“Uma capacidade para tudo aguentar quase sem limite. E era uma provação diária. Todos os dias, a horas que eram conhecidas – às vezes variavam para se ter os últimos dados da situação -, os portugueses esperavam as notícias dadas pela Dra. Graça Freitas. Passou a ser um elemento da família, de todas as famílias portuguesas”, afirmou o presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, na cerimónia que decorreu no Palácio de Belém.
Graça Freitas, que terminou o mandato no final do ano, manifestou a vontade junto do Ministério da Saúde de não renovar a nomeação, mas assegurou que permaneceria no cargo até ser substituída.
Fazendo uma referência à saída de Graça Freitas da Direção-geral da Saúde (DGS), ao fim de vários anos na instituição, os últimos quatros como diretora-geral, o chefe de Estado enalteceu o seu trabalho dedicado à causa pública, defendendo que “tem de ser reconhecido”.
“No momento em que se avizinha a sua saída da função pública, que não a sua saída da memória de todos nós, porque mesmo aqueles que a criticaram imenso, ou aproveitaram para fazer sobre si rábulas humorísticas, ou fizeram recair sobre si as suas indignações ou os seus cansaços, todos reconhecem que, no momento crucial, estava lá. Nunca se negou a dar a cara e isso tem de ser reconhecido”, declarou.
“É por isso que vou entregar-lhe as insígnias da grã-cruz da Ordem do Mérito, como agradecimento de Portugal, dos portugueses, todos eles, por uma dedicação à causa pública de muitos anos, mas, sobretudo, uma dedicação em dois anos que valeram por uma eternidade”, vincou Marcelo Rebelo de Sousa.
Em declarações aos jornalistas no final da cerimónia, Graça Freitas disse que a condecoração foi “uma honra e um privilégio” que o presidente da República lhe quis conceder e ao qual ficou “muito grata” por o ter feito.
Questionada sobre se estava à espera deste reconhecimento, disse que não, sublinhando que apenas fez o seu papel enquanto diretora-geral “numa época absolutamente excecional”.
“E, portanto, fi-lo porque fazia parte das minhas funções como cidadã e como médica de saúde pública e como diretora-geral da Saúde”, afirmou Graça Freitas, considerando que fez tudo para cumprir o seu papel.
A diretora-geral da Saúde destacou também o papel desempenhado pelo país e pelo povo como coletivo.
“Estamos hoje, três anos depois de ter começado a pandemia, com as nossas vidas equilibradas do ponto de vista sanitário, do ponto de vista social e do ponto de vista também económico, com grandes desafios, mas superamos todos juntos, o que foi uma provação difícil, coletiva, que foi a pandemia para todos no nosso país, a nível europeu e a nível mundial”, declarou.
Relativamente a algumas polémicas que ocorreram no início da pandemia, Graça Freitas comentou que nesta altura e durante alguns meses se atravessaram duas circunstâncias “absolutamente excecionais”: a rapidez com que os acontecimentos se sucederam e o grau de incerteza com que os acontecimentos se verificaram.
“E a ciência tem um tempo e esse tempo é demorado e, portanto, eu fui transmitindo em cada dia e em cada momento o que a ciência também me transmitia e o que as organizações internacionais de saúde (…) também nos transmitiam”, referiu.
Portanto, disse, “é óbvio que numa altura em que o desconhecido era muito grande e aconteciam coisas diferentes todos os dias, não foi possível transmitir sempre, se calhar, a mensagem mais acertada, mas era a que nós na altura sabíamos de acordo com o que as nossas instituições nos diziam”.
“Posso ter cometido alguns erros e ter sido menos feliz nalguns dias, mas não houve nunca a intenção de fazer mal”, frisou.
Realçou ainda o esforço feito pelos colegas de saúde pública da DGS e pelos profissionais de saúde em geral.
LUSA/HN
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