Em declarações aos jornalistas hoje no Porto, o coordenador do Gabinete de Apoio Humanitário da Ordem dos Médicos (GAHOM), Vítor Almeida, explicou que a missão inclui três cursos de transporte de doente crítico e serão formados médicos, enfermeiros e técnicos de emergência.
“A formação é dedicada ao transporte de doente crítico com recurso a simulação biomédica. O curso existe em Portugal há muitos anos e pode ser implementado e adaptado na Ucrânia”, disse Vítor Almeida.
O médico destacou a presença na equipa de um pediatra do Hospital D. Estefânia, de Lisboa, especializado em transporte de doente crítico, e explicou a pertinência desta formação no dia-a-dia de um país em guerra.
“A guerra está muito focada na frente de combate. Mas grande parte do país funciona economicamente, ainda que com limitações. Os hospitais que estão na linha de combate têm extrema necessidade de se adaptar porque têm vítimas decorrentes da guerra, mas têm de manter o funcionamento normal do dia-a-dia. O nível qualitativo que oferecemos no hospital não pode baixar durante o transporte”, disse o coordenador.
E exemplificou: “Os diabéticos continuam a existir, os enfartes continuam a acontecer, a fratura da anca do idoso também”.
Vítor Almeida apontou que “a necessidade de transferir doentes para hospitais de retaguarda mais tranquilos e seguros é um dos grandes desafios” que os serviços de saúde ucranianos têm neste momento, algo que não é exclusivo à Ucrânia.
“A Turquia, com o terramoto, tem esse problema e está a transferir doentes para cidades do interior”, acrescentou.
A equipa de médicos que vai partir nesta missão tem dois portugueses e duas luso-ucranianas.
Serão acolhidos em Ternopil, pela Faculdade de Medicina local, e irão trabalhar num centro de simulação que é, disse Vítor Almeida, “uma referência europeia”.
“Com esta comissão também vamos ajudá-los a certificarem-se a nível europeu”, referiu o responsável do GAHOM.
Na conversa com os jornalistas, Vítor Almeida frisou que Portugal tem neste momento, quer por meio da Cruz Vermelha Internacional quer da Médicos Sem Fronteiras, entre outras entidades, médicos portugueses no Congo, no Iémen, no Iraque, na Síria, no Chile, Turquia, entre outros cenários.
Antes, o bastonário da OM, Miguel Guimarães, e o ministro da Saúde, Manuel Pizarro, assinaram um protocolo de colaboração que visa apoio institucional da tutela a estas missões organizadas pelo GAHOM.
Foi ainda divulgado que a viagem entre Portugal e Varsóvia (Polónia, país que faz fronteira com a Ucrânia) é oferecida pela TAP, enquanto a estadia fica a cargo da Faculdade de Ternopil.
À OM cabe custear as restantes despesas, bem como os seguros, e ao Ministério da Saúde dar apoio consular e garantir as licenças de trabalho destes médicos que, durante cerca de três semanas, se vão ausentar das habituais tarefas no Serviço Nacional de Saúde.
Não sendo esta a primeira missão organizada pela OM para a Ucrânia, mas partindo simbolicamente quando se assinala um ano de guerra, Miguel Guimarães apontou como expectativa “formar pelo menos 50 profissionais ucranianos” e avançou que este gabinete pode vir a dar apoio em outros cenários como África, por exemplo.
Já o ministro da Saúde destacou o apoio que Portugal tem vindo a dar à Ucrânia, nomeadamente com o acolhimento “imediato” de 52 mil refugiados e no fornecimento de 10,5 milhões de embalagens de medicamentos.
Manuel Pizarro revelou que atualmente estão a ser tratados nos hospitais portugueses sete doentes ucranianos: seis crianças e um adulto.
LUSA/HN
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