Enfermeiros do hospital de Évora cumprem greve contra falta de profissionais

5 de Janeiro 2023

Os enfermeiros do hospital de Évora cumpriram esta quinta-feira duas horas de greve, entre as 10:30 e as 12:30, em protesto contra “a carência” de profissionais nos serviços de urgência e a “exaustão” dos que estão em funções.

“É um grito de revolta dos colegas da urgência”, que estão com uma “exaustão e cansaço brutal”, devido à “carência de enfermeiros”, afirmou o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins.

O dirigente sindical falava aos jornalistas junto à entrada principal do Hospital do Espírito Santo de Évora (HESE), onde cerca de 50 enfermeiros se concentraram durante o período em que decorreu a greve.

Com uma faixa em que se podia ler “Enfermeiros em exaustão. Exigem uma solução e respeito pelos direitos”, os profissionais em protesto contaram com a solidariedade do deputado do PCP João Dias, que também é enfermeiro.

Nas declarações aos jornalistas, o presidente do SEP indicou que cada enfermeiro que exerce funções nos serviços de urgência do HESE “tem 50 a 60 horas extraordinárias por mês a mais no horário e cerca de 30 feriados e tolerâncias não gozadas”.

“Isto significa que os tempos de repouso e descanso são altamente insuficientes”, o que “coloca em questão a qualidade e a segurança dos cuidados prestados e dos próprios profissionais”, alertou.

Considerando que “há carência de enfermeiros em todo o hospital”, José Carlos Martins frisou que “há uma gritante falta” destes profissionais nos serviços de urgência geral e pediátrica.

“A situação caótica que existe é no serviço de urgência geral” do HESE, cuja “equipa é composta por 78 enfermeiros”, mas, “em bom rigor, deveria ter mais 20 a 25” profissionais, realçou.

O sindicalista defendeu que a solução para a falta de enfermeiros “só tem uma via, que é contratar mais, no plano imediato, e alocá-los ao serviço de urgência”.

“Naturalmente, serão jovens profissionais, que requerem tempo de integração para terem segurança clínica e decidir ajustadamente aos doentes. Portanto, são necessárias decisões políticas imediatas e urgentes”, acrescentou.

Além da exaustão e cansaço, estes enfermeiros reclamam do hospital de Évora o pagamento de mais de 12 mil horas extraordinárias, segundo o SEP, cuja delegação ia ainda hoje reunir-se com o HESE.

A trabalhar há mais de 30 anos nesta unidade hospitalar, a enfermeira Albertina Dias, que exerce funções na urgência geral, cumpriu as duas horas de greve e juntou-se ao protesto à entrada do edifício.

“Temos cada vez menos pessoas a trabalhar na urgência, abriram-se mais postos, mas os contratos de trabalho são precários e as pessoas não querem vir trabalhar para este hospital porque pagam-lhes mal”, afirmou à agência Lusa esta enfermeira.

Albertina Dias admitiu que, com a falta de pessoal, tanto os enfermeiros como os utentes “correm riscos”, indicando que estes profissionais têm que dar “apoio a mais do que um balcão” e que chega a haver “um enfermeiro para 30 doentes”.

“É muito difícil trabalhar num serviço de urgência, que é a porta de um hospital, nestas condições”, salientou, referindo que os “superiores hierárquicos têm conhecimento” da situação e que já foram feitos vários pedidos de escusa de responsabilidade.

Confirmando que os enfermeiros andam exaustos e que, mesmo assim, “é-lhes exigido que sigam os turnos quando falta alguém”, esta profissional disse temer que ninguém a defenda “se alguma coisa correr mal”.

“Não sei quem me vai defender se eu errar por cansaço”, acrescentou.

Esta greve foi decretada pelo SEP e abrangeu todos os enfermeiros do hospital de Évora.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Consórcio português quer produzir terapias inovadoras com células CAR-T

Um consórcio português que junta clínicos, investigadores e académicos quer desenvolver capacidade nacional para produzir terapias inovadoras com células CAR-T, uma forma avançada de imunoterapia que tem demonstrado taxas de sucesso em certos cancros do sangue, foi hoje divulgado.

Consumo de droga em Lisboa aumentou e de forma desorganizada

Uma técnica de uma organização não-governamental (ONG), que presta assistência a toxicodependentes, considerou hoje que o consumo na cidade de Lisboa está a aumentar e de forma desorganizada, com situações de recaída de pessoas que já tinham alguma estabilidade.

Moçambique regista cerca de 25 mil casos de cancro anualmente

Moçambique regista anualmente cerca de 25 mil casos de diferentes tipos de cancro, dos quais 17 mil resultam em óbitos, estimaram hoje as autoridades de saúde, apontando a falta de profissionais qualificados como principal dificuldade.

Ana Povo e Francisco Nuno Rocha Gonçalves: secretários de estados da saúde

O XXV Governo Constitucional de Portugal, liderado pelo Primeiro-Ministro Luís Montenegro, anunciou a recondução de Ana Margarida Pinheiro Povo como Secretária de Estado da Saúde. Esta decisão reflete uma aposta na continuidade das políticas de saúde implementadas no mandato anterior.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights