Hospitais assistiram doentes cardíacos em “péssimas” condições

12 de Fevereiro 2022

O coordenador do Programa Nacional para as Doenças Cérebro-Cardiovasculares, Filipe Macedo, disse na sexta-feira que, devido ao medo da pandemia, os doentes chegaram em condições “péssimas” aos hospitais, com situações que não se viam “há muitos anos”.

Em declarações à agência Lusa, à margem do Fórum Equidade e Acessibilidade na era Covid-19, promovido pela Sociedade Portuguesa de Cardiologia, o coordenador do programa da Direção-Geral da Saúde (DGS) recordou os impactos da pandemia nos doentes cardíacos.

“No início da pandemia, estamos a falar de 2020, tudo isto era desconhecido, os profissionais de saúde, os doentes estavam com muito medo de tudo o que poderia acontecer e houve claramente uma diminuição drástica de doentes que chegavam aos nossos hospitais relativamente à doença cérebro-cardiovascular”, contou.

Na altura, só se ouvia falar da pandemia de Covid-19 e os doentes “tinham medo e ficavam em casa”, o que gerou “uma situação crítica”.

“Os doentes com situações agudas passaram a chegar ao hospital muito mais tarde”, disse, observando que os doentes com síndrome coronariana aguda devem ser tratados nas primeiras horas, mas o que aconteceu foi que muitos chegaram “dois, três ou quatro dias depois em situações péssimas”.

“No nosso Hospital São João [no Porto], que no fundo é a realidade nacional, voltámos a ter roturas cardíacas, disfunções graves do ventrículo esquerdo, choque cardiogénico [quando o coração perde capacidade para bombear sangue em quantidade suficiente], múltiplas complicações mecânicas que já não víamos há muitos anos pela circunstância de que os doentes chegavam muito tarde e não se fazia a desobstrução mecânica da síndrome coronária aguda”, adiantou.

Em 2021, a situação alterou-se: “Com um trabalho enorme feito quer pela DGS, quer pelas administrações hospitalares, conseguimos que a população tivesse confiança e tivesse a noção clara que havia sempre circuitos distintos, circuitos covid e circuitos não coloridos”.

Filipe Macedo destacou também a “ajuda muito importante” do programa de vacinação contra a Covid-19: “À medida que as pessoas foram vacinadas tiveram mais confiança e deixámos de assistir a situações críticas e agudas”.

Toda esta situação refletiu-se nos números obtidos a nível do desempenho, nomeadamente nas consultas, nos meios complementares de diagnóstico e cirurgias. “Foi um número que excedeu todas as expectativas e, portanto, a nossa opinião é que estamos claramente no bom caminho”, declarou.

O especialista espera que, com a chegada do verão, se possa dizer que a pandemia vai desaparecer, ou ficar uma situação crónica, para voltar aos “números normais” relativamente às doenças cérebro-cardiovasculares.

LUSA/HN

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