O caso em tribunal confronta Jonathan M., um neerlandês de 41 anos, com Eva, que foi mãe com recurso ao esperma do réu, e a Donorkind Foundation, que admitiu que nenhuma lei proíbe explicitamente as ações de Jonathan, embora considere estas que “colocam desnecessariamente” em risco os descendentes.
Eva pretende impedir Jonathan de continuar a doar esperma em clínicas e através das redes sociais, noticiou a agência Efe.
Várias mães de crianças concebidas com o sémen do réu compareceram no tribunal na cidade de Haia, tantas que algumas tiveram que acompanhar o julgamento noutra sala.
Segundo a acusação, as ações de Jonathan são perigosas, “tendo em vista o risco cientificamente comprovado de endogamia, incesto e consequências psicossociais negativas para as crianças nascidas por doação de sémen”.
Além disso, impede a liberdade sexual das “crianças” porque estas devem sempre verificar se um potencial parceiro não é na realidade seu meio-irmão.
Jonathan, que admitiu à chegada a tribunal ser pai de pelo menos 550 crianças, defendeu que o risco de incesto é “muito pequeno”, porque os seus filhos podem saber quem é o pai por não ser doador anónimo, e lamentou ter-se tornado “a cara de quem doa esperma em grande escala”.
“Apresentaram-me como se eu fosse uma espécie de touro raivoso com impulso procriador. Não sou. Não acredito em evolução, mas em criação”, sublinhou.
Além disso, garantiu que tem uma boa relação com muitos pais e que esteve no nascimento de vários dos seus filhos e até no funeral de um.
“Não vou oferecer-me mais ‘online’, mas se os futuros pais me abordarem, quero ter a liberdade de responder”, realçou, garantindo que não faz doações ativas desde 2019, embora continue disponível para famílias que já tenham pelo menos um filho biológico dele.
A associação de ginecologistas neerlandeses NVOG alertou para este caso em 2017, quando soube que este homem tinha sido pai de pelo menos 102 crianças em 11 clínicas do país, que posteriormente o incluíram numa lista negra.
Jonathan continuou a doar em outros países e através das redes sociais.
Eva garante que tem contacto com pais afetados na Austrália, Alemanha, Dinamarca, Espanha, Reino Unido ou Itália, e até mesmo em África, como no Quénia e na Tanzânia. “Estão em todo o lado”, sublinhou.
A doação anónima foi proibida em 2004 e, para cada tratamento, as clínicas são obrigadas a registar o caso numa base de dados, embora as informações não sejam trocadas entre clínicas.
O Parlamento neerlandês tem em cima da mesa uma proposta para rever o funcionamento do registo nacional de doadores de sémen, que existe há vinte anos, mas não funciona para impedir casos como o de Jonathan e apenas fornece dados sobre um pai para os filhos que o solicitem e em condições muito estritas.
Além do caso de Jonathan, pelo menos dez ginecologistas já foram identificados como tendo utilizado o seu próprio sémen sem o conhecimento de mulheres que queriam engravidar nas suas clínicas de fertilidade nos Países Baixos.
Um deles é Jan Karbaat, com 81 filhos confirmados, ou o ginecologista Jan Wildschut, pai de pelo menos 47 filhos.
O caso mais recente tinha surgido em novembro. Um neerlandês, que morreu recentemente de cancro de esófago, doou o seu esperma para diferentes mulheres que contactou pela internet e terá sido pai de pelo menos 80 filhos nos Países Baixos.
Em 2021, um recorde de 1.415 pessoas nascidas por doação de esperma procuraram informações genéticas sobre o seu pai biológico, devido a estes escândalos.
LUSA/HN
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