HealthNews (HN)- O que é que vos levou a organizar reuniões conjuntas a partir de 2020? Foi nessas reuniões dos centros de formação do SNS que surgiu a ideia de criar a Associação Portuguesa de Centros de Formação do SNS (APCEF-SNS)?
Jorge Oliveira (JO)- Durante o período da pandemia de Covid-19, os centros de formação tinham menos trabalho, porque a formação estava parada e porque estávamos num contexto difícil de pensar em atividades formativas. A ideia surgiu da ULS de Matosinhos. Eu comecei a pensar no que é que os outros centros estariam a fazer e já tinha a ideia de pensarmos num congresso que pudesse agregar todos os centros. Comecei a ligar para os centros e percebi que todos estavam com muitas dúvidas e não sabiam o que fazer.
Começámos a preparar, então, reuniões por Zoom com alguns, para falarmos das dificuldades que estávamos a sentir e percebermos como podíamos fazer formação online – uma atividade que ainda não era muito utilizada. Éramos cinco ou seis. Ao fim de um ano, já éramos 22 centros de formação, cada vez com mais vontade de estar nas reuniões, de falarmos sobre dificuldades e a necessidade de a formação ser cada vez mais um veículo importante nas unidades de saúde.
Surgiu a ideia de criarmos um encontro nacional para falarmos sobre as áreas mais difíceis, nomeadamente a avaliação do impacto da formação e a formação na atualidade, que tem de ter outros recursos além da formação em sala. “Se vamos criar um congresso, se já estamos unidos, se somos já um grupo informal – até aí não havia quase contacto, cada um trabalhava por si -, porque não criarmos uma associação?”, pensámos então. Acho que foi tudo muito democrático. Eu fui liderando as coisas, mas com a participação de todos, e acho que isso é muito importante. Todas as unidades de saúde deram o seu máximo.
Quisemos unir as unidades de saúde em prol de um objetivo comum, a formação de excelência nos hospitais, nos centros de saúde, nas ARS. E assim foi. Fizemos um documento, que enviámos aos nossos conselhos de administração, para aderirmos, e assumíamos assim que aquela unidade de saúde estava fidelizada e era sócia fundadora. A verdade é que foi muito fácil. Temos de manifestar o nosso maior agradecimento a todos os conselhos, e eu começo pelo meu, porque deu-me liberdade total para liderar o processo. Portanto, neste momento, tenho 22 cartas, assinadas pelos 22 conselhos de administração das 22 unidades de saúde, a dizer que querem fazer parte desta associação e que delegam num diretor a sua operacionalidade. Temos, a partir daí, um mundo de coisas a acontecer. Acho que a associação vai ter um papel importante na área da saúde em Portugal e no desenvolvimento da formação de excelência que queremos junto do Sistema Nacional de Saúde.
HN- Quais são os principais objetivos da associação?
JO- Os objetivos são vários e já temos um plano de atividades quase pronto, mas, acima de tudo, queremos criar uma rede formal para o debate das melhores metodologias a utilizar no processo formativo; contribuir para diminuir as dificuldades que cada unidade possa ter, ou seja, a ideia é criarmos um patamar mínimo de excelência e uniformizar os modelos das várias unidades; e criar projetos conjuntos, nomeadamente congressos. Este ano, o congresso será no Porto; o próximo será no Alentejo; depois, em 2024, acontecerá em Lisboa; e no final do mandato desta lista, em 2025, nos Açores.
Pretendemos também fomentar a partilha de informação, a nível formativo, nos ensinos clínicos ou mesmo na investigação, e queremos melhorar os processos formativos do Sistema Nacional de Saúde, difundir as boas práticas demonstradas pelos sócios, criar parcerias internacionais, com universidades, com institutos de investigação e, no fundo, fazer com que haja aqui uma rede de suporte, que possa fazer com que as unidades de saúde em Portugal sejam unidades escola de excelência. Ou seja, os hospitais e os centros de saúde são unidades de excelência na saúde, mas também podem sê-lo nos processos formativos, tendo ligações ao mundo académico, para que realmente possamos fazer coisas incríveis ao nível da melhoria das competências.
