses – como lhe chamam os manifestantes – partiram na quarta-feira em vários tipos de veículos a partir de Nice (sudeste), Bayonne e Perpignan (sudoeste), juntando-se a outros ativistas que partiram de manhã de locais mais próximos de Paris.
Negando qualquer intenção de fazer um bloqueio, os participantes esperam juntar-se, esta noite, em Paris, passar a noite no local e participar, no sábado, nas várias manifestações semanais contra o certificado de vacinação e outras medidas restritivas ligadas ao combate da pandemia de Covid-19.
Estas manifestações contra a vacinação adotaram, entretanto, outras reivindicações, como a melhoria do poder de compra, que se tornou um tema importante devido à inflação e ao aumento do preço dos combustíveis.
Alguns dos manifestantes querem tentar seguir de Paris para Bruxelas, para conseguir aquilo que chamam uma “convergência europeia” na segunda-feira.
No entanto, as autoridades belgas decidiram negar-lhes o acesso à capital, alegando não ter sido entregue nenhum pedido de autorização atempadamente.
Em Paris, as autoridades policiais locais também decretaram na quinta-feira a proibição desta mobilização devido aos “riscos de perturbação da ordem pública” e mobilizaram um dispositivo “para impedir o bloqueio de estradas, ordenando a saída ou detendo os infratores”.
Os manifestantes apresentaram, entretanto, um recurso contra essa proibição, que deverá ser examinado hoje à tarde pelo tribunal administrativo de Paris.
“Se as pessoas quiserem manifestar-se normalmente, podem fazê-lo. Se quiserem bloquear o tráfego, vamos intervir”, alertou, na quinta-feira, o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, em declarações ao canal de televisão LCI.
As autoridades francesas anunciaram, esta semana, o fim do certificado de vacinação “até ao final de março” ou “início de abril”, mas o porta-voz do Governo, Gabriel Attal, alertou hoje contra uma “tentativa de instrumentalização” política do “cansaço dos franceses” relativamente à crise sanitária, depois de dois anos de restrições.
Uma nova crise do tipo “coletes amarelos” seria particularmente má para o poder, sobretudo antes do anúncio oficial da recandidatura de Macron à presidência, esperada para o final do mês.
Vários candidatos presidenciais anunciaram, entretanto, apoio ao movimento, incluindo Marine Le Pen, Éric Zemmour (extrema-direita) ou o partido de esquerda radical La France insoumise (França Rebelde, em tradução livre, LFI).
Por outro lado, outros candidatos – como o ambientalista Yannick Jadot – distanciaram-se do movimento, argumentando que apesar de apoiar o direito à manifestação, compreende a necessidade de não permitir que Paris seja bloqueada, como aconteceu na capital do Canadá, Otava.
No Canadá, um movimento de protesto iniciado por camionistas, para quem a vacina anti-Covid-19 é obrigatória se quiserem atravessar a fronteira para os Estados Unidos, paralisa a capital, Otava, há vários dias e já abrange outros pontos do país.
As autoridades locais de Otava declararam, no fim de semana passado, o “estado de emergência”.
O movimento canadiano visava inicialmente protestar contra a decisão das autoridades de exigirem, desde meados de janeiro, que os camionistas fossem vacinados para atravessar a fronteira, mas rapidamente se transformou num protesto geral contra as medidas sanitárias para evitar a propagação da pandemia de Covid-19 e também, para alguns, contra o Governo liderado por Justin Trudeau.
LUSA/HN
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