Violação do regulamento nas urgências pode retirar capacidade formativa

3 de Agosto 2022

O presidente do Colégio de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem dos Médicos alertou esta quarta-feira que o não cumprimento do regulamento das equipas nos serviços de urgência, apontado pelos médicos internos que apresentaram escusas, pode levar à retirada da idoneidade formativa.

“A questão de exceder as horas extra de trabalho previstas – as tais 150 -, assim como a eventualidade de [os médicos internos] poderem não estar acompanhados é fundamental”, disse à Lusa o presidente do Colégio da Especialidade de Ginecologia/Obstetrícia da Ordem dos Médicos (OM), João Bernardes, sublinhando que, no limite, pode levar à perda da idoneidade formativa atribuída pela Ordem aos hospitais.

De acordo com João Bernardes, o colégio de Ginecologia/Obstetrícia da OM ainda não recebeu a carta, divulgada na terça-feira, que os médicos internos enviaram à ministra a informar que entregaram minutas de escusas de responsabilidade, para serem usadas sempre que estiverem destacados para trabalho em urgência e as escalas não cumprirem o regulamento.

Sublinhou: “a questão de se exceder as horas extra de trabalho previstas [150/ano] e a eventualidade de poderem não estar acompanhados é fundamental para a ordem e para os colégios”.

O responsável explicou que sempre que os colégios da especialidade fazem visitas para atribuir idoneidade formativa a um serviço verificam se essas condições estão a ser cumpridas, “quer junto dos diretores e dos conselhos de administração, quer junto dos especialistas e também dos internos”.

O cumprimento do regulamento “é um ponto fundamental na garantia da segurança e na formação dos internos” e, quando não é reiteradamente cumprido, a Ordem dos Médicos “terá de atuar porque isso pode por em causa a capacidade formativa dos serviços” para receberem internos, afirmou.

Questionado pela Lusa, João Bernardes disse que até ao momento o colégio da especialidade não recebeu qualquer queixa formal, mas explica que, nas visitas de idoneidade aos serviços que o colégio faz todos os meses (uma a duas) tem verificado “que há sempre pontualmente situações deste tipo”.

“Damos sempre um prazo para resolver esse problema e, se não for resolvido, temos de por em causa a idoneidade do serviço e comunicar essa situação”, acrescentou.

Explicou que todos os anos a OM recebe respostas a inquéritos que faz a todos os serviços que têm formação e que faz revisitas de cinco em cinco anos, ou “sempre que há problemas”.

“Como tem havido muitos problemas nos últimos anos temos feito muitas revisitas”, revelou, acrescentando: “Há serviços em que num espaço de um ano fizemos duas ou três revisitas”.

O responsável insistiu no cumprimento do regulamento e explicou: “exceder as horas extra é uma questão de segurança clínica, para eles [internos] e para os doentes, mas também um problema na formação. Se eles tiverem muitas horas na urgência não têm tempo para fazer formação em ecografia ou em bloco operatório, por exemplo”.

João Bernardes sublinhou que a prioridade é “cativar as pessoas”, não só para que entrem no SNS, mas para que não saiam: “É preciso condições para que eles entrem e não saiam. Temos tido especialistas a não quererem concorrer e ainda agora, no último concurso, houve especialistas que não ocuparam as vagas”.

Lembrou ainda que não se trata apenas de questões remuneratórias.

“Não é só uma questão remuneratória. É preciso que os concursos sejam previsíveis: temos verificado que só no fim do internato é que os internos constituem família (…) e se nessa altura não fazem a mínima ideia onde podem ficar, vão tentar resolver o problema ou no próprio Estado [como tarefeiros] ou no privado”.

“Depois, tem de haver uma previsibilidade da progressão na carreira, abrir vagas, saber quando abrem as vagas para assistentes graduados, para assistentes graduados sénior. Estamos sem assistentes graduados sénior no SNS. E tem de haver um bom ambiente em termos de formação e um bom ambiente de trabalho em termos de instalações e equipamentos”, acrescentou.

“Na pandemia falou-se muito em quem estava da primeira linha e a certa altura essa primeira linha era muito espessa. Mas a linha era muito fina, muito ténue… e a primeira linha era dos internos. Foram eles que vestiram aqueles escafandros, naquela fase de terror, e foram eles que foram para a linha da frente. Antes de entrarem nos hospitais, nos cuidados intensivos e nos outros serviços, os internos estavam na primeira linha, nas tendas”, insistiu.

Questionado sobre a formação destes profissionais, explicou que o curso de medicina (mestrado integrado) tem a duração de seis anos e, no caso da especialidade de ginecologia/obstetrícia, há mais sete anos até se ser considerado especialista (um ano de treino geral, o chamado ano comum, e mais seis de internato). Os internos fazem provas anuais e, no fim, uma prova nacional.

