“Todos os temas do congresso são atuais e relevantes para os serviços portugueses de saúde, incluindo para o Serviço Nacional de Saúde: fomentar melhores lideranças, cuidarmos dos nossos profissionais de saúde e o desenvolvimento de uma estratégia para assegurar a neutralidade carbónica dos serviços de saúde. Se este congresso tiver impacto nacional nestes três pontos, terá cumprido o seu maior objetivo”, diz Alexandre Lourenço, copresidente da comissão científica do 46.º Congresso Mundial dos Hospitais. Será em Lisboa, entre 25 e 27 de outubro, pela segunda vez na história do evento da Federação Internacional dos Hospitais.
HealthNews (HN)- Lisboa prepara-se para acolher o 46.º Congresso Mundial dos Hospitais da Federação Internacional dos Hospitais, entre 25 e 27 de outubro. Qual a importância de que se reveste o evento e a oportunidade de se realizar em Portugal?
Alexandre Lourenço (AL)- Este é o maior evento internacional na área de serviços de saúde, tendo uma larga tradição internacional – esta é já a 46.ª edição, tendo-se iniciado em 1929. É um evento reconhecido por ter maior número de participantes, de todas as partes do mundo, expoente máximo a nível mundial em termos de reuniões internacionais nesta área. Começou por ser um congresso da área hospitalar, mas hoje aborda o sistema de saúde como um todo, focando-se na necessidade de reestruturação e de revisão do modelo de hospitais como os conhecemos hoje. O congresso é um evento global em que os participantes se encontram para partilhar conhecimento e experiências. Este ano, muito focado nesta necessidade de aprendermos uns com outros para perceber como é que vamos redesenhar os serviços de saúde, para os tornar mais centrados nas necessidades das diferentes populações que servimos.
Este congresso é rotativo, por todos os continentes. Em 2023, pela segunda vez, realizar-se-á em Lisboa. A última edição que decorreu em Lisboa foi há mais de 60 anos, em 1957, tendo sido essa a sua décima edição. A possibilidade de ter este importante evento em Portugal resultou de uma candidatura que três entidades portuguesas apresentaram – a Associação Portuguesa de Administradores Hospitalares (APAH), a Associação Portuguesa para o Desenvolvimento Hospitalar (APDH) e a Associação Portuguesa de Hospitalização Privada (APHP). A candidatura foi considerada a melhor e selecionada pelo Board da Federação Internacional dos Hospitais. Uma candidatura que nos enche de orgulho, e estamos felizes por termos sido selecionados.
HN- A quem se destina?
AL- Este congresso destina-se a todos os líderes de serviços de saúde, todos os profissionais de saúde e gestores; a todos os que têm funções de liderança nos sistemas de saúde, ou que desejem discutir a melhoria do sistema de saúde. Até porque muita da discussão prende-se com a reestruturação dos sistemas de saúde e perceber como é que devemos dirigir as nossas organizações, seja gestores de topo, seja gestores intermédios, ou académicos.
HN- A APAH, a APDH e a APHP unem esforços e saberes na comissão organizadora e na comissão científica. Qual é o seu papel nesta equipa?
AL- Co-chair da comissão científica (copresidente). Desempenho estas funções em parceira com o meu colega Artur Morais Vaz. A nossa responsabilidade é desenhar o programa científico de todo o congresso, e é nisso que estamos a trabalhar. Temos uma comissão científica muito alargada, de elementos de todos os continentes e de várias dezenas de países. Daí a necessidade de termos dois copresidentes nesta comissão científica, para coordenar todos os trabalhos e desenhar um programa atual e que responda às expectativas das várias realidades regionais. É um trabalho bastante interessante, mas também bastante exigente.
HN- E ao encontro do tema deste ano.
AL- Exatamente. O mundo de amanhã. O nosso objetivo é que este congresso sirva de mote a um papel de liderança dos serviços de saúde. Ou seja, os serviços de saúde devem ser parte da vanguarda dos desenvolvimentos sociais e tecnológicos – um farol para o desenvolvimento de uma sociedade mais humana e mais justa.
O congresso está organizado em cinco grandes temas. Um tema será a liderança e qual o seu papel em navegar as organizações de saúde em direção ao futuro. Um segundo tema está relacionado com o bem-estar dos profissionais de saúde. Atualmente, enfrentamos graves problemas, não só em Portugal, de falta de profissionais de saúde, novas profissões, novos modelos de cuidados. E devemos encontrar estratégias para melhorar o bem-estar da força de trabalho da saúde. O terceiro tema está relacionado com os novos modelos de prestação de cuidados — modelos inovadores de prestação de cuidados –, e discutir como criamos condições para o seu desenvolvimento. Por exemplo, em Portugal, estamos a desenvolver a hospitalização domiciliária e os cuidados remotos. Existe ainda a necessidade de envolver os prestadores sociais e o estabelecimento de parcerias comunitárias, até com parceiros não tradicionais, ou o imperativo para incorporar a experiência do doente no desenho dos serviços de saúde.
O quarto tema está muito relacionado com a expansão dos cuidados de saúde para um mundo digital. Aí, vamos discutir matérias como a big data, o analytics, a utilização de inteligência artificial e novos modelos de cuidados de saúde digital. Claramente, os serviços de saúde de amanhã. O último e quinto tema é também bastante atual. Está relacionado com as alterações climáticas e o desenvolvimento de sistemas de saúde e serviços de saúde sustentáveis. Estes serviços de saúde, para além de responder aos problemas da saúde da população decorrentes das alterações climáticas, têm a obrigação de ser neutrais do ponto de vista das emissões de gases com efeito de estufa. Nos países desenvolvidos, os serviços de saúde são responsáveis por perto de 10% das emissões destes gases.
São estes cinco grandes temas que vamos discutir. Vamos dar maior enfâse a três destes temas: a liderança, o bem-estar dos profissionais e a sustentabilidade ambiental.
Iremos procurar também, através de iniciativas pré-congresso, incorporar a realidade portuguesa. As três associações vão desenvolver várias iniciativas pré-congresso, por exemplo envolvendo a rede de países de língua portuguesa. Apesar de a língua oficial do congresso ser o inglês, teremos sessões pré-congresso em português, dirigidas a participantes que falem português. Teremos também visitas organizadas a hospitais públicos e privados que dão nota do desenvolvimento dos serviços de saúde em Portugal.
Estamos à espera de mais de dois milhares de participantes.
HN- O SNS enfrenta um momento de grandes desafios e fragilidade. Nos hospitais, que mudanças gostaria de ver implementadas antes da data do congresso?
AL- Todos os temas do congresso são atuais e relevantes para os serviços portugueses de saúde, incluindo para o Serviço Nacional de Saúde: fomentar melhores lideranças, cuidarmos dos nossos profissionais de saúde e o desenvolvimento de uma estratégia para assegurar a neutralidade carbónica dos serviços de saúde. Se este congresso tiver impacto nacional nestes três pontos, terá cumprido o seu maior objetivo.
HN/RA
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