Em entrevista à agência Lusa, Luís Filipe Barreira, que sucede a Ana Rita Cavaco, disse que “continua a verificar-se a inexistência de um número adequado de enfermeiros no país”, algo que a OE “não pode aceitar” porque “está em risco a vida das pessoas”.
“Portugal deve aproximar-se da média dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico] e está, no número de enfermeiros, ainda muito abaixo. Hoje estamos ainda a assistir à fuga de muitos enfermeiros porque o país não lhes dá condições e a enfermeiros que tudo deram na pandemia da covid-19 e hoje estão a ser despedidos”, disse Luís Filipe Barreira.
Eleito na quarta-feira à noite, Luís Filipe Barreira, até aqui vice-presidente da OE, vai tomar posse a 20 de dezembro para um mandato que tem início a 01 de janeiro de 2024.
“Acredito que terei um mandato com muito trabalho pela frente. Estamos empenhados em construir consensos com todos e em contribuir para assegurar a centralidade do papel dos enfermeiros no sistema de saúde”, disse o novo bastonário.
À Lusa, Luís Filipe Barreira recordou os 10 compromissos da sua candidatura, pontos que são eixos estratégicos para o mandato 2024/2027, tendo destacado os desafios do sistema de saúde ou a necessidade de dar maior autonomia às instituições.
“Está à vista de todos os portugueses que são necessárias mudanças profundas no sistema de saúde. Temos de desenvolver um novo modelo assistencial mais baseado na comunidade e defender a centralidade dos enfermeiros nos cuidados de saúde primários”, defendeu.
Luís Filipe Barreira avançou que “deve estar para breve” a publicação do despacho que cria o grupo de trabalho para implementar o internato da especialidade, uma promessa, lembrou, do atual ministro da Saúde, Manuel Pizarro.
E, dentro deste tópico, o novo bastonário frisou que “é importante incrementar o desenvolvimento e a valorização profissional”, bem como o “reforço da oferta formativa para os enfermeiros”.
Luís Filipe Barreira quer que seja dada à profissão “dignidade, respeito e reconhecimento”, nomeadamente através da remuneração, bem como com a redução da idade da reforma e através do reconhecimento do enfermeiro como profissão de risco e com desgaste rápido.
“Hoje, os enfermeiros confrontam-se com uma remuneração pouco digna. O vencimento dos enfermeiros está cada vez mais próximo do salário mínimo nacional. Os enfermeiros têm uma perda de poder de compra muito grande (…). Não é uma competência da Ordem negociar, mas teremos e vamos influenciar junto do Ministério da Saúde e do próximo ministro da Saúde”, referiu.
Luís Filipe Barreira foi eleito bastonário para o mandato 2024/2027 com 71% dos votos, segundo os dados provisórios divulgados pelo organismo que revelam uma abstenção próxima dos 80%.
Confrontado com estes números, o novo bastonário referiu que “a abstenção é um problema do país”, mas garantiu que, ainda assim, está contente com a adesão dos enfermeiros.
“Se compararmos com os resultados de 2015, quando Ana Rita Cavaco se candidatou pela primeira vez e estavam a concorrer seis listas, votaram 15.000 enfermeiros. Neste momento, com uma lista única [à liderança nacional], foram 17.300 os votantes”, descreveu.
A eleições candidataram-se duas listas: a Lista A candidatou-se à liderança Nacional e a todas as Secções Regionais, enquanto a Lista B apresentou candidatura apenas à secção regional da Madeira.
A Lista B foi a mais votada nos órgãos regionais da Madeira, com 51% dos votos.
A eleição decorreu eletronicamente, com o acesso ao voto aberto desde as 00:00 de segunda-feira, tendo encerrado às 20:00 de quarta-feira, hora de Portugal continental.
A corrida à sucessão de Ana Rita Cavaco chegou a ter mais um nome, o do especialista em saúde infantil e pediátrica Mário André Macedo que anunciou a candidatura, a 22 de julho, em Leiria, mas que viu a lista ser excluída com o argumento de que a entrega de documentos decorreu fora do prazo.
Ana Rita Cavaco, bastonária cessante, estava impedida de concorrer por limitação de mandatos, somando sete anos de liderança.
De acordo com o Estatutos da OE, criada em 1998, os titulares e membros dos órgãos da ordem são eleitos para mandatos com a duração de quatro anos e não podem assumir mais de dois mandatos consecutivos.
LUSA/HN
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