As mulheres foram consideradas, durante muito tempo, relativamente protegidas das doenças cardiovasculares.
No entanto, ao contrário do enfarte do miocárdio, que atinge sobretudo homens idosos ou com excesso de peso, a dissecção espontânea da artéria coronária (SCAD na sigla em inglês) é uma causa de ataque cardíaco do qual nove em cada 10 vítimas são mulheres entre os 40 e os 60 anos, aparentemente de boa saúde.
Neste caso, a parede interna de uma artéria rasga-se e separa-se da parede externa, permitindo que o sangue se espalhe no espaço entre as duas paredes e se forme um coágulo, que irá estreitar a passagem e bloquear a circulação sanguínea.
Ainda mal compreendida, esta doença continua a ser subdiagnosticada, o que dificulta o seu tratamento, embora possa representar até um terço dos casos de enfarte em mulheres com menos de 60 anos.
A equipa da geneticista Nabila Bouatia-Naji, do Centro de Investigação Cardiovascular – Paris (Inserm e Universidade Paris Cité), realizou um trabalho sobre a SCAD, coordenando uma meta-análise de oito estudos, que permitiu conhecer melhor as causas genéticas da doença.
Ao comparar os dados genéticos de mais de 1.900 doentes e de cerca de 9.300 pessoas saudáveis, os cientistas mostraram que as causas genéticas que definem o risco de SCAD são muito numerosas e estão distribuídas por todo o genoma dos pacientes.
Segundo os resultados, a má reabsorção do hematoma será uma causa de origem genética do enfarte, desconhecida até agora.
“Isto abre pistas para futuros tratamentos com medicamentos”, disse Nabila Bouatia-Naji à agência France Presse.
Uma melhor compreensão das predisposições genéticas poderá permitir identificar os doentes com maior risco, para melhorar a prevenção em mulheres, principalmente as jovens.
Os cientistas também demonstraram uma ligação forte entre a pressão alta e o risco de SCAD, confirmando que o colesterol elevado, o excesso de peso e a diabetes de tipo 2 não têm qualquer influência.
“A SCAD é uma doença pouco estudada, por ser atípica e maioritariamente feminina. O nosso trabalho é esclarecedor em relação às suas especificidades genéticas e biológicas, o que ajudará a tratar melhor os doentes no futuro”, sublinha a geneticista.
LUSA/HN
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