Diabetes tipo 2: Escola Nacional de Saúde Pública apresenta estudo com doentes e profissionais de saúde

16 de Janeiro 2023

A Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, com o apoio da AstraZeneca, desenvolveu um estudo que avaliou as diferenças de perceção da pessoa com diabetes mellitus tipo 2 e dos profissionais de saúde.

O estudo avaliou as principais preocupações das pessoas com diabetes mellitus tipo 2 (DM2), o impacto da doença no dia a dia e os fatores mais valorizados nos cuidados de saúde, sob a perspetiva dos doentes e dos profissionais. O objetivo era conhecer a realidade e contribuir para a identificação de iniciativas que promovam o alinhamento das perspetivas, para uma saúde mais inclusiva e maior efetividade na gestão da diabetes tipo 2.

O projeto de investigação CONCORDIA Diabetes Mellitus Tipo 2 propôs-se a analisar as diferenças de perceção quanto aos impactos da DM2 no quotidiano, principais preocupações na gestão da doença e fatores mais valorizados nas consultas e nos cuidados de saúde, utilizando para o efeito uma abordagem de métodos mistos que incluiu grupos focais, questionários e técnica de consenso.

Os dados do estudo revelam que existem significativas divergências, quando comparadas as perspetivas, nas três dimensões do estudo avaliadas – impactos, preocupações e fatores valorizados.

No que diz respeito à perceção do impacto da DM2 no dia a dia das pessoas que experienciam a doença, a análise, feita nas dimensões social, familiar, laboral, saúde mental, perceção do corpo, bem-estar físico e qualidade de vida, mostra que os profissionais de saúde reportam um lado mais negativo. Por exemplo, quanto ao “impacto na vida familiar”, a maioria dos profissionais de saúde (60,9%) identificou “impacto negativo”, quando a maioria (45,5%) das pessoas com DM2 reportou “nenhum impacto” e 23% reportou “impacto positivo”. “É muito interessante perceber neste estudo que as pessoas com DM2 reconhecem impactos positivos da doença nas suas vidas, nomeadamente no ambiente familiar e social, pouco reconhecidos pelos profissionais de saúde”, explica Ana Rita Pedro, investigadora principal do estudo.

Na dimensão “preocupações da pessoa com DM2”, o estudo revela que a saúde mental, as complicações com a doença e as questões relacionadas com a autonomia e funcionalidade são as áreas que mais preocupam as pessoas, em detrimento de preocupações mais clínicas, valorizadas pelos profissionais de saúde. A investigação revela também que, apesar de estarem muito preocupados com a toma de insulina, a sua preocupação não é fruto da via de administração desta, já que as terapêuticas injetáveis não preocupam as pessoas, ao contrário do que reportam os profissionais de saúde. “Desmistificar o uso de insulina pode ser considerada uma estratégia importante na promoção da adesão à terapêutica”, esclarece a investigadora.

Acresce ainda que a informação clara relacionada com a doença, a partilha de informação atualizada sobre medicamentos e tecnologias e um discurso claro e sincero são os fatores mais valorizados nas consultas. No entanto, através da análise dos dados, é possível perceber que estes não são valorados da mesma forma pelos profissionais de saúde.

“Um modelo de cuidados centrado efetivamente nas pessoas e na sua relação com os profissionais de saúde traduz-se numa mais-valia para a gestão da doença crónica. Neste contexto, o CONCORDIA DM2 traz conhecimentos que beneficiarão a prática dos cuidados de saúde em Portugal”, conclui a investigadora.

Com o objetivo de identificar estratégias que visam aproximar a perspetiva dos profissionais de saúde da perspetiva das pessoas com DM2, o projeto de investigação reuniu um painel de peritos – constituído por pessoas com DM2, profissionais de saúde, investigadores, cuidadores informais, gestores em saúde e especialistas em literacia em saúde.

Os resultados do CONCORDIA DM2 foram apresentados e debatidos no dia 14 de janeiro de 2023, na Escola Nacional de Saúde Pública (ENSP-NOVA).

O projeto “CONCORDIA DM2” é desenvolvido pelos investigadores da ENSP-NOVA Ana Rita Pedro, Beatriz Raposo, Fernando Avelar, Ana Cunha e João Valente Cordeiro. O estudo conta com a colaboração científica da Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e da Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) e é financiado pela AstraZeneca Produtos Farmacêuticos Lda.

O relatório com as principais conclusões pode ser consultado aqui.

PR/HN/RA

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