A organização, que reúne mais de duas centenas de entidades ligadas à saúde, entregou ao Governo e à Direção-Executiva do SNS uma agenda para a saúde para os próximos oito anos, em que apresenta “uma visão e um roteiro com vista ao financiamento e contratualização de cuidados de Saúde Baseada em Valor”.
“Portugal precisa urgentemente de desenvolver e implementar uma estratégia nacional para a Saúde Baseada em Valor, que altere o atual modelo de financiamento baseado em ato prestado, para um modelo que tenha em conta o resultado para o doente e os custos incorridos”, sublinha.
Em declarações à agência Lusa, o diretor executivo do Health Cluster Portugal (HCP), Joaquim Cunha, afirmou que Portugal está “a atravessar uma crise em termos de saúde”, como acontece noutros países.
“Se calhar é uma crise do sucesso” porque resulta em “boa parte” de a população estar a envelhecer e querer melhores cuidados, comentou Joaquim Cunha.
Nos próximos tempos, adiantou, Portugal confronta-se com “um grande desafio” que é ter de tratar mais pessoas e melhor, o que envolve tecnologia que “é cara” e, provavelmente, os recursos financeiros que existem “não vão poder aumentar nesta proporção”, uma vez que “não são infinitos”.
“Esta equação aparentemente impossível vai ter de ter resposta, o que passa sobretudo por trazermos mais tecnologia para uma área que nem sempre beneficiou dela que é a gestão. Isto é, gerirmos melhor o que existe e, nesse sentido, uma das abordagens passa pela aposta nesta proposta” de, até 2030, os cuidados prestados serem avaliados pelos doentes, através dos resultados na sua qualidade de vida.
Joaquim Cunha explicou que tem de ser “uma avaliação informada”, fazendo sentido que haja “uma espécie de equipa” entre o doente e o seu médico assistente.
Há certas situações em que o doente já pode escolher onde é tratado, mas o hospital escolhido não ganha com isso, ao contrário daquele em que o doente está indexado através da sua área de residência.
Com esta medida, disse, “há uma mudança drástica, uma mudança disruptiva no sentido de introduzir critérios de qualidade no processo”, o que já está a ser feito “um pouco por todo o mundo”, nos países que têm sistemas de saúde estruturados.
“Estamos todos perante um grande desafio, que é o de sabermos gerir melhor os recursos que temos à nossa disposição e temos de balancear esta avaliação com os custos. No final do dia, qual é o objetivo? É dar ao doente, ao cidadão, o melhor tratamento ao mais baixo custo”, defendeu, rematando que esse é “o equilíbrio que se procura”.
Partindo das condições essenciais para a implementação de modelos de Saúde Baseada em Valor e das dificuldades identificadas no terreno por diferentes parceiros, nos países em que esta abordagem está mais avançada, o HCP traçou uma agenda dos quatro pontos principais a implementar, até 2030, com vista à reforma da Saúde em Portugal.
O primeiro ponto refere-se ao “Ensino e formação para apoiar a transição para a Saúde Baseada em Valor”, o segundo “Transformação da cultura das organizações e do ‘mindset’ dos profissionais de saúde”, o terceiro “pagamentos baseados no valor” e o quarto a “criação de um ecossistema digital para recolha e análise de resultados e custos.
Para Joaquim Cunha, esta agenda é “uma excelente base de trabalho” para poder começar “aquela que será a maior reforma do setor”, aumentando a eficiência e criando instrumentos que permitirão perceber os resultados de cada estrutura hospitalar, sendo o maior benefício para os utentes que terão “um melhor, mais rápido e eficiente acesso ao melhor tratamento para o seu problema de saúde”.
LUSA/HN
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