Por outro lado, acreditamos que os centros de formação têm de ser espaços que fomentam a humanização nas unidades de saúde. Ou seja, a formação tem de passar também por um modelo centrado no colaborador das unidades. Por isso, fomentamos muito a formação transversal, que abarca processos de humanização e investe noutras áreas fundamentais, como, por exemplo, a felicidade. Isso consegue-se através de formações de competências relacionais, de processos de coaching, de dinâmicas de grupo. Isso vai fazer aumentar a felicidade dentro das organizações e, por conseguinte, trazer melhores resultados, com mais saúde, que é o que todos queremos.
Por último, gostávamos muito que a nossa revista já existisse no final deste mandato e queremos ter reuniões com a tutela, com as instâncias superiores, para que cada vez mais a formação seja vista como um elo estruturante das unidades de saúde. Será criado um site de comunicação, uma newsletter e uma base de dados nacional para formadores do Serviço Nacional de Saúde. Tencionamos criar modelos de referência para escolher os melhores formadores, que servirão as unidades de saúde que integram a associação.
HN- O que espera do I Encontro Nacional de Centros de Formação do Sistema Nacional de Saúde? Quais os principais temas em debate?
JO- Vamos tornar “real” aquilo que tem sido virtual nos últimos anos. Ou seja, nós temo-nos reunido, mas a verdade é que não nos conhecemos. Acho que encontrarmo-nos pessoalmente vai fazer toda a diferença. Por outro lado, vai ser o dia da tomada de posse desta primeira equipa e teremos um congresso que eu penso ter tudo para ser um sucesso, com 200 pessoas inscritas. Estamos muito contentes, porque é o nosso primeiro encontro, ainda sem história, e as pessoas aderiram em massa. Virão de todo o país, inclusive das ilhas, para ouvir temas muito estruturantes. A ideia é falarmos de temas que nos preocupam.
O grande momento será a apresentação da associação, através de um grupo de pessoas que fazem parte dos órgãos sociais, nomeadamente a ARS Norte, o IPO do Porto, o Centro Hospitalar de Lisboa Norte, o Hospital de Guimarães, a Unidade Local de Matosinhos e a Unidade Local do Norte Alentejano. Estas instituições apresentarão a associação e as suas áreas de intervenção antes das mesas que são fundamentais para nós. Uma delas será sobre o futuro da formação na área da saúde. Temos de mudar o paradigma, ou seja, temos de deixar de pensar apenas na componente técnica da formação. Segue-se um aspeto mais técnico, mas que é importante: o impacto da formação, algo que tem de ser repensado. Por último, falaremos do futuro dos financiamentos, para percebermos como é que as unidades de saúde e os centros de formação poderão crescer em termos financeiros e repensarmos a capacidade de os centros gerarem receita e serem um motor de autofinanciamento para as unidades de saúde. Muitas vezes achamos que não é possível, mas existe financiamento que nós podemos utilizar como fonte de produção de conhecimento.
Será o arranque da nossa associação em termos práticos e de visibilidade junto da comunidade ligada à saúde e à formação.
Sócios fundadores: Unidade Local de Saúde de Matosinhos, Hospital da Senhora da Oliveira – Guimarães, Centro Hospitalar Póvoa de Varzim – Vila do Conde, Unidade Local de Saúde de Castelo Branco, Unidade Local de Saúde do Norte Alentejano, IPO Porto, Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra, Unidade Local de Saúde do Alto Minho, Hospital do Espírito Santo de Évora, Hospital de Santo Espírito da Ilha Terceira, Centro Hospitalar Universitário de São João, Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte, Hospital do Divino Espírito Santo, Hospital da Horta, Administração Regional de Saúde do Norte, Direção Regional da Saúde dos Açores, Unidade Local de Saúde da Guarda, Centro Hospitalar Universitário Cova da Beira, IPO Coimbra, Centro Hospitalar do Médio Ave, Hospital Santa Maria Maior – Barcelos e Hospital Beatriz Ângelo.
Entrevista de Rita Antunes
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