Estudo aponta que genética explica em parte tipo de enfarte que afeta sobretudo as mulheres

1 de Junho 2023

A genética parece explicar em grande parte um tipo de ataque cardíaco que atinge principalmente mulheres com menos de 60 anos e em boas condições de saúde, segundo um estudo publicado esta semana na revista científica “Nature Genetics”.

As mulheres foram consideradas, durante muito tempo, relativamente protegidas das doenças cardiovasculares.

No entanto, ao contrário do enfarte do miocárdio, que atinge sobretudo homens idosos ou com excesso de peso, a dissecção espontânea da artéria coronária (SCAD na sigla em inglês) é uma causa de ataque cardíaco do qual nove em cada 10 vítimas são mulheres entre os 40 e os 60 anos, aparentemente de boa saúde.

Neste caso, a parede interna de uma artéria rasga-se e separa-se da parede externa, permitindo que o sangue se espalhe no espaço entre as duas paredes e se forme um coágulo, que irá estreitar a passagem e bloquear a circulação sanguínea.

Ainda mal compreendida, esta doença continua a ser subdiagnosticada, o que dificulta o seu tratamento, embora possa representar até um terço dos casos de enfarte em mulheres com menos de 60 anos.

A equipa da geneticista Nabila Bouatia-Naji, do Centro de Investigação Cardiovascular – Paris (Inserm e Universidade Paris Cité), realizou um trabalho sobre a SCAD, coordenando uma meta-análise de oito estudos, que permitiu conhecer melhor as causas genéticas da doença.

Ao comparar os dados genéticos de mais de 1.900 doentes e de cerca de 9.300 pessoas saudáveis, os cientistas mostraram que as causas genéticas que definem o risco de SCAD são muito numerosas e estão distribuídas por todo o genoma dos pacientes.

Segundo os resultados, a má reabsorção do hematoma será uma causa de origem genética do enfarte, desconhecida até agora.

“Isto abre pistas para futuros tratamentos com medicamentos”, disse Nabila Bouatia-Naji à agência France Presse.

Uma melhor compreensão das predisposições genéticas poderá permitir identificar os doentes com maior risco, para melhorar a prevenção em mulheres, principalmente as jovens.

Os cientistas também demonstraram uma ligação forte entre a pressão alta e o risco de SCAD, confirmando que o colesterol elevado, o excesso de peso e a diabetes de tipo 2 não têm qualquer influência.

“A SCAD é uma doença pouco estudada, por ser atípica e maioritariamente feminina. O nosso trabalho é esclarecedor em relação às suas especificidades genéticas e biológicas, o que ajudará a tratar melhor os doentes no futuro”, sublinha a geneticista.

LUSA/HN

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