Mais de metade dos jovens dentistas descontentes com as dificuldades e baixa remuneração da profissão

24 de Abril 2022

Mais de metade dos jovens dentistas inquiridos num estudo mostram-se descontentes com a profissão, sendo que 32% se pudessem voltar atrás escolheriam outra carreira e perto de um quarto quer completar os estudos noutra área.

O inquérito sobre a “Empregabilidade em Medicina Dentária” foi promovido pelos Conselho de Jovens Dentistas, da Ordem dos Médicos Dentistas (OMS), junto dos 4.745 dentistas inscritos na Ordem com menos de 35 anos, tendo recebido mais de 2.400 respostas

Os resultados do estudo revelam um cenário de “grandes dificuldades” para singrar no mercado de trabalho e a baixa remuneração destes profissionais, com 51% dos inquiridos a afirmar que recebem menos de 1.000 euros líquidos por mês.

A maioria exerce a profissão em uma (38%) ou duas clínicas (26%), sendo que, em média, 43% atendem entre seis e dez doentes por dia e aproximadamente 40% mais de 11.

Apenas 17% dos inquiridos dizem ter contrato de trabalho. Perto de 70% trabalham por conta própria, a recibos verdes, sem funcionários a cargo, uma situação que se agrava para quem trabalha para o Estado.

Quase 90% dos que estão colocados em centros de saúde ou hospitais públicos são contratados a recibos verdes, 48,9% estão contratados através de empresas, refere o estudo, acrescentando que “os poucos” que têm contrato estão integrados como técnicos superiores administrativos,

Na prática, realça, “nos serviços públicos, a totalidade dos médicos dentistas está contratada de forma irregular”.

O inquérito aponta ainda que 92,5% exercem em clínicas e consultórios privados, 4,1% em hospitais privados e 2,4% em centros de saúde.

No privado, a grande maioria (78%) recebe em regime de percentagem, e destes, quase 55% ganham entre 31% e 40% do valor do ato médico.

O estudo, a que a agência Lusa teve acesso, aponta que 45% demoraram um ano, ou mais, até conseguirem auferir um valor semelhante ao salário mínimo nacional.

Segundo o inquérito, 53% têm um rendimento mensal bruto abaixo dos 1.500 euros, o que conduz a que metade dos jovens médicos dentistas aufira menos de mil euros líquidos mensais. “Os baixos rendimentos podem justificar-se pela instabilidade dos vínculos contratuais (recibos verdes), refere o estudo, sublinhando que os que têm contrato de trabalho têm uma maior probabilidade de ganhar entre 1.000 e 1.500 euros mensais.

A grande maioria (72%) trabalha entre quatro e seis dias por semana, sendo que 20% trabalham até quatro dias e 5% mais de seis dias por semana. Quase 70% trabalham mais de oito horas e 22% ultrapassam as 10 horas diárias.

Os resultados deste inquérito vão ao encontro das preocupações que o bastonário da OMD, Miguel Pavão, tem manifestado publicamente sobre o excesso de médicos dentistas e as condições de subemprego dos profissionais mais jovens, refere a Ordem em comunicado.

O presidente do Conselho de Jovens Médicos Dentistas, Tiago do Nascimento Borges, citado no comunicado, afirma que o estudo mostra que “a medicina dentária é uma profissão marcada pelo subemprego e precariedade nos primeiros anos de exercício profissional, com condições pouco dignas a nível de condições de trabalho e remuneratórias”.

Alertou que muitos jovens dentistas começam a receber 200 ou 300 euros em situações que, por vezes, se prolongam no tempo.

“Esta realidade é preocupante e tem tendência a piorar, uma vez que mesmo após dez anos de carreira e com uma carteira de pacientes mais fidelizada, quase 80% dos médicos dentistas ganham menos de 1.500 euros por mês e a recibos verdes, ou seja, ganham a 11 ordenados por ano sem direito a subsídios de férias, de Natal ou de alimentação, e com mais dificuldade em obter baixa em caso de problemas de saúde”, lamenta Tiago do Nascimento Borges.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Brasil aprova vacina em dose única contra a chikungunya

As autoridades sanitárias brasileiras aprovaram hoje o registo de uma vacina em dose única contra a chikungunya, um fármaco desenvolvido pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica franco-austríaca Valneva.

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights