“Aqui os doentes estão a ser atendidos normalmente, talvez porque não está cheio como noutros dias”, disse à Lusa um segurança do serviço de consultas externas gerais do maior hospital moçambicano, que não se quis identificar.
Apontando para as cadeiras vazias na sala de espera, assegurou que a fila das consultas externas gerais costuma ter mais utentes do que o que se verifica desde domingo, quando a Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM) entrou em greve, juntando-se à Associação Médica de Moçambique (AMM), em paralisação desde 10 de julho.
Também a consulta de oftalmologia está hoje com muitos lugares vazios na sala de espera, em contraste com as filas que vão até ao passeio do recinto em dias sem greve, disse uma enfermeira estagiária que é obrigada a estar ali no âmbito do estágio escolar.
“Nota-se que muitos doentes estão a recear vir ao hospital por causa das greves e isso dá a sensação de que está tudo a correr normalmente”, enfatizou.
Cenário idêntico verifica-se nos serviços de estomatologia e otorrinolaringologia do HCM, que são normalmente muito procurados, mas que hoje se apresentam com um número reduzido de utentes.
“É a segunda vez que venho cá para extrair um dente e hoje apanhei muitos assentos vazios, o que não é normal neste hospital”, afirmou.
A principal farmácia daquela unidade está aberta, ao contrário das farmácias de outros hospitais, porque faltam profissionais de saúde para receitar medicamentos, constatou a Lusa.
Uma enfermeira afeta à Medicina Legal referiu que o HCM recebeu um reforço de médicos afetos à sede do Ministério da Saúde, médicos estagiários da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane (UEM) e enfermeiros do Instituto Superior de Ciências de Saúde (ISCISA).
“Todas essas instituições funcionam ao lado do HCM e os profissionais abrangidos só têm de percorrer uns metros para vir ao hospital”, disse.
O serviço de radiologia e os laboratórios daquele estabelecimento também estão com filas mais pequenas, mas a funcionar normalmente, de acordo com relatos de utentes contactados pela Lusa no local.
O Sistema Nacional de Saúde moçambicano enfrenta uma crise provocada por greves de funcionários, convocadas, primeiro, pela AMM (desde 10 de julho já vai no terceiro período consecutivo de 21 dias de paralisação), contra cortes salariais e falta de pagamento de horas extraordinárias, e depois pela APSUSM, que exige melhores condições de trabalho também para outros profissionais.
Na terça-feira, o Governo moçambicano anunciou a criação de um novo grupo de trabalho, liderado pelo primeiro-ministro, Adriano Maleiane, para as negociações com os profissionais de saúde em greve.
“No contexto da abertura ao diálogo que temos estado a fazer referência, não obstante os encontros realizados continuamente (…), o Governo destacou um novo grupo de trabalho chefiado pelo primeiro-ministro, para continuar a aprofundar as questões ainda pendentes neste processo”, declarou Impissa, porta-voz do Governo, após uma reunião do Conselho de Ministros em Maputo.
LUSA/HN
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