Rafaela Miranda´ interna de MGF

A toxina botulínica: aliada da Medicina Moderna

10/10/2023

A toxina botulínica, ou onabotulinumtoxinA (BoNT/A), vulgarmente conhecida como “botox” (nome comercial), é um aliado anti-envelhecimento insubstituível. É uma substância purificada, derivada de uma bactéria, que bloqueia sinais musculares. Patofisiologicamente a toxina bloqueia a libertação de acetilcolina na junção neuromuscular e, consequentemente, bloqueia os impulsos nervosos, impossibilitando a contração muscular. Desta forma, paralisa temporariamente os músculos que causam as rugas de expressão.

Na dermocosmética, essa injeção é usada para reduzir ou eliminar rugas da testa, por diminuição da contração dos músculos frontalis, procerus e corrugador dos supercílios, pregas peri-oculares, por diminuição da contração das fibras externas do músculo orbicular dos olhos e “papos” no pescoço, por diminuição da contração das fibras musculares do músculo platisma. Pode ainda ser usada, quando injetada em pontos específicos da face, para tratar o sorriso gengival ou o “sorriso triste”.

Em termos de duração de ação, depende do organismo de cada indivíduo e é influenciada pelos hábitos de vida, como por exemplo a prática de exercício físico, mas, geralmente, tem uma duração de ação entre 4 a 6 meses.

A toxina botulínica foi aprovada para uso estético em 2002 pela FDA (Food and Drug Administration – que é a entidade americana que regula a segurança dos medicamentos e fármacos). A sua aplicação é simples e praticamente indolor mas exige um conhecimento aprofundado da anatomia humana e só deve ser realizada por um médico com formação na área.

Ao contrário do que vulgarmente se pensa, a toxina botulínica tem várias aplicações em medicina, não meramente a estética. Estudos têm demonstrado a sua eficácia no alívio de enxaquecas, sudorese excessiva e espasmos musculares no pescoço e nos olhos e até, embora off-label, noutros locais do corpo humano.

Quando injetada em pontos específicos nos músculos frontal e temporal (até por vezes no occipital depende da localização da dor) ajudam a diminuir as crises de enxaqueca. Em outubro de 2010, a FDA aprovou o seu uso como terapêutica profilática da enxaqueca crónica. A onabotulinumtoxinA reduz o número de dias com enxaqueca, a gravidade das crises e o consumo global de analgésicos, melhorando a qualidade de vida dos doentes

O bruxismo (“ranger de dentes”) deve-se à hipertrofia de um dos músculos envolvidos na musculação, o músculo masséter. O Bruxismo é caracterizado pela atividade muscular mastigatória anormal que provoca um transtorno involuntário e inconsciente de movimento, caracterizado pelo excessivo apertamento e/ou ranger dos dentes, que ocorre, não só, mas predominantemente no período noturno e que agrava com períodos de stress e ansiedade. A toxina pode ser injetada no terço inferior da bochecha, por cima do músculo de modo a diminuir a sua força de contração e, consequentemente, o bruxismo.

Quando injetada a nível da região axilar, palmas das mãos ou plantas dos pés, diminui a sudorese, ao enfraquecer as glândulas responsáveis pela produção do suor.

Em neurologia, pode ser usada para tratar espasmos musculares ou distonias que se caraterizam por uma hiperatividade de um grupo muscular.
Em urologia pode ser usada para tratar bexiga hiperativa e casos selecionados de incontinência urinária.

Em termos de efeitos adversos, estes são mínimos, temporários e tipicamente relacionados com a técnica de injeção errada ou erro ao nível do local de injeção. Podem ocorrer hematomas, dores de cabeça e, se injetado inadequadamente ao nível da região superciliar, queda parcial de uma pálpebra. Todos os efeitos são ligeiros, reversíveis e autolimitados.

É importante realçar que, apesar dos seus inúmeros benefícios e aplicabilidades, o uso da toxina botulínica não está indicado para todos os pacientes. É, inclusive, contraindicado nos pacientes com sensibilidade à mesma, e deve ser usado com precaução nos indivíduos com condições neuromusculares, nomeadamente a miastenia gravis, assim como nos pacientes com alergia ao ovo e albumina. O uso de medicamentos como antibióticos e anti-inflamatórios também é um importante fator a ter em conta no momento da realização do procedimento. A sua aplicação deve ser previamente avaliada e sempre realizada por um médico.

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