Ordem dos Médicos lamentou condução “unilateral e irresponsável” de acesso à especialidade

20 de Novembro 2023

A Ordem dos Médicos lamentou esta segunda-feira que o Governo tenha conduzido este ano de forma “unilateral e irresponsável” o acesso à especialidade médica, alertando que pode pôr em causa a qualidade da formação e da prestação de cuidados.

Em comunicado, o Conselho Nacional do Médico Interno (CNMI) da Ordem dos Médicos (OM) lembra que, historicamente, as competências técnicas delegadas na OM – de monitorização e atribuição de capacidades formativas às instituições de saúde – “têm sido o garante da qualidade da formação dos médicos mais jovens, bem como da segurança de doentes e profissionais de saúde”.

Lembra que este ano, pela primeira vez, para fixar médicos em zonas do país mais carenciadas, o Ministério da Saúde criou vagas com planos especiais e individualizados de formação, cujos moldes “deveriam ser alvo de preparação conjunta entre a tutela, as instituições e a Ordem dos Médicos”.

“Foram ainda criadas vagas protocoladas entre o Hospital Central do Funchal e instituições do continente, independentemente da existência de capacidade formativa”, acrescenta.

Lamentando o modo como foi preparado e lançado pela tutela o procedimento concursal de ingresso no Internato Médico 2023, nomeadamente no que diz respeito ao mapa de vagas de especialidade, o CNMI sublinha que a falta de comunicação da tutela com as instituições de formação e com a OM resultou, até ao momento, na ausência de definição e divulgação dos planos formativos destas vagas.

Considera ainda “inaceitável” que os candidatos não tenham tido acesso a informações essenciais referentes ao local, tempo e programa formativo destas vagas e lembra que tal situação pode vir a colocar estes candidatos em posições de incerteza e de injustiça perante os seus pares.

A OM diz compreender as atuais circunstâncias de dificuldades na retenção de médicos em determinadas regiões, instituições e serviços do país, mas frisa que a solução “não pode passar por forçar a colocação de médicos internos em vagas de especialidade que não garantam os critérios mínimos de qualidade de formação”.

Tal situação – insiste – perpetua a “baixa satisfação formativa, níveis elevados de ‘burnout’ e rescisões de contrato por parte de médicos internos”.

Recorda igualmente o fenómeno crescente de vagas de especialidade não escolhidas – 50 no concurso de 2021 e 161 no concurso de 2022 -, considerando que o simples aumento do mapa de vagas não se traduz no correspondente crescimento do numero de médicos especialistas no Serviço Nacional de Saúde.

O CNMI exorta ainda a tutela a investigar “em maior detalhe” as causas do desinteresse nas escolhas de especialidade nos últimos anos e aplicar “medidas robustas” e de longo prazo para inverter esta tendência.

LUSA/HN

0 Comments

Submit a Comment

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *

ÚLTIMAS

Promessas por cumprir: continua a falta serviços de reumatologia no SNS

“É urgente que sejam cumpridas as promessas já feitas de criar Serviços de Reumatologia em todos os hospitais do Serviço Nacional de Saúde” e “concretizar a implementação da Rede de Reumatologia no seu todo”. O alerta foi dado pela presidente da Associação Nacional de Artrite Reumatoide (A.N.D.A.R.) Arsisete Saraiva, na sessão de abertura das XXV Jornadas Científicas da ANDAR que decorreram recentemente em Lisboa.

Consignação do IRS a favor da LPCC tem impacto significativo na luta contra o cancro

A Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC) está a reforçar o apelo à consignação de 1% do IRS, através da campanha “A brincar, a brincar, pode ajudar a sério”, protagonizada pelo humorista e embaixador da instituição, Ricardo Araújo Pereira. Em 2024, o valor total consignado pelos contribuintes teve um impacto significativo no apoio prestado a doentes oncológicos e na luta contra o cancro em diversas áreas, representando cerca de 20% do orçamento da LPCC.

IQVIA e EMA unem forças para combater escassez de medicamentos na Europa

A IQVIA, um dos principais fornecedores globais de serviços de investigação clínica e inteligência em saúde, anunciou a assinatura de um contrato com a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) para fornecer acesso às suas bases de dados proprietárias de consumo de medicamentos. 

SMZS assina acordo com SCML que prevê aumentos de 7,5%

O Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS) assinou um acordo de empresa com a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) que aplica um aumento salarial de 7,5% para os médicos e aprofunda a equiparação com a carreira médica no SNS.

“O que está a destruir as equipas não aparece nos relatórios (mas devia)”

André Marques
Estudante do 2º ano do Curso de Especialização em Administração Hospitalar da ENSP NOVA; Vogal do Empreendedorismo e Parcerias da Associação de Estudantes da ENSP NOVA (AEENSP-NOVA); Mestre em Enfermagem Médico-cirúrgica; Enfermeiro especialista em Enfermagem Perioperatória na ULSEDV.

MAIS LIDAS

Share This
Verified by MonsterInsights