Alem desta formação, explicou João Bernardes, se depois o especialista quiser ter competência nalguma subespecialidade – como, por exemplo, a ecografia obstétrica – terá mais dois ou três anos de formação.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Projeto IDE: Inclusão e Capacitação na Gestão da Diabetes Tipo 1 nas Escolas

A Dra. Ilka Rosa, Médica da Unidade de Saúde Pública do Baixo Vouga, apresentou o “Projeto IDE – Projeto de Inclusão da Diabetes tipo 1 na Escola” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa visa melhorar a integração e o acompanhamento de crianças e jovens com diabetes tipo 1 no ambiente escolar, através de formação e articulação entre profissionais de saúde, comunidade educativa e famílias

Percursos Assistenciais Integrados: Uma Revolução na Saúde do Litoral Alentejano

A Unidade Local de Saúde do Litoral Alentejano implementou um inovador projeto de percursos assistenciais integrados, visando melhorar o acompanhamento de doentes crónicos. Com recurso a tecnologia digital e equipas dedicadas, o projeto já demonstrou resultados significativos na redução de episódios de urgência e na melhoria da qualidade de vida dos utentes

Projeto Luzia: Revolucionando o Acesso à Oftalmologia nos Cuidados de Saúde Primários

O Dr. Sérgio Azevedo, Diretor do Serviço de Oftalmologia da ULS do Alto Minho, apresentou o projeto “Luzia” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde. Esta iniciativa inovadora visa melhorar o acesso aos cuidados oftalmológicos, levando consultas especializadas aos centros de saúde e reduzindo significativamente as deslocações dos pacientes aos hospitais.

Inovação na Saúde: Centro de Controlo de Infeções na Região Norte Reduz Taxa de MRSA em 35%

O Eng. Lucas Ribeiro, Consultor/Gestor de Projetos na Administração Regional de Saúde do Norte, apresentou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde os resultados do projeto “Centro de Controlo de Infeção Associado a Cuidados de Saúde na Região Norte”. A iniciativa, que durou 24 meses, conseguiu reduzir significativamente a taxa de MRSA e melhorar a vigilância epidemiológica na região

Gestão Sustentável de Resíduos Hospitalares: A Revolução Verde no Bloco Operatório

A enfermeira Daniela Simão, do Hospital de Pulido Valente, da ULS de Santa Maria, em Lisboa, desenvolveu um projeto inovador de gestão de resíduos hospitalares no bloco operatório, visando reduzir o impacto ambiental e económico. A iniciativa, que já demonstra resultados significativos, foi apresentada na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde, promovida pela Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar

Ana Escoval: “Boas práticas e inovação lideram transformação do SNS”

Em entrevista exclusiva ao Healthnews, Ana Escoval, da Direção da Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar, destaca o papel do 10º Congresso Internacional dos Hospitais e do Prémio de Boas Práticas em Saúde na transformação do SNS. O evento promove a partilha de práticas inovadoras, abordando desafios como a gestão de talento, cooperação público-privada e sustentabilidade no setor da saúde.

Reformas na Saúde Pública: Desafios e Oportunidades Pós-Pandemia

O Professor André Peralta, Subdiretor Geral da Saúde, discursou na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas em Saúde sobre as reformas necessárias na saúde pública portuguesa e europeia após a pandemia de COVID-19. Destacou a importância de aproveitar o momento pós-crise para implementar mudanças graduais, a necessidade de alinhamento com as reformas europeias e os desafios enfrentados pela Direção-Geral da Saúde.

Via Verde para Necessidades de Saúde Especiais: Inovação na Saúde Escolar

Um dos projetos apresentado hoje a concurso na 17ª Edição do Prémio Boas Práticas em Saúde, uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar, foi o projeto Via Verde – Necessidades de Saúde Especiais (VVNSE), desenvolvido por Sérgio Sousa, Gestor Local do Programa de Saúde Escolar da ULS de Matosinhos e que surge como uma resposta inovadora aos desafios enfrentados na gestão e acompanhamento de alunos com necessidades de saúde especiais (NSE) no contexto escolar

Projeto Utente 360”: Revolução Digital na Saúde da Madeira

O Dr. Tiago Silva, Responsável da Unidade de Sistemas de Informação e Ciência de Dados do SESARAM, apresentou o inovador Projeto Utente 360” na 17ª Edição dos Prémios de Boas Práticas , uma iniciativa da Associação Portuguesa de Desenvolvimento Hospitalar (APDH). Uma ideia revolucionária que visa integrar e otimizar a gestão de informações de saúde na Região Autónoma da Madeira, promovendo uma assistência médica mais eficiente e personalizada

MAIS LIDAS

Share This