Diretor da Urgência do Santa Maria diz que problema em Portugal é simultaneamente estrutural e cultural

6 de Outubro 2023

No dia em que o Santa Maria disse não conseguir receber doentes não urgentes de fora da área, o diretor de serviço conversou com o HealthNews sobre os problemas que conduzem os doentes não urgentes às urgências e, também, sobre o plano de contingência.

O Santa Maria não está a funcionar como habitualmente. Foi acionado o plano de contingência e comunicado que não serão atendidos doentes não urgentes de fora da área.

O diretor do Serviço de Urgência explica hoje aos nossos leitores: “Neste momento, não temos condições de estar a ver doentes de outras áreas de residência que não necessitem especificamente de Santa Maria. Todos os doentes que necessitem verdadeiramente de nós, que venham referenciados pelo INEM ou que sejam referenciados pelos outros hospitais porque precisam da nossa diferenciação técnica, nós vamos continuar a atender. Os outros doentes, que não são da nossa área e que não precisam da nossa diferenciação técnica, não temos, neste momento, condições de atender.”

A Urgência de João Gouveia tem tido uma afluência “maior que o habitual”, “uma afluência contínua precipitada em parte por encerramentos dos outros hospitais”, conta o responsável do Santa Maria. “Isso faz com que não tenhamos segurança nem a possibilidade de garantir um atendimento em qualidade aos doentes”, acrescenta.

Neste momento, “é essencial que só venham à Urgência os doentes que na verdade necessitam”. Aqueles que se encontram noutra situação “devem sempre procurar outras soluções que existem, alternativas ao serviço de urgência”, e, “sempre que possível, deslocar-se, no caso de uma urgência hospitalar, aos hospitais da área de residência”, indica João Gouveia, consciente de que outros hospitais “também estão em dificuldades”. “Não somos só nós”, ressalva.

Questionado sobre a grande afluência às urgências que caracteriza a saúde em Portugal, o especialista afirma: “Portugal é dos países que tem mais consumo em termos de serviço de urgência, ou seja, de idas à urgência por parte dos doentes. Isso quer dizer que há um problema estrutural-cultural. Ou seja, acho que há um problema estrutural porque as pessoas não têm, ou acham que não têm, os cuidados de saúde fora o serviço de urgência. Portanto, não têm acesso. Seja em termos de tempo, seja em termos de qualidade, acham que necessitam de ir ao serviço de urgência. Isso tem muito a ver, se calhar, com um problema estrutural do nosso Serviço Nacional de Saúde e, também, com um problema cultural de as pessoas não resolverem muitos dos problemas elas próprias ou não procurarem a solução em sítios que, na verdade, existem, estão abertos e podem resolver esses problemas, sem ser o serviço de urgência hospitalar.”

“Depois, em relação às horas, em Santa Maria nós não temos, por enquanto, problemas com a escusa das 150 horas, com exceção, neste momento, das equipas de cirurgia. Mas não quer dizer que não venhamos a ter. Agora, muitos destes encerramentos podem ser, exatamente, por outros hospitais já estarem em situação difícil e os doentes virem para cá na sequência disso”, esclarece João Gouveia.

HN/RA

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