Metade das grávidas expostas a publicidade agressiva ao leite de fórmula

23 de Fevereiro 2022

Metade das mulheres grávidas são expostas a publicidade agressiva a substitutos do leite materno, que influenciam também profissionais de saúde, segundo um estudo da OMS e da Unicef divulgado na terça-feira, que recomenda a amamentação.

O estudo promovido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Unicef (Fundo Internacional de Emergência das Nações Unidas para as Crianças) envolveu 8.500 pais e mulheres grávidas e 300 profissionais de saúde de oito países e as conclusões apontam um impacto mais ou menos transversal da publicidade.

De acordo com o relatório “Como a publicidade ao leite de fórmula influencia as decisões sobre a alimentação dos nossos filhos”, 51% dos pais foram expostos ao ‘marketing’ a estes produtos, em muitos casos em violação das normas internacionais de alimentação infantil.

Estas estratégias para influenciar as escolhas das famílias geram cerca de 48 mil milhões de euros em vendas e, segundo a OMS e a Unicef, são frequentemente contrárias ao Código Internacional de Comercialização de Substitutos do Leite Materno, enganadoras e não cientificas.

Entre os argumentos mais utilizados pelos fabricantes, o relatório refere como exemplo que muitas vezes é explicado aos pais que nos primeiros dias após o nascimento deve ser dada fórmula artificial aos bebés, alegando que o leite materno não está adaptado às necessidades nutricionais do recém-nascido.

Refere-se também que as fórmulas têm demonstrado conter substâncias que melhoram o desenvolvimento e imunidade da criança, que estes leites saciam os bebés durante mais tempo ou que a qualidade do leite materno vai diminuindo.

Este discurso acaba por ser bem-sucedido em muitos casos e, segundo as conclusões, se em todos os países a maioria das mulheres manifestaram a intenção de amamentar exclusivamente os seus filhos, o relatório refere que existe um fluxo constante de publicidade que reforça os mitos sobre o leite materno e leva as mulheres a questionarem a sua capacidade de amamentar.

Entre os países analisados – Reino Unido, Vietname, China, Bangladesh, México, Marrocos, Nigéria, e África do Sul -, foi nos três primeiros onde mais mulheres inquiridas foram expostas a ações de ‘marketing’ para substitutos de leite materno (84% no Reino Unido, 92% no Vietname e 97% na China).

Por outro lado, as mulheres são também influenciadas pelos próprios profissionais de saúde, a quem os fabricantes de leite de fórmula também tentam chegar, oferecendo, por exemplo, amostras grátis, fundos de investigação, comissões sobre vendas, ou organizando eventos e conferências com despesas pagas.

De acordo com o relatório, mais de um terço das mulheres inquiridas referiu que um profissional de saúde tinha recomendado uma determinada marca de fórmula infantil.

“A informação falsa e enganosa sobre os substitutos do leite materno é um grande obstáculo à amamentação, que sabemos ser a melhor solução para os bebés e para as suas mães”, sublinhou a diretora executiva da Unicef, Catherine Russell.

Dos benefícios da amamentação, o estudo destaca que “é um excelente método para combater todas as formas de subnutrição infantil, incluindo o baixo peso e estrutura para a idade, e a obesidade” e ajuda a proteger contra doenças infantis comuns.

Ainda assim, dados globais indicam que apenas 44% das crianças com menos de seis meses de idade são exclusivamente amamentadas e que nas últimas duas décadas duplicaram as vendas de substitutos do leite materno.

“Este relatório deixa bem claro que a comercialização de substitutos do leite materno é demasiado generalizada, excessivamente enganadora e zelosa. A regulamentação sobre comercialização enganosa é urgente e estes regulamentos devem ser aplicados para proteger a saúde das crianças”, defende Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da OMS.

Quanto a recomendações para os decisores políticos, as duas organizações defendem uma maior regulamentação e controlo do cumprimento das leis para impedir a promoção de substitutos de leite materno, proibindo também que os trabalhadores de saúde possam aceitar patrocínios de empresas que comercializam alimentos para bebés e crianças.

Recomendam também o investimento em políticas e programas de apoio ao aleitamento materno e a exigência aos fabricantes no sentido de se comprometerem publicamente a cumprir o código internacional.

LUSA/HN

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