20% dos portugueses não tomariam um antidepressivo se lhes fosse prescrito

20 de Julho 2023

Se fossem aconselhados a ir a um psiquiatra, nove em cada dez portugueses iriam, mas 20% assumem que não tomariam um antidepressivo. São conclusões do inquérito “A visão dos portugueses sobre a depressão”.

Os inquiridos do Alentejo são unânimes (100%) em afirmar que iriam a este tipo de especialista sem qualquer tipo de constrangimento. Esta é também a região do país em que mais inquiridos (90,2%) assumem que tomariam um antidepressivo se este lhes fosse receitado, embora 80,5% considerem que este tipo de medicamentos causa dependência.

Considerando estes resultados, e na opinião de Susana Almeida, médica psiquiatra, “o facto de 9 em 10 pessoas afirmarem procurar a psiquiatria para a abordagem clínica da depressão, se a tal fossem aconselhadas, está em concordância com a significativa maioria dos inquiridos revelar ter adequada perceção da depressão como uma doença (86,2%), para a qual o tratamento é relevante (94,8%). A perceção da depressão como doença implica que seja tido em conta o seu maior risco, o risco de suicídio, um grave e sério problema de saúde pública.”

Além da posição dos portugueses sobre as consultas de psiquiatria, o estudo quis ainda perceber qual a perceção dos inquiridos em relação às terapêuticas para a depressão. São vários os efeitos indesejáveis que os portugueses associam à toma de antidepressivos e que, segundo o inquérito “A visão dos portugueses sobre a depressão”, mostram que a sonolência (70,5%), a dependência (64,9%), as alterações de peso (47,2%), a lentificação de raciocínio (44,9%) e as alterações na vida sexual (37,3%) continuam a ser os mais citados.

Para Maria Moreno, médica psiquiatra, estes resultados são reveladores de como em Portugal ainda são encarados os antidepressivos e da importância de salientarmos os seus benefícios no âmbito da saúde mental: “O medo da Psiquiatria persiste. Os antidepressivos ainda têm rótulos errados. (…) Os antidepressivos não dão dependência (não têm essa capacidade). A maioria dos antidepressivos que prescrevemos, hoje em dia, são ativadores pelo que a sonolência não é de todo um efeito secundário comum. Muitas pessoas entram no consultório e pedem ‘Não quero ficar zombie’, ‘Quero conseguir funcionar, preciso muito de trabalhar’. Costumo dizer que se fosse medicar alguém para ficar pior estaria a trabalhar muito mal.”

Por outro lado, e conforme sublinha a psiquiatra, “o objetivo é a pessoa retomar a sua funcionalidade e maximizar o seu potencial. Os efeitos secundários vão surgir às vezes, mas é para isso que servem as consultas de seguimento – para chegarmos a uma medicação que melhora os sintomas e não provoca outros menos bons. O medo dos antidepressivos faz com que muitas vezes as pessoas abandonem a medicação antes do tempo e, por causa disso, haja recorrências. Todos sabemos que quando tomamos um antibiótico, mesmo depois de melhorarmos, devemos continuar a fazer tudo certinho até terminar a caixa. Mas, por alguma razão, ainda não conseguimos aplicar a mesma regra aos antidepressivos. Há um tempo certo para iniciar a medicação e um tempo certo para a deixar.”

O mesmo inquérito revela também que a maioria dos portugueses (94,8%) defende que o tratamento para a depressão é de extrema importância, contudo, quando questionados se tomariam um antidepressivo se lhes fosse receitado, dois em cada 10 dá uma resposta negativa.

Por outro lado, os dados salientam ainda que são os mais jovens e o público feminino que afirmam ter um maior conhecimento sobre depressão. Mas, são também os mais jovens (18 aos 24 anos) os mais céticos em relação à toma de antidepressivos, cerca de 30% afirmam que não iam tomar antidepressivos se lhes fossem receitados e também são os que afirmam em maior número que este tipo de medicamento causa dependência.

O inquérito “A visão dos portugueses sobre a depressão” foi promovido pela Lundbeck Portugal e envolveu um total de 1.215 inquiridos, telefonicamente, entre os dias 27 de setembro e 3 de outubro de 2022. Todos os indivíduos inquiridos são maiores de idade e residem em território nacional. A margem de erro do estudo é de 2,81% para um intervalo de confiança de 95%.

PR/HN/RA

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