Preços dos combustíveis líquidos subiram mais de 11% em dois anos

27 de Fevereiro 2022

Os consumidores em Portugal viram os preços dos combustíveis líquidos, como gasóleo e gasolina, subir 11,1% e os do gás 7,2% nos últimos dois anos, segundo os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) analisados pela Lusa.

“O que mais impactou o custo de vida dos portugueses foi claramente a classe da energia, que teve um disparar de preços brutal”, refere Vítor Machado, diretor da Área de Produtos e Serviços da Deco Proteste, à Lusa.

O índice de preços no consumidor, medido pelo INE, revela que os produtos energéticos foram dos que registaram a maior variação entre janeiro de 2020 e janeiro deste ano, a par de bens essenciais alimentares onde também se observam aumentos expressivos, alguns a superar já os dois dígitos.

Segundo os dados analisados pela Lusa, no período considerado, o preço do gás registou uma subida de 7,2%, tendo o da eletricidade avançado 4,4% e o dos combustíveis sólidos observado um agravamento de 6,9%.

Os valores, sentidos pelos consumidores cada vez que têm de abastecer o carro ou de pagar a conta da luz e do gás, não surpreendem Vítor Machado que, em declarações à Lusa, se manifestou convicto de que esta “pressão altista” dos preços da energia ainda vai durar, com o atual conflito no Leste da Europa a pressionar ainda mais os mercados.

No atual contexto “tudo indica que continuará a pressão nos mercados energéticos”, refere, acentuando o “efeito de contaminação” a toda a cadeia de valor que a energia e os combustíveis têm.

“A energia é o sangue que faz circular toda a economia e quando se encontra febril acaba por contaminar todo o corpo”, refere o responsável da Deco Proteste numa alusão à subida generalizada dos preços dos produtos que compõem o cabaz de preços do INE.

No espaço de dois anos, os preços dos materiais para construção e reparação de habitações, por exemplo, subiram 6,5%, menos, ainda assim, do que os 10,6% de agravamento registados nos serviços relacionados com a reparação e manutenção de casas. O preço do abastecimento de água, por seu lado, subiu 0,4%.

Na categoria de acessórios para o lar e equipamentos domésticos, por seu lado, a evolução não foi toda de subida. Os preços do mobiliário e acessórios avançaram 7,4%, mas é possível encontrar vários itens em que a variação é negativa. É este o caso dos têxteis de uso doméstico (descida de 0,8%), dos pequenos eletrodomésticos (-7,3%) ou dos grandes aparelhos domésticos (-2,2%).

Porém o preço da reparação destes equipamentos avançou 3,5%.

Na classe da saúde, os preços registaram igualmente uma subida no período considerado e o mesmo se passou, genericamente, nos transportes, ainda que a evolução dos vários produtos que integram esta classe tenha observado direções diferentes.

Entre janeiro de 2020 e janeiro deste ano, o preço dos automóveis aumentou 6,7% e o das motas 4,8%. Variações ainda assim inferiores à subida de 8,2% nas bicicletas.

Inversamente, os preços dos transportes rodoviários e aéreos de passageiros recuaram 1,4% e 29,2%, respetivamente.

O vestuário e calçado estão entre os produtos cujos preços menos subiram ou não subiram de todo, com o vestuário a aumentar 1,4% e o calçado a recuar 0,6% – refletindo algum impacto da pandemia no modo de vida e de trabalhar ao longo destes últimos dois anos.

Pelo impacto que tem na vida e no bolso dos portugueses, Vítor Machado destaca (a par da fatura energética, habitação e alimentação) a evolução dos preços dos serviços financeiros, que subiram 6,9%.

O responsável da Deco Proteste associa esta evolução “ao conjunto de comissões que foram sendo reanimadas e que têm vindo a contaminar as poupanças dos portugueses”, uma vez que não encontram “semelhante de compensação do lado da remuneração dos capitais”.

Perante o aumento dos preços – e o cenário de uma subida dos juros por parte do Banco Central Europeu (BCE) – Vítor Machado chama a atenção para o impacto que tal terá nas decisões de investimento das famílias.

“São decisões de consumo que vão ser adiadas e que vão impactar as empresas e adiar a retoma”, precisa, assinalando que esta crise poderá ter um efeito semelhante à de 2011, em que se assistiu a uma diminuição de rendimentos (por via do desemprego, aumento de impostos e cortes salariais).

“Esta crise é diferente. Passa pelo ‘esmifrar’ do poder de compra com o aumento de preços, enquanto em 2011 foi mais de diminuição de rendimentos. Mas o efeito é o mesmo: diminuição do poder de compra”, precisa Vítor Machado.

LUSA/HN

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