Adesão ao rastreio do cancro da mama abaixo de 23% em Lisboa e Vale do Tejo e Alentejo

28 de Abril 2023

Apenas 22,57% das 141.613 mulheres convidadas a participar no rastreio ao cancro da mama na região de Lisboa e Vale do Tejo e no Alentejo realizaram a mamografia no primeiro trimestre do ano, revelam dados hoje divulgados.

Os dados da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) avançados hoje à agência Lusa revelam que, neste período, 31.968 mulheres realizaram o exame gratuito, tendo sido detetados 75 casos de cancro.

Entre 01 de janeiro de 2021 e 31 de dezembro de 2022, foram convocadas 611.124 mulheres para fazer o exame gratuito na região sul do país, excluindo o Algarve, mas só compareceram 204.339 (33,44%), tendo sido detetados 974 casos.

O rastreio de base populacional promovido pelo Núcleo Regional do Sul da LPCC entrou na fase final do alargamento à região de Lisboa e Setúbal no passado mês de fevereiro, abrangendo todos os concelhos que até 2021 ainda não beneficiavam do rastreio.

O alargamento englobou cerca de 92.300 mulheres que fizeram o rastreio desde fevereiro de 2021, prevendo-se convidar 400 mil no total dos concelhos da região sul até final deste ano.

Em declarações à agência Lusa, a responsável pelo Rastreio do Cancro da Mama do NRS, Marta Pojo, explicou que a baixa participação (menos de 20%) das mulheres residentes na Área Metropolitana de Lisboa se deve ao desconhecimento porque até 2021 não eram incluídas no rastreio, dando como exemplo que em zonas do Alentejo, onde o rastreio está implementado há vários anos, a adesão ronda os 80%.

“É expectável que, numa primeira fase, (…) estas taxas sejam menores. Contudo, em Lisboa são francamente baixas [cerca de 16%], mesmo comparativamente com o distrito de Setúbal que tem uma taxa ligeiramente superior”, lamentou.

A responsável apontou como explicações para esta fraca adesão “o desconhecimento da vantagem de participar neste rastreio”, as mulheres realizarem a mamografia no âmbito dos cuidados de saúde primários ou através de um especialista.

“Essa informação ainda nos falta apurar porque o objetivo é que as mulheres sejam seguidas de alguma forma. Agora há benefícios em participar num rastreio de base populacional porque reduz os falsos positivos. Tem resultados muito mais precisos porque é sempre a mesma equipa a fazer e a olhar para as mamografias e fica todo um histórico destas mamografias”, além de também ser importante para “criar evidência”.

Por isso, defendeu a importância de as mulheres estarem elucidadas para as mais-valias de o realizarem: “Temos em Portugal uma taxa de sobrevivência bastante alta do cancro da mama e um dos fatores para estes resultados é o rastreio de base populacional. (…) Se todas as mulheres participarem e assim se detetar atempadamente os cancros de mama, estes resultados serão francamente superiores em termos de sobrevivência”.

Residente em Lisboa, Susana Sousa, 53 anos, recebeu a carta da Liga para fazer o exame numa unidade móvel localizada perto da sua casa, o que não foi possível na altura.

Apesar de fazer regularmente uma mamografia prescrita pelo ginecologista, Susana decidiu fazer o exame quando participou numa corrida da LPCC nos jardins de Belém.

“Na altura, profissionais especializados explicaram que se surgisse alguma dúvida me contactariam”, o que aconteceu passado pouco tempo devido a uma dúvida que surgiu no exame, que queriam analisar melhor, contou, confessando que na altura ficou apreensiva, mas ao mesmo tempo tranquila porque “o alerta foi célere”.

Seguiu-se uma consulta na Liga em que fez uma nova mamografia e ecografia e os especialistas concluíram que “estava tudo bem”, disse Susana Sousa, destacando a importância de fazer o rastreio, que é uma “mais-valia” que a Liga oferece.

Marta Pojo explicou que as mulheres podem alterar a data que vem na convocação, assim como o local onde vão fazer o rastreio. Há ainda uma “ínfima percentagem” em que as moradas estão incorretas e, neste caso, as utentes podem dirigir-se a uma unidade móvel mesmo sem a carta-convite destinada e mulheres entre os 50 e os 59 anos.

“Sempre que possível, nós telefonamos para saber as razões porque faltam. Contudo, como a quantidade de mulheres que faltam neste momento é tão elevada, nós não temos recursos humanos para ligar a todas e percebermos a situação. O que conseguimos é mandar mensagens a sensibilizar para participar ou a relembrar e muitas delas acabam por ligar a dizer que não podem ou que vão noutra altura”, concluiu.

LUSA/HN

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