Sindicatos alertam que não haverá enfermeiros que cheguem no SNS se não forem tomadas medidas

12 de Outubro 2022

Os sindicatos dos enfermeiros defendem medidas para reter estes profissionais no Serviço Nacional de Saúde, alertando que não haverá enfermeiros que cheguem nos próximo anos para responder às necessidades de uma população cada vez mais envelhecida.

Em Portugal, há mais de 3,5 milhões de pessoas com mais de 65 anos, dos quais mais de um milhão tem mais 80 de anos, que requerem mais cuidados, “mais horas de enfermagem disponíveis”, disse o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins, numa audição conjunta dos sindicatos de saúde na comissão parlamentar de Saúde requerida pelo PSD.

“Na estatística do Ministério da Saúde há um aumento claro de efetivos nos últimos anos. Só que não vai haver enfermeiros que cheguem nos próximos anos, porque hoje, nos vários indicadores, não entra em consideração a alteração do perfil epidemiológico dos cidadãos de quem os enfermeiros, os profissionais de saúde, têm que cuidar”, disse o líder sindical.

Aos hospitais, elucidou, estão a chegar pessoas mais idosas, mais dependentes e, sobretudo, com “inúmeros défices em relação àquilo que são as atividades de vida diária”.

Segundo José Carlos Martins, a situação de carência de enfermeiros é agora “mais complexa” devido à incapacidade do SNS atrair e reter os profissionais devido às condições de trabalho.

Tiago Cunha, do Sindicato dos Enfermeiros (SE), também destacou “o desafio muito grande” que o SNS enfrenta a este nível.

“Cada vez mais temos profissionais a abandonarem o SNS, a emigrarem ou integrarem unidades de saúde privadas, que têm todo o direito para o fazer, porque na realidade essas entidades estão a conseguir fazer uma valorização remuneratória que o SNS não consegue” e dar-lhes muitas vezes “uma perspetiva de carreira que neste momento o SNS não permite”, defendeu.

O enfermeiro Tiago Cunha salientou que o atual sistema de avaliação de desempenho faz com que 75% dos enfermeiros demore 100 anos para atingir o topo da sua categoria profissional, “o que significa que 75% destes enfermeiros, na melhor das hipóteses, vão conseguir fazer quatro subidas de escalão de remuneratórios”.

“Não há maneira de conseguir reter profissionais dizendo-lhes isto”, comentou, salientando ainda que quem está a sair do SNS são os profissionais “mais bem treinados e mais preparados” que estão a ser substituídos por “enfermeiros que acabam de sair das escolas”.

Todos os sindicatos dos enfermeiros ouvidos na audição defenderam a urgência de serem retomadas as negociações com o Governo relativamente à carreira de enfermagem, para arranjar soluções para este problema.

“O SNS continua ainda a ser o último recurso para a maior parte dos cidadãos que não têm uma possibilidade de poder escolher uma unidade de saúde privada”, disse Tiago Cunha.

O vice-presidente do Sindicato Democrático dos Enfermeiros de Portugal, Fernando Fernandes, defendeu, por seu turno, dar melhores condições de trabalho, melhores remunerações, ter recursos humanos motivados e recursos físicos adequados às necessidades do tratamento da população é um investimento que “terá um retorno não só em ganhos de saúde, mas também em melhoria das condições da população a curto médio prazo”.

Fernando Fernandes advertiu que não ter as dotações adequadas às necessidades dos hospitais e dos centros de saúde implica “muitas vezes” complicações para a saúde dos doentes.

“Implica um maior número de mortes, implica quedas, implica infeções nosocomiais (…) que posteriormente se vão traduzir em gastos excessivos, porque não se preveniu as situações na origem”, salientou.

Alice Pinto, do Sindicato Independente dos Profissionais de Enfermagem, acrescentou que a luta travada nos últimos dois anos contra pandemia agudizou ainda mais “as injustiças e as iniquidades diariamente praticadas sobre os enfermeiros no terreno”.

“Na pandemia não tivemos sábados, não tivemos domingos, não tivemos feriados e não tivemos direito ao pagamento desses dias”, salientou a sindicalista.

Tiago Cunha, do Sindicato dos Enfermeiros, alertou ainda para as agressões de que os enfermeiros são alvos. “Há relatos de profissionais que têm sido vítimas de violência física e que, infelizmente, não conseguem ter grandes soluções para essas situações”.

“São vítimas, queixam-se, mas depois não há consequências relativamente a isso. E não há um aumento de capacidade de segurança, nem a nível de seguranças, nem a nível de presença de agentes da PSP nas urgências, por exemplo”, lamentou.

LUSA/HN

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