Milhares de franceses anti-certificado de vacina dirigem-se para Paris

11 de Fevereiro 2022

Milhares de opositores das medidas anti-Covid-19 partiram esta sexta-feira de toda a França, numa caravana de veículos, com o objetivo de chegar aos arredores de Paris esta noite, apesar dos avisos das autoridades para evitar qualquer bloqueio.

Inspirados no “Freedom Convoy” (“Comboio da Liberdade”), movimento lançado no Canadá para protestar contra as restrições sanitárias impostas no âmbito da pandemia, os organizadores franceses contestam o certificado de vacinação, que entrou em vigor no país no dia 24 de janeiro, e afirmam ser “coletes amarelos”, movimento de protesto popular iniciado em França em 2018-2019 que foi desencadeado pelo aumento do preço dos combustíveis e que se transformou numa onda de contestação contra o Presidente francês, Emmanuel Macron.

Os primeiros “Comboios da Liberdade” franceses – como lhe chamam os manifestantes – partiram na quarta-feira em vários tipos de veículos a partir de Nice (sudeste), Bayonne e Perpignan (sudoeste), juntando-se a outros ativistas que partiram de manhã de locais mais próximos de Paris.

Negando qualquer intenção de fazer um bloqueio, os participantes esperam juntar-se, esta noite, em Paris, passar a noite no local e participar, no sábado, nas várias manifestações semanais contra o certificado de vacinação e outras medidas restritivas ligadas ao combate da pandemia de Covid-19.

Estas manifestações contra a vacinação adotaram, entretanto, outras reivindicações, como a melhoria do poder de compra, que se tornou um tema importante devido à inflação e ao aumento do preço dos combustíveis.

Alguns dos manifestantes querem tentar seguir de Paris para Bruxelas, para conseguir aquilo que chamam uma “convergência europeia” na segunda-feira.

No entanto, as autoridades belgas decidiram negar-lhes o acesso à capital, alegando não ter sido entregue nenhum pedido de autorização atempadamente.

Em Paris, as autoridades policiais locais também decretaram na quinta-feira a proibição desta mobilização devido aos “riscos de perturbação da ordem pública” e mobilizaram um dispositivo “para impedir o bloqueio de estradas, ordenando a saída ou detendo os infratores”.

Os manifestantes apresentaram, entretanto, um recurso contra essa proibição, que deverá ser examinado hoje à tarde pelo tribunal administrativo de Paris.

“Se as pessoas quiserem manifestar-se normalmente, podem fazê-lo. Se quiserem bloquear o tráfego, vamos intervir”, alertou, na quinta-feira, o ministro do Interior francês, Gerald Darmanin, em declarações ao canal de televisão LCI.

As autoridades francesas anunciaram, esta semana, o fim do certificado de vacinação “até ao final de março” ou “início de abril”, mas o porta-voz do Governo, Gabriel Attal, alertou hoje contra uma “tentativa de instrumentalização” política do “cansaço dos franceses” relativamente à crise sanitária, depois de dois anos de restrições.

Uma nova crise do tipo “coletes amarelos” seria particularmente má para o poder, sobretudo antes do anúncio oficial da recandidatura de Macron à presidência, esperada para o final do mês.

Vários candidatos presidenciais anunciaram, entretanto, apoio ao movimento, incluindo Marine Le Pen, Éric Zemmour (extrema-direita) ou o partido de esquerda radical La France insoumise (França Rebelde, em tradução livre, LFI).

Por outro lado, outros candidatos – como o ambientalista Yannick Jadot – distanciaram-se do movimento, argumentando que apesar de apoiar o direito à manifestação, compreende a necessidade de não permitir que Paris seja bloqueada, como aconteceu na capital do Canadá, Otava.

No Canadá, um movimento de protesto iniciado por camionistas, para quem a vacina anti-Covid-19 é obrigatória se quiserem atravessar a fronteira para os Estados Unidos, paralisa a capital, Otava, há vários dias e já abrange outros pontos do país.

As autoridades locais de Otava declararam, no fim de semana passado, o “estado de emergência”.

O movimento canadiano visava inicialmente protestar contra a decisão das autoridades de exigirem, desde meados de janeiro, que os camionistas fossem vacinados para atravessar a fronteira, mas rapidamente se transformou num protesto geral contra as medidas sanitárias para evitar a propagação da pandemia de Covid-19 e também, para alguns, contra o Governo liderado por Justin Trudeau.

LUSA/HN

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