Os enfermeiros de 75 unidades de saúde privadas do país fazem hoje um dia de greve, a primeira que esses profissionais realizam para reivindicar a melhoria das condições de trabalho.
“Nós queremos lutar pela dignificação da enfermagem. Neste momento, não nos sentimos dignificados. Não temos aumento salarial e trabalhamos mais horas do que no público. As horas de ‘qualidade’ não nos são pagas”, afirmou à enfermeira Fátima Marras, referindo-se às chamadas horas penosas que realizam sobretudo no período noturno.
Segundo a profissional de saúde que esteve presente na concentração, se trabalhar uma noite por mês ou 30 noites ganha o mesmo.
“Não é justo. Não é justo. Se eu fizer a noite do dia de Natal, ganho zero quando o país está em casa”, reclamou, defendendo a valorização da profissão.
Prevista para os turnos da manhã e da tarde, esta será a primeira greve dos cerca de 4.200 enfermeiros que trabalham nas 75 unidades de saúde abrangidas pela Associação Portuguesa de Hospitalização (APHP).
Os enfermeiros destas unidades privadas reclamam a implementação das 35 horas semanais e a regulação dos horários de trabalho, um acréscimo remuneratório mensal para quem trabalha por turnos e o pagamento do regime de prevenção.
Além disso, reivindicam o aumento da compensação das chamadas “horas penosas” trabalhadas à noite, nos fins de semana e feriados, assim como um aumento salarial de 10% e do subsídio de refeição para todos os enfermeiros e 25 dias úteis de férias por ano.
Aos jornalistas, no local, o presidente do Sindicato dos Enfermeiros Portugueses (SEP), José Carlos Martins, denunciou “pressões inqualificáveis” aos enfermeiros por parte das instituições privadas.
“Exigimos a justa remuneração das horas penosas ao fim de semana e aos turnos das tardes e noites, o aumento salarial no mínimo de 10% e um conjunto de outras matérias”, indicou José Carlos Martins.
Segundo o sindicalista, a maior parte dos blocos operatórios não realizou a cirurgia programada para hoje e apenas deram resposta à cirurgia de urgência e os atendimentos permanentes fecharam, bem como as consultas externas.
José Carlos Martins, no entanto, garantiu que os enfermeiros de serviços de internamento asseguraram os serviços mínimos.
“O grupo CUF foi o mais afetado, sendo que os Lusíadas tiveram cerca de 65%, CUF de Viseu 100%, a CUF da Amadora 100%. É uma diversidade enorme de instituições onde houve uma ampla adesão”, adiantou, acrescentando que não tem mais números, porque várias instituições impediram o SEP circular para recolher os dados.
Também presente na concentração, a coordenadora do BE, Catarina Martins, considerou “inaceitável” que os enfermeiros tenham os salários congelados, que não tenham carreiras, que não sejam pagas as noites e horas extraordinárias.
“Estes enfermeiros e estas enfermeiras dão tudo e têm sido esquecidos e esta luta é uma luta justíssima. Sei que é difícil, sei que sofreram imensas pressões para não fazerem greve. Quem aqui está tem uma enorme coragem”, salientou.
No início de março, a APHP, que representa as unidades de saúde do setor privado, salientou que mantém “o espírito de parceria com todos os sindicatos no quadro da contratação coletiva”, considerando que este é um “instrumento relevante para trabalhadores e empresas”.
LUSA/HN
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