Rui Tato Marinho fala sobre hepatite aguda: “Está tudo sob controlo”

05/12/2022
O número de casos suspeitos de hepatite atípica aguda em crianças tem vido a aumentar ainda que de forma pouco expressiva. Em Portugal, já foram notificados oito casos, mais quarto em relação à semana passada. Questionado sobre a evolução da doença a nível nacional, o coordenador da Comissão Nacional de Hepatites Virais, Rui Tato Marinho, admite que com o aumento de casos "poder-se-ia pensar que iria existir um cenário parecido com o da Covid-19", mas recusa o cenário de uma situação preocupante. O especialista considera que estamos perante uma "doença rara".

HealthNews (HN)- O último balanço da Direção-Geral da Saúde dá conta de oito casos suspeitos de hepatite aguda de etiologia desconhecida em crianças. Qual a leitura que faz do atual cenário?

Rui Tato Marinho (RTM)- O cenário atual ainda não é alarmante. Fomos confrontados com uma hepatite nova, de causa desconhecida, o que preocupa sempre os especialistas. Havia quem pensasse que o número de casos viria a aumentar muito, à semelhança do covid, mas a verdade é que não tem chegado sequer a um caso por dia. Portanto, o atual cenário dá-nos alguma confiança de que está tudo sob controlo e que as crianças recuperam bem.

HN- Consegue identificar algum paralelismo entre a forma como se está a encarar esta hepatite atípica e os primeiros casos de Covid-19?

RTM- É muito diferente, não tem nada a ver… É claro que com as notícias que são divulgadas e o aparecimento de casos, que vai aumentando, poder-se-ia pensar que iria existir um cenário parecido com o da Covid-19. Neste momento podemos afirmar que não tem nada a ver. Sabemos que os casos são muito poucos… Estamos a falar de 300 casos a nível mundial. No Reino Unido, o número de casos até está a diminuir e em Portugal apenas temos oito casos suspeitos e nenhuma criança faleceu. Nos primeiros meses da pandemia, sim, morreram muitas pessoas.

HN- Sendo ainda um número baixo, a verdade é que o número de casos suspeitos tem vindo a aumentar. A situação não o preocupa?

RTM- Penso que ainda não é uma situação de alarme. A task force está muito atenta à evolução do número de casos e tem partilhado informação com as autoridades internacionais. 

HN-A task force criada para acompanhar a situação começou desde o início desta semana a monitorizar diariamente a evolução da doença. O que poderemos esperar que aconteça nas próximas semanas?

RTM- Atendendo à situação atual, talvez seja esperado um aumento de casos suspeitos, mas não muito pronunciado. Não nos parece que esteja a haver uma explosão de casos, mesmo em países, como o Reino Unido, que foram os primeiros a relatar crianças com hepatite aguda de origem desconhecida.

A própria Organização Mundial da Saúde e o Centro Europeu de Prevenção e Controlo das Doenças (ECDC) garantem que não tão grave quanto se pensa.

HN- Os médicos estão a procurar evidências da doença em casos que remontam até outubro do ano passado. O que é que acha ser plausível encontrar?

RTM- Acho que se vão encontrar alguns casos que na altura passaram como uma simples hepatite aguda, mas que neste momento, visto com outros olhos, se pode chegar à conclusão que se tratava de uma hepatite de causa desconhecida. A ciência precisa de mais dados neste momento. 

É claro que as pessoas quando olham para os números começam a ficar assustadas, mas podemos afirmar que estamos perante uma doença rara. Segundo os critérios internacionais, os números relatados correspondem a uma patologia rara. 

HN- A média de idades dos doentes com este tipo de hepatite atípica é de três anos. O que está em causa?

RTM- As hepatites agudas de uma maneira geral não deixam sequelas. Há alguns casos em que esta doença evolui para crónica, mas este não parece ser o caso. Estas crianças têm recuperado ao fim de alguns dias, portanto não há razão para estarmos assustados.

HN- Gostaria de deixar alguma nota final?

RTM- Gostaria apenas de reforçar o papel da task force. É um grupo composto 13 especialistas de diversas áreas que tentam manter a situação sob controlo. 

Entrevista de Vaishaly Camões

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