“Há já um elevado número de ambulâncias fechadas por falta de técnicos”, disse o presidente do sindicato, Rui Lázaro, hoje ouvido na Comissão de Saúde, acrescentando que, mesmo sem a greve às horas extraordinárias (que começou esta semana), a previsão para abril é também de “muitas [ambulâncias] com mais de 50% de horários por preencher”.
Segundo explicou, no ano passado esta situação verificou-se apenas por altura do verão (junho, julho, agosto e setembro) e acrescentou: “Se em abril o cenário é este, daqui a dois ou três meses vamos estar muito pior”.
O responsável do sindicato, que hoje foi ouvido pelos deputados da Comissão Parlamentar de Saúde, a pedido do Chega, sobre a prestação de socorro, lembrou também que no próximo mês há dois eventos que exigem mais recursos e, em agosto, as Jornadas Mundiais da Juventude, manifestando-se preocupado com o socorro à população.
“Estamos muito preocupados porque, por cada recurso consumido, [há] cidadãos que vão ficar sem resposta de emergência médica”, sublinhou.
Rui Lázaro apontou ainda a necessidade de o INEM “rever os fluxos de triagem”, lembrando que continuam a ser transportados para o hospital quase todos os casos que resultam de chamadas para o 112, “para evitar reclamações”.
“Por um lado, satura os serviços de urgência hospitalares, como temos visto. Por outro lado, consome recursos de emergência médica e consome ambulâncias. Depois, quando precisamos para as situações mais graves, muitas vezes não estão disponíveis ou temos de esperar uma hora, ou mais”, explicou.
Apontando a necessidade de rever estes “fluxos de triagem”, lembrou que, no pico da pandemia, “o próprio presidente do Hospital de Santa Maria (…) veio dizer que mais de 80% dos doentes que lhe chegavam de ambulância não eram urgentes e deviam ter outra resposta que não o serviço de urgência”.
A solução, segundo defende, seria “rever estes fluxos, que não são revistos desde 2012, quando foram criados”.
Questionado sobre a necessidade de reforço de meios, disse que os que existem “se calhar até são suficientes”, mas “deveriam ser mais bem geridos (…) para que possam estar disponíveis para situações mais graves”.
“O INEM dispõe de um fluxo de não transporte, para que as situações que não são urgentes possam não ir ao hospital, mas efetivamente nunca é aplicado”, acrescentou.
Questionado pelos deputados, o presidente do STEPH voltou a abordar, não só a necessidade de revisão da carreira, para a tornar mais atrativa e conseguir segurar os técnicos que ainda estão no INEM, sublinhando que “só este mês deverão sair cerca de 40 técnicos de emergência pré-hospitalar”.
Apontou igualmente a necessidade de o INEM “devolver as milhares de horas extraordinárias que subtrai aos trabalhadores” e diz que, se esta situação não for corrigida, a greve em curso “não será levantada”.
Rui Lázaro pediu ainda “um rumo diferente” para o INEM, insistindo: “Nos sete anos de vigência deste conselho diretivo não há único indicador mensurável que indique que atividade melhorou, ou que não piorou”.
O sindicalista lembrou um episódio ocorrido numa comissão parlamentar em 2011, em que uma deputada fez uma chamada direta para 112 (o presidente do INEM dizia que demoravam cinco segundos e o Tribunal de Contas falava em 10 segundos), que levou 14 segundos a ser atendida, e recordou que, quando foi à comissão parlamentar de saúde, o presidente do INEM “normalizou que se despachassem ambulâncias com uma hora de diferença”.
“Como é que se se transforma 10 segundos numa hora e se normaliza a questão? Como é público, infelizmente, morrem pessoas por causa disto”, concluiu.
Os técnicos de emergência pré-hospitalar (TEPH) iniciaram na segunda-feira uma greve ao trabalho extraordinário para reivindicar o cumprimento dos direitos laborais e a revisão da carreira, paralização que o STEPH disse então estar a ser sentida “por todo o país, com ambulâncias paradas na Área Metropolitana do Porto, Lisboa, Viseu, Coimbra e Algarve.
LUSA/HN